Estudo

Modificações no cérebro explicam recaídas no vício 

Bloqueadores foram injetados em cobaias e reduziram o desejo pela droga


Publicado em 20 de agosto de 2016 | 03:00
 
 
 
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São Paulo. O uso frequente de cocaína provoca alterações na forma como alguns dos genes são expressos, resultando em modificações na estrutura e na conectividade do cérebro. Essas mudanças podem levar a intensos desejos pela droga e, em partes, isso explica como tantos dependentes tendem a sofrer recaídas, mesmo após longos períodos de sobriedade.

Até o momento, os mecanismos subjacentes associados a essas alterações genéticas ainda não tinham sido completamente compreendidos. Porém, em um estudo realizado recentemente, pesquisadores conseguiram identificar uma proteína que parece mediar esse processo.

Trabalhos anteriores já mostravam que um fator de transcrição chamado SMAD3 aumenta em ratos dependentes de cocaína após uma semana de abstinência. Os fatores de transcrição controlam o que será ou não expresso nos genes por meio da interação com proteínas que remodelam a cromatina – o material que compõe os cromossomos.

O SMAD3, em particular, aumenta a expressão de determinados genes controladores da formação de ligações cerebrais entre neurônios (sinapses), em uma região do cérebro chamada de núcleo accumbens (NAc).

O NAc faz parte do centro de recompensa do cérebro, e uma vez que ocorrem alterações estruturais nessa região, há a possibilidade de impactos importantes sobre o sistema de recompensa, o que parece explicar os motivos pelos quais os ratos continuavam a usar a droga, mesmo quando não estavam mais em abstinência.

Para saber mais sobre como o SMAD3 aumenta a expressão de certos genes relacionados ao uso da cocaína, a equipe usou técnicas de imunoprecipitação de cromatina para observar com quais proteínas o fator de transcrição interage nos ratos.

Os pesquisadores descobriram que uma proteína ativadora de transcrição, a BRG1, teve sua concentração aumentada em comparação ao período em que o vício começou.

As interações entre a BRG1 e o SMAD3 também foram amplificadas. A BRG1 se liga a regiões promotoras de determinados genes, permitindo sua expressão por SMAD3.

Uma vez que muitos desses genes são responsáveis pela criação de sinapses no NAc, parece provável que essa interação, parcialmente, seja responsável pelos anseios de cocaína experimentados pelos ratos do estudo.

Para confirmar essa hipótese, a equipe injetou produtos bloqueadores da BRG1 nos roedores, eliminando o desejo pela droga. Então, eles infectaram os animais com um vírus que levou à criação dessa mesma proteína, mas em excesso, descobrindo que isso intensificava a necessidade de cocaína.

Além de melhorar nossa compreensão sobre como a toxicodependência altera o cérebro, a pesquisa, publicada na “Biological Psychiatry”, também destaca uma potencial via para a criação de novos tratamentos.

Mulher atribui cura a oração

Uma mulher de 31 anos afirma que fazer orações diárias para a cantora Amy Winehouse a ajudou a superar o vício em crack e cocaína. A britânica Natalie Yndia West, que também é cantora, diz ter chegado a gastar mais de 28 mil libras (cerca de R$ 114 mil) ao ano com cocaína.

Viciada, Natalie acabou dando um tempo na carreira musical para conseguir manter o vício. Mas tudo mudou depois que uma pessoa disse que ela se parecia fisicamente com Amy – que morreu em 2011.

A partir daí, a britânica afirma ter decidido mudar de vida e ter começado a fazer orações para o espírito da cantora. “As pessoas vão pensar que sou louca, mas se não fosse por Amy eu talvez não estivesse aqui hoje”, ressalta.

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