Não fosse a irrefutável questão fisiológica – o envelhecimento natural dos óvulos – , Andréa Guimarães, 41, não titubearia em aconselhar outras mulheres a serem mães na maturidade. “Nesta fase, você já desenvolveu outro olhar para a vida, é outra cabeça”, garante. A jornalista fala de cátedra: aos 28 anos, teve seu primogênito. Dois anos depois, a primeira menina. Ano passado, deu à luz Marcos José, primeiro rebento de seu segundo casamento, hoje com 9 meses. A gravidez, vale dizer, transcorreu tranquila. “Tudo redondinho, dentro do script. Não tive pressão alta, nada”, descreve.
Embora no caso dela a gravidez após os 40 não tenha sido traçada, lá atrás, como um projeto de vida – apesar de ter sido sim, planejada –, Andrea integra um contingente que aumenta gradualmente mundo afora e que ganha holofotes com exemplos como o da apresentadora Fernanda Lima, que no último dia 4 anunciou nova gravidez. Casada com o ator Rodrigo Hilbert e mãe de gêmeos (João e Francisco, 10), a também atriz, de 41 anos, já exibe, orgulhosa, a barriguinha. Outra famosa que está para dar à luz é Ticiane Pinheiro, 42.
As pesquisas ratificam a tendência. Levantamento da “Folha de S.Paulo” sobre dados do Ministério da Saúde aponta que, de 1998 a 2017, o número de mulheres que deram à luz entre os 40 e 44 anos cresceu 50%. Somadas as faixas acima dos 35, a alta foi de 65%. Fernanda Lima optou por não revelar o tempo de gestação ou se a gravidez foi natural ou por inseminação – caminho seguido pela cantora Ivete Sangalo (em 2018, aos 45, ela foi mãe de gêmeas, e revelou ter feito congelamento de óvulos).
Especialista em reprodução assistida na clínica Origen, o médico Selmo Geber lembra que mulheres que congelam óvulos antes dos 35 anos mantêm a chance de gravidez dessa idade mesmo usando os óvulos congelados após os 40 anos.
No caso de Andréa, porém, a gravidez se deu de forma natural. “Interrompi a pílula e logo engravidei – fiquei até surpresa, pois tenho amigas mais novas que pararam de tomar e só engravidaram meses depois”, rememora ela, que se enquadra em um dos perfis que Selmo lista como os mais frequentes na gravidez após os 40: mulheres que adiaram a maternidade por razões profissionais, que adentraram um segundo casamento ou que encontraram suas caras-metades nessa faixa.
Esse é o caso da gestora de relacionamentos e negócios Adriana Muls, 47. A vontade de ser mãe sempre habitou o rol de desejos da moça, que, porém, descartava opções como uma produção independente. Aos 40, conheceu seu marido. “Ele já tinha uma filha, hoje com 22 anos, mas topou ser pai outra vez”, conta. As três primeiras gestações, todas naturais, culminaram em abortos. “Todos antes dos três meses, típicos de malformação. O médico que me acompanhava, porém, pontuou que eu estava engravidando – portanto, frisou que, se eu acalentava essa vontade (de ser mãe), deveria seguir em frente”, conta.
Diante de um atraso no ciclo menstrual, Adriana relutou em fazer o exame de gravidez, pensando ser sinal do climatério. “O que, ao fim, foi até positivo, pois esse período mais aflitivo (os três meses iniciais da gravidez, considerados os mais delicados) passou mais rápido. Eu pedia ao universo apenas para não passar por mais um aborto, ou seja, entendia que, se não fosse para ser mãe nessa vida, ia aceitar”, revela. Mas veio a fofa Mariana, hoje com um ano e meio. “Na gravidez, tive a sorte de ser acompanhada pela minha prima, que é médica e se tornou madrinha da Mariana, ou seja, tive um carinho extra. E desde o início me foi dito que a minha gravidez era, sim, atípica, devido à idade, mas não de risco. O importante era fazer um pré-natal bem feito. Uma opção que fiz foi a de não dar ouvidos ao que os outros diziam – ou melhor, ouvir apenas os que elegi como fontes de informação”, narra.
