Uma pesquisa desenvolvida por pesquisadores cearenses, pernambucanos e goianos promete indicar uma alternativa no tratamento de lesões de queimaduras: um curativo natural feito de pele de tilápia, peixe de água doce comum no país.
O estudo está em fase de testes em humanos, mas já apresenta bons resultados, garante o médico e diretor do Núcleo de Pesquisas e Desenvolvimento de Medicamentos da Universidade Federal do Ceará (UFC) Odorico de Moraes. “Na fase atual da pesquisa, (as peles) já foram testadas em 54 pacientes apresentando queimaduras. Eles reagiram bem ao curativo”, conta.
O coordenador explica que o uso desse tipo de material como curativos para queimaduras é algo usual no mundo. Alguns países utilizam até pele humana, de suínos e de aves. É a primeira vez, porém, que uma pesquisa usa pele de peixe.
“Como a pele de tilápia é um produto descartado da cadeia de produção, resolvemos iniciar a pesquisa em cima dela e percebemos as semelhanças do material com a pele humana, como grau de umidade, alta qualidade de colágeno e resistência”, explica.
Segundo o pesquisador, as vantagens de um curativo natural são o baixo risco de infecção, a facilidade do tratamento e a baixa perda de líquido na cicatrização. “Na rede pública do Brasil, o tratamento (de queimaduras) é feito com uma pomada ou creme à base de sulfadiazina de prata. Essa pomada só age por 24 horas. Após esse período, deve ser removida, causando dor ao paciente e dificultando a cicatrização. Com a pele de tilápia, ou outro produto natural, a aderência à pele humana é maior, não necessitando uma troca de curativo”, afirma.
Baixo custo. Uma vantagem da pele de tilápia é o baixo custo que o processo exige. “É um produto mais barato que as outras opções de curativos naturais e com um processo de esterilização simples, podendo ser oferecido com facilidade pelo SUS”, comenta.
Não se sabe se há substância analgésicas ou antibióticas no material, mas os pesquisadores estão em busca dessas respostas. “Parece que há alguma substância na pele da tilápia que alivia a dor, pois os relatos dos pacientes são de um grande alívio com o curativo, mas estamos ainda desenvolvendo a pesquisa”, ressalta.
O curativo foi testado em pacientes com queimaduras de segundo grau superficiais, mas, segundo Moraes, nas próximas etapas, será testado em pacientes com queimaduras de segundo grau profundas, seguidas de casos de terceiro grau. Resta ainda a realização de testes em crianças, que estão entre as maiores vítimas de queimaduras.
Anvisa. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a pesquisa em dezembro de 2015, após ter sido comprovado que a pele da tilápia não causa reações alérgicas.
Processo de preparo do couro
Cultivo. Os peixes usados pelos pesquisadores são cultivados em um açude em Jaguaribara (CE), a 250 km de Fortaleza.
Tecidos. De cada peixe é possível extrair 400 cm² de pele. O material removido é lavado para a retirada de resquícios de tecidos musculares.
Limpeza. A pele da tilápia é colocada em banho-maria dentro de uma solução para a descontaminação.
Armazenamento. O couro é armazenado em envelopes esterilizados. Ele passa por um processo em que é irradiado por cobalto 60, que libera ondas eletromagnéticas capazes de exterminar organismos vivos.
Testes. Na fase atual da pesquisa, a pele de tilápia já foi testada em 54 pacientes com queimaduras. A reação deles foi satisfatória, segundo os pesquisadores.