A pergunta procede: “Como esse filme não foi feito antes? É realmente uma história fascinante, sob medida para virar um filme”. O questionamento vem do cineasta, diretor da TV Globo há 20 anos, Gustavo Fernandez, que dirige “Predestinado: Arigó e o Espírito do Dr. Fritz”, com estreia em todo o Brasil nesta quinta, dia 1º, contando a impressionante história do médium mineiro. 

“É um filme que trata de um personagem extraordinário, que, enquanto viveu, exerceu sua mediunidade, seu dom. Arigó teve profunda influência na sociedade brasileira sob vários aspectos e se tornou uma celebridade internacional: pessoas do mundo inteiro iam pra Congonhas para serem atendidas por ele. Após sua morte, foi ficando cada vez mais esquecido. O filme é o resgate desse personagem e é uma história de amor, afeto, entrega, olhar para o próximo, empatia e tolerância. Uma história verdadeira, emocionante e com personagens muito fortes”, entrega Fernandez.

E emenda: “Ele chegou, em sua época, a ser uma das pessoas mais famosas do Brasil, ao lado de Roberto Carlos, Pelé e Silvio Santos. Pessoas do mundo inteiro vinham visitá-lo em caravanas e excursões. Chegou a existir uma linha de ônibus que ligava Buenos Aires a Congonhas, em Minas Gerais, cidade onde ele morava e exercia seu trabalho”. 

Na última década, o cinema com viés espírita tem conquistado o interesse do público. 

“Este é um segmento importantíssimo, que já gerou grandes filmes e algumas das maiores bilheterias do cinema brasileiro nos anos em que foram lançados. Há ainda muitas histórias a serem contadas. ‘Predestinado’ é um filme que certamente vai interessar ao público espírita, mas vai despertar muito interesse em quem não necessariamente pratica essa religião”, prevê o diretor. 

A roteirista Jaqueline Vargas pesquisou extensamente com fontes diretas e muitos livros, sendo um dos principais “Arigó e o Espírito do Dr. Fritz”, do jornalista e escritor americano John G. Fuller. 

Danton Mello, que dá vida a Arigó, confessa que tinha ouvido falar no médium vagamente. “Sabia que ele tinha sido uma pessoa muito famosa em Minas Gerais, minha terra (ele nasceu em Passos), que incorporava um médico e tinha feito cirurgias”. 

E ao longo do processo ele ficou surpreso com a bondade e entrega do médium. “Durante mais de 20 anos ele operou milhares de pessoas, abrindo mão de sua vida pessoal para ajudar e atender os necessitados. Tinha um coração gigante (um homem iluminado), dizia que sua mediunidade era um dom que tinha recebido e não podia cobrar por isso”, declara Mello.  

O filme foi um desafio para o ator porque foram dois personagens dentro de uma mesma história: o homem simples e amoroso e o médium que, quando incorporava o médico alemão Fritz, chegava a ser ríspido. “Fiz um intenso trabalho corporal e focamos muito em diferenciar os dois personagens na voz, no gestual, no comportamento, no jeito de andar. Foi um trabalho lindo”, emenda. 

Na coletiva de imprensa para o lançamento do filme, Mello, muito emocionado, revelou: “Cresci em uma família católica, mas ao longo dos anos fui ficando cético, praticamente ateu. E esse filme me fez repensar a minha espiritualidade. Acho que foi um presente do Arigó para mim”. 

AGENDA: O filme “Predestinado: Arigó e o Espírito do Dr. Fritz” tem estreia nacional na próxima quinta, dia 1º de setembro. 

Desafio foi evitar tom paranormal 

A atriz Juliana Paes, que interpreta Arlete, a esposa de Zé Arigó, encarou com naturalidade as vivências mediúnicas e o universo espírita. “Fui criada em uma família espírita, mas eu sei que para muitas pessoas esse assunto tem um tom de fenômeno e mistério, por isso acho importante a gente contar a história do Arigó, que, assim como Chico Xavier, viveu para ajudar o próximo e teve como única missão ser instrumento para outras entidades espirituais que estão presentes entre nós e querem ajudar”, considera. 

O grande desafio nesse filme, ressalta Juliana, “foi evitar um tom paranormal para a história do Zé Arigó. E, para isso, buscamos nos apoiar na sua verdadeira história e tentar reproduzir todos os detalhes a que tivemos acesso. Não se trata de uma ficção. Essa história aconteceu, as pessoas são reais, os filhos dele estão vivos e acompanharam as filmagens. Tudo que a gente conta está documentado”, finaliza. (AED)

Trajetória. Arigó nasceu em 1921. Aos 25 anos casou-se com Arlete - o casal teve seis filhos. Sua mediunidade aflorou por volts de 1950. Morreu em 1971 em um acidente de carro. Arlete viveu até os 97 anos e seus seis filhos estão vivos. 

 Boas atuações e fotografia são alguns trunfos da biografia

Sensível e tocante o resgate da trajetória do médium Zé Arigó, magistralmente incorporado pelo ator Danton Mello em “Predestinado: Arigó e o Espírito do Dr. Fritz”, 51 anos após sua morte. O filme tem uma fotografia irretocável, que explora detalhes, gestos, olhares e silêncios, de forma generosa e, por vezes, impactante. 

Apesar de ser um filme com temática espírita, as narrativas não são doutrinárias, e o diretor Gustavo Fernandez disseca com maestria, cuidado e sensibilidade os conflitos humanos e existenciais que permeiam a vida do médium, de sua esposa, Arlete, e de seus filhos. Arlete, vivida por Juliana Paes, expressa magistralmente esse conflito ao aceitar a missão do marido. O elenco conta ainda com o sempre genial Marcos Caruso, Alexandre Borges, Marco Ricca, Cássio Gabus Mendes, João Signorelli e James Faulkner. (AED)