Menos é mais

Muito cuidado pode estressar o seu cachorro

Na ânsia de agradar, tutores de pets podem errar a mão nos mimos e nos carinhos e causar aborrecimento e incômodo aos animais domésticos


Publicado em 20 de janeiro de 2019 | 10:58
 
 
 
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Quando comprou confortáveis almofadas para seus cães, a intenção da protetora de animais Janine Horta era das melhores: oferecer um lugar agradável e quentinho para os bichinhos descansarem. E os pets gostaram bastante do agrado, mas não do jeito que ela imaginava. Nem 24 horas depois, o estofo do travesseiro estava espalhado pelo quintal, e a bonita estampa já não existia. “Eles adoraram destruir os presentes”, lembra, sem guardar ressentimento. Janine, afinal, compreendeu que, “o que a gente pensa que é conforto, para eles é brincadeira”.

A regra, pois, é válida para vários outros mimos que os animais domésticos ganham de seus tutores, mas que, na verdade, eles odeiam. “As pessoas têm costume de colocar roupinhas em animais. No dia a dia, isso incomoda muito, pois eles não conseguem trocar calor com o ambiente”, expõe a veterinária Natália dos Santos Ricardo. O que não significa que vestir os bichinhos seja sempre desagradável. “No frio, é bom agasalhar cãezinhos de pequeno porte e pouca pelagem, já que perdem muita temperatura”, contemporiza ela.

Não bastassem indesejadas vestimentas, os mais peludos costumam sofrer com outros adereços, como prendedores de cabelo. “Aquilo não é nada confortável e só é bonito visualmente, mas para os animais é muito estressante – principalmente se ficar puxando muito seus pelos”, diz.

Atenção também para a frequência dos banhos: se cuidamos diariamente de nossa higiene pessoal, os cachorros, em geral, podem passar 15 dias sem visitar o salão de beleza. “A menos que esteja tratando alguma doença, como uma dermatite, não é recomendável dar banhos de semana em semana ou de cinco em cinco dias. Além de ser desagradável para o animal, esse excesso pode diminuir a imunidade deles”, avalia Natália.

Banho tomado, o recado é: nada de perfumes fortes. Loções com cheiro forte impregnados à pele dos cães são motivo de estresse e prejudicam a sensibilidade deles, observa a também veterinária Joyce Pires. Dica que, aliás, se repete para quando se lava a casinha ou o espaço onde o pet costuma repousar – neste caso, nada de usar produtos muito perfumados. “O que é pouco para nós, costuma ser muito para eles”, sinaliza Joyce.

Como todo tutor já notou, cães têm grande sensibilidade auditiva. Fogos de artifício e rojões são um pesadelo para os animais. Mas, mesmo sabendo disso, proprietários podem, inocentemente, comprar brinquedo que emita som e pareça inofensivo, mas que vai deixar o animal assustado. Quando Janine encontra um tutor para cachorro por ela resgatado, costuma alertar sobre isso. “Esses ruídos podem até provocar medo neles”, pontua

Medida certa

E se já está claro que é preciso se policiar para que o zelo com os pets não se torne um transtorno para eles, o excesso de carinho – à la Felícia – deve necessariamente ser evitado. As veterinárias ouvidas pela reportagem são taxativas nesse aspecto. “Beijos e abraços, espremer os animais... Eles não se sentem confortáveis e ficam estressados com tanto apego”, diz Natália.

O segredo, no fim das contas, é seguir os passos de Janine. Hoje, ela costuma colocar paninhos no chão para os seus cães dormirem. Quando está quente, eles mesmos retiram. E ela vai se entendendo com os hábitos dos animais: “Vejo que, muitas vezes, há uma tentativa de humanizar demais, enfeitar demais, mas eles odeiam. Para os pets, o conforto costuma ser só o básico, como ter um lugar para dormir, água sempre limpa, lugar para brincar...”

Agrado pode causar até morte

Segunda-feira costuma ser o dia mais cheio na agenda das clínicas veterinárias. O motivo? Na ânsia de agradar aos seus cães, muitos donos acabam levando eles ao adoecimento.

Fugindo de sua dieta tradicional, alguns tutores presenteiam seus animais com gordos pedaços de carne ou generosos ossos de galinha. Com isso, os pets desenvolvem problemas como pancreatite, por conta do excesso de gordura ingerida, ou são perfurados por lascas dos ossos que roem e ingerem – duas situações que podem levar o animal a óbito, como informa a estudante de medicina veterinária Vanessa Vaz, que é tutora de cães há mais de 20 anos. “Se domingo é o dia do churrasco ou da galinhada, a segunda vai ser o dia do problema”, comenta.

Outro agrado que põe em risco a saúde do animal são brinquedos menores que a boca deles. “Se o brinquedo for pequeno, melhor evitar”. E esta história de deixar o cão passear solto no carro: nem pensar! Deixar o cão com a cabeça de fora da janela do automóvel pode soar como uma ode à liberdade e até mesmo render boas fotos, mas também gera sofrimento. “Esse tipo de exposição ao vento traz problemas auditivos e pode entupir as glândulas lacrimais do animal”, avisa Vanessa.

Vale dizer: o motorista que levar um animal solto dentro do veículo está sujeito a multa, pois comete infração média. Caso o pet esteja na parte externa – como caçamba de uma caminhonete ou com a cabeça de fora –, a infração é considerada grave e, além da multa, o veículo pode ficar retido como medida administrativa.

Cuidado também ao estimular cães a se esforçarem demais para saltar arcos ou mesmo subir em móveis altos. A acrobacia festejada pelos donos pode causar até mesmo a morte do bichinho. “Chihuahua ou pinscher, por exemplo, podem fraturar ossos, quadril e até a mandíbula tentando subir ou descer de lugares que são, para eles, muito altos”, diz Vanessa.

Algumas dicas

Calor. Veterinários sugerem evitar sol forte ao passear com cães: o chão quente pode causar queimaduras nas patas.

Contato. Sapatos, em geral, não são indicados, pois os pets devem ter contato com o chão – até para lixarem as unhas.

Sujeira. Se as patas chegam sujas, basta lavá-las com água e sabonete neutro.

Rotina. Os especialistas em cuidado com os pets recomendam horário rotineiros, seja para alimentação ou <CW-40>para passear com eles.

Na hora. Punições não são boa ideia na educação canina. Eles aprendem melhor se forem corrigidos no momento em que fizerem algo de errado – inclusive, demonstrando o que foi feito.

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