Como no caso de Andréa, a gravidez de Adriana foi tranquila. “Nem enjoo tive, apenas menos vontade de comer, o que foi bom”. Instada a falar sobre a experiência de ser mãe nessa faixa etária, ela compartilha: “Virar mãe é um pouco aquele chavão: só depois de ser é que a gente tem a dimensão. É maravilhoso, mas, ao mesmo tempo, complexo. Queria amamentar, mas tive uma mastite violenta e recorri ao banco de leite do (hospital) Odete Valadares – com o qual, aliás, me encantei. Quanto à idade, o diferencial é a maturidade mesmo. A gente lida com situações adversas de modo mais sereno, equilibrado, o que é fruto da sabedoria, da vivência”, pontua.
Especialista em gravidez de alto risco, a ginecologista e obstetra Rita de Cássia Amaral lembra que, no passado, uma gravidez aos 30 anos já suscitava o temor de complicações. Nos dias atuais, os avanços da medicina dão alento às mulheres que postergam a gravidez por razões profissionais ou pessoais. Mesmo assim, a médica frisa que o ideal é que a mulher acima dos 40 procure acompanhamento antes de engravidar, para prevenir quadros como hipertensão ou diabetes gestacional. “A gravidez por si, independentemente de idade, já gera uma sobrecarga cardíaca e altera o metabolismo da glicose”, lembra. “É preciso checar se a mulher está acima do peso, seu histórico familiar, se há tendência a trombose etc.”, completa ela, que fez o acompanhamento da gravidez da procuradora Norma Oliveira, 64, que teve sua primeira filha, Ana Letícia, no ano passado, por inseminação artificial.
Psicóloga especialista em puerpério e construção familiar, Daniela Bittar lembra que, nos tempos atuais, a maternidade não é mais, como no passado, vista como a função primeira de uma mulher, que, portanto, pode encontrar outras formas de realização, como a profissional. “E, devido às exigências do mercado de trabalho, não são poucas as mulheres que adiam mais e mais a maternidade, pois sabemos as cobranças que recaem”, explica.
Daniela, que, coincidentemente foi mãe aos 40 (no caso, pela segunda vez), pondera que, hoje, a mulher nessa faixa etária está a pleno vapor. “Tanto que existe a frase de que os 40 são os novos 30”. No entanto, ela pontua que, fisiologicamente, o corpo da mulher passa por mudanças. “O número de óvulos, por exemplo, vai diminuir – daí a opção de algumas por congelar –, e muitas vão ter mais dificuldades em engravidar... O melhor, portanto, é que as que desejam adiar a maternidade se informem e tenham consciência dos riscos, inclusive para bancá-los. E conversar com o ginecologista para traçar um planejamento”, aconselha.
Ginecologista membro da Associação dos Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), Ana Cristina Corrêa vê a gestante acima dos 40 anos como uma paciente que precisa ser acompanhada com mais acuidade. “Em um certo ponto, podemos dizer que a mídia direcionada à indústria do espetáculo (referindo-se a revistas de celebridades) de certa forma presta um desserviço ao mostrar apenas o lado glamouroso (de famosas que engravidam mais tarde), pois, na maioria das vezes, fica parecendo que foi fácil. E as pessoas não ficam sabendo quanto tempo demorou, se precisou fazer um tratamento, o que não é, de modo algum, tranquilo – em alguns casos, pode ser doloroso, inclusive psicologicamente. Não bastasse, no caso do tratamento, ainda há a chance de uma gravidez múltipla, o que exige cuidados maiores”, lista.
Ana Cristina lembra que atrizes como Dira Paes (que teve o segundo filho aos 45 anos) e Carolina Ferraz (segunda filha aos 46) recorreram à inseminação artificial. À época, aliás, Carolina Ferraz disse ter ficado grávida na segunda tentativa após quatro meses de tratamento. “Depois, passei mais três meses tomando hormônios, fiquei inchada. Acho que muitas mulheres devem passar por isso e talvez não saibam lidar, como eu também continuo sem saber. Tive uma depressão chatíssima”, disse, na ocasião, à revista “Contigo”. “A verdade é que, aos 40, a fertilidade já diminuiu muito. Como médica, não posso decidir a hora que a paciente vai ter filho, mas, sendo mais tarde, é bom que esteja bem-informada para um pré-natal correto”, conclui Ana.