Comportamento

Pessoas bebem mais, mas acidentes caem com o uso de aplicativos

Estudo mostrou uso excessivo de álcool e aumento de 9% em seu consumo; pesquisa realizada nos EUA tem dados que podem espelhar o que se vê no Brasil


Publicado em 31 de janeiro de 2020 | 06:00
 
 
 
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Depois da chegada dos aplicativos de transporte (Uber, 99 e Cabify), as pessoas passaram a consumir mais bebidas alcoólicas em bares, mas o número de acidentes de trânsito e de mortes diminuiu, segundo economistas que se debruçaram sobre dados oficiais para entender o impacto desse nicho de apps na vida das pessoas e nas cidades.

Os pesquisadores norte-americanos Jacob Burgdorf e Conor Lennon, da Universidade de Louisville, e Keith Teltser, da Universidade Estadual da Georgia, nos Estados Unidos, estudaram os dados do Sistema de Vigilância de Fatores de Riscos Comportamentais (BRFSS, na sigla em inglês), dos CDCs (Centros de Controles de Doenças), que congrega anualmente informações de mais de 400 mil entrevistas com pessoas acima de 18 anos que vivem no país.

A conclusão deles é que, após a chegada do Uber, as pessoas passaram a beber 3,1% a mais de drinques por dia, 2,8% mais vezes ao mês e 4,9% a mais de bebidas alcoólicas por ocasião. 

A prevalência de uso excessivo de álcool – definido como o consumo em ao menos cinco dias no mês, ao longo de duas horas, de mais de quatro drinques para mulheres e de cinco por homens – aumentou 9%.

Os CDCs calculam que cerca de 88 mil mortes acontecem todo ano graças ao uso excessivo de álcool (desde cirrose a acidentes de trânsito) no país, o que tornaria perigoso esse impacto dos aplicativos de transportes.

“Serviços de compartilhamento de corridas podem reduzir alguns dos males associados ao álcool, especialmente o de dirigir sob sua influência. No entanto, o consumo de álcool é frequentemente uma atividade social.

O advento do compartilhamento de corridas poderia aumentar a quantidade e a frequência do uso de bebidas alcoólicas por usuários e não usuários desses serviços, que, consequentemente, poderiam exacerbar alguns prejuízos ligados à bebida”, ponderam os autores.

Há chances de o resultado espelhar o que se vê no Brasil: uma pesquisa do Datafolha encomendada pelo Observatório Nacional de Segurança Viária e divulgada em maio de 2019 mostra que 68% dos brasileiros em regiões metropolitanas dizem que deixaram de beber e dirigir para usar aplicativos de transporte.

Na pesquisa, 45% dos entrevistados afirmam que consomem álcool pelo menos de vez em quando. Foram ouvidas 3.531 pessoas, com margem de erro de dois pontos porcentuais.

Empregos

Ao menos os bartenders saíram ganhando: a chegada dos aplicativos de trânsito gerou um aumento de 2,4% na empregabilidade e de 2,3% na remuneração. 

Aplicativos

Em seu relatório publicado no fim de 2019, a Uber afirma, com base em dados americanos, que a chance de um acidente em suas corridas é de cerca de metade da média do país.

Em nota, a Cabify diz que é uma alternativa segura para o transporte de pessoas maiores de 18 anos que “decidem se locomover para uma confraternização e consumir, ou não, bebidas alcoólicas”.

Queda de acidentes

Por outro lado, graças ao Uber e outros apps, o número de acidentes de carro teria caído. É o que mostram estudos como o dos brasileiros Yuri Barreto e Raul Silvera Neto, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e Luís Carazza, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).

Os pesquisadores usaram informações do Datasus referentes ao período de 2011 a 2016 para investigar o impacto da chegada do Uber às cidades brasileiras (com média de 360 mil habitantes) e concluíram que, em comparação com cidades que ainda não tinham o app, houve uma redução de 10,2% na taxa de óbito por acidentes de trânsito por trimestre.

No caso, graças aos apps de transporte, ao menos uma pessoa deixaria de morrer por trimestre. A taxa de hospitalização por acidentes de trânsito também teria sido reduzida em 17,2%.

Os autores consideram, portanto, benéfica a chegada dos apps de transporte para o sistema de saúde brasileiro. Mas, além disso, destacam que a disponibilização de outros modais de transporte também ajuda.

Barreto cita o exemplo israelense de redução de 37% de acidentes com motoristas jovens a partir da implementação de ônibuss noturnos em áreas metropolitanas.

“Havendo uma alternativa de modal de transporte financeiramente viável (como foi o caso do Uber), as pessoas podem repensar o uso de carros individuais em situações perigosas”, pontua.

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