O mundo fitness é cheio de novidades. De tempos em tempos, surge “a mais nova dieta que fará você ‘enxugar’ as gordurinhas”. A bola da vez agora parece ser a dieta do hCG, que promete fazer o paciente perder de 14 kg a 20 kg em 40 dias. O procedimento é tão impressionante quanto polêmico.
Para alcançar os resultados esperados, a pessoa precisa seguir uma dieta restritiva de apenas 500 calorias por dia. Somente alguns tipos de alimentos são permitidos. Dentre as frutas, só se pode comer morangos, maçã ou pomelo. Dos vegetais, só são permitidos espinafre, alface, repolho, cebola, aspargo e chicória. E entre as proteínas, estão liberadas as carnes de vitelo, vaca, frango e peixe. Amidos e açúcares são proibidos, e a ingestão de carboidratos, segundo o protocolo, deve ser baixa.
Juntamente com a dieta hipocalórica, a pessoa também precisa tomar (por injeção ou via oral) doses diárias da Gonadotrofina Coriônica humana (hCG), hormônio produzido na gestação e responsável por inibir a menstruação e uma nova ovulação. De acordo com o cardiologista e nutrólogo Lair Ribeiro, o hormônio tem a função de corrigir o metabolismo do tecido adiposo. “O hCG (no contexto da dieta) tem ação sobre o metabolismo do tecido adiposo com efeito inibitório da lipogênese (criação de gordura pelo organismo). Além disso, aumenta a oxidação de gorduras e a liberação de ácidos graxos livres”, explica ele em uma palestra para médicos disponível no YouTube.
Ribeiro afirma que o uso do hormônio contribui para que não haja flacidez resultante da perda de peso. Segundo o médico, ainda, essa dieta aumenta a tolerância ao baixo consumo de calorias, proporciona perda de peso e de medidas e atua na perda das gordurinhas localizadas. Ele afirma também que de 70% a 80% dos pacientes não voltam a engordar após o fim do programa.
A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) é contra o procedimento. “Esse medicamento não tem registro para uso em tratamento de obesidade. Isso já deveria esclarecer definitivamente o assunto”, afirma o médico Alexandre Hohl, presidente da Sbem.
Na própria bula do medicamento há um alerta sobre seu uso no emagrecimento. “Não há provas de que a hCG age sobre o metabolismo dos lipídios ou sobre a distribuição dos tecidos adiposos ou ainda, que influencie o apetite. Consequentemente, a Gonadotrofina Coriônica (HCG) não possui indicações relativas ao controle de peso”.
A dieta também não é muito bem vista pelos nutricionistas. “Dietas tão restritivas não devem ser seguidas. Para elaborar o plano alimentar, o nutricionista pauta seu trabalho nos quatro princípios da nutrição, que são: quantidade de alimentos, a qualidade desses alimentos, a harmonia entre eles e a adequação ao indivíduo. As pessoas devem usar os alimentos em benefício próprio, para ter saúde, e não para desencadear problemas como obesidade, diabetes, câncer e outros”, diz a nutricionista Adriana Pazzini, diretora do Conselho Regional de Nutricionistas de Minas Gerais.
Segundo ela, uma pessoa que consome apenas 500 calorias por dia irá emagrecer, mas com um desgaste orgânico desnecessário. O estado de inanição gerado pode causar problemas como fraqueza, cansaço, sonolência, dores de cabeça e até depressão.
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Blogueiras enaltecem resultados
Na internet, em blogs sobre emagrecimento e em grupos no Facebook, pacientes que estão passando ou que já passaram pela dieta dão seus relatos sobre os resultados do procedimento. “No final dos 40 dias meu marido já tinha perdido 12,7 kg e todas suas roupas. Eu posso dizer que esperava perder muito mais peso do que perdi. A minha expectativa para esses 40 dias era perder no mínimo 10 kg. E isso seria possível, pois a média estimada para perda de peso em mulheres é de 8kg a 12 kg por mês. Mas é claro que devo dizer que, sim, fiquei feliz com o resultado da minha dieta”, escreve a blogueira Michele Pereira.