A empresa de biotecnologia Moderna anunciou, na última segunda-feira, que enviou ao Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (Niaid) dos Estados Unidos uma vacina experimental contra o coronavírus. O desenvolvimento ocorreu em 42 dias, um tempo recorde. Segundo a empresa, os testes iniciais da potencial vacina, chamada de mRNA-1273, poderiam começar em abril, mas todo o processo regulatório duraria pelo menos um ano.
A China também anunciou que outra vacina experimental contra o coronavírus poderá ser testada em abril. A empresa chinesa de biotecnologia Clover Biopharmaceuticals fez parceria com a britânica GlaxoSmithKline para testar a vacina Covid-19 S-Trimer.
A Moderna informou que os primeiros frascos da vacina experimental seriam usados em um estudo de fase 1 nos Estados Unidos. Essa etapa da pesquisa clínica envolve testes do imunizante em um pequeno número de pessoas saudáveis.
Duas doses da vacina seriam testadas em até 25 voluntários para verificar se produz uma resposta imune que protege contra o vírus.
Mesmo que o ensaio clínico seja bem-sucedido, serão necessários mais testes e aprovações regulatórias antes que o produto possa ser amplamente utilizado.
Autoridades de saúde e empresas farmacêuticas de todo o mundo estão trabalhando para identificar tratamentos ou uma vacina para ajudar a combater o coronavírus, que já infectou mais de 80 mil pessoas em todo o mundo.
O diretor do Niaid, Anthony Fauci, disse que os pesquisadores poderiam acelerar o processo de aprovação de uma vacina após um experimento bem-sucedido da fase 1, na tentativa de impedir a propagação do vírus. Mas, mesmo em “velocidade de emergência”, a vacina não estará disponível para uso por pelo menos um ano ou 18 meses, segundo ele.
Tentativas. A empresa Moderna, com sede em Boston (EUA), não é a única farmacêutica que espera encontrar uma imunização ou mesmo medicamentos que possam atenuar os sintomas da infecção por coronavírus. As gigantes Johnson & Johnson e GlaxoSmithKline estão trabalhando em vacinas, assim como pesquisadores do governo americano, incluindo alguns do Niaid.
As ações de Gilead subiram quase 5% na segunda-feira, depois que a Organização Mundial da Saúde disse que um de seus medicamentos, o remdesivir, está mostrando sinais de ajuda no tratamento do coronavírus.
Embora a eficácia e a segurança da vacina experimental desenvolvida pela Moderna ainda não tenham sido comprovadas, a velocidade com que foi criada representa um avanço. Segundo a empresa, o desenvolvimento começou tão logo foram obtidas informações genéticas sobre o coronavírus. Em comparação com vacina contra a síndrome respiratória aguda grave (Sars), os pesquisadores levaram cerca de 20 meses para iniciar os testes em humanos.
A Moderna utiliza uma plataforma tecnológica de mRNA, que visa fabricar medicamentos que direcionam as células do corpo a produzir proteínas para prevenir ou combater doenças.
A tecnologia faz uso do ácido ribonucleico mensageiro (mRNA), uma molécula vital para o bom funcionamento das células do corpo, e obteve resultados positivos nos testes da fase 1 em seis vacinas diferentes, uma das quais está atualmente em um estudo de fase 2, de acordo com a empresa. A plataforma de mRNA pode produzir vacinas com mais rapidez e com menos recursos do que os métodos tradicionais, de acordo com a organização de saúde britânica PHG Foundation. (Cláudia Collucci, Folhapress)
Higiene básica precisa ser praticada
Há 11 anos, falava-se da mesma coisa: era necessário tomar cuidados básicos, como lavar as mãos e tapar a boca ao tossir, para se prevenir de um vírus que se espalhava pelo planeta. O vírus mudou – do H1N1, passou a ser o novo coronavírus –, mas a prevenção permanece igual e não é diferente do que precisa ser feito no dia a dia, quando não há epidemias.
“Era para as pessoas praticarem ensinamentos da H1N1, mas não vemos isso em grande parte delas. Elas continuam sem higienizar as mãos e circulando em aglomerações, mesmo doentes”, reflete o infectologista Estevão Urbano, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia (SMI).
Já o infectologista Carlos Starling, também da SMI, comemora que, ao menos, pacientes têm carregado álcool em gel habitualmente com eles. Lavar bem as mãos segue como uma das principais formas de prevenção. “É fundamental higienizá-las após encostar em superfícies muito tocadas, como em ônibus e elevadores”, recomenda Urbano.
Máscara, só para quem apresenta sintomas (especialmente se esteve em países com casos de transmissão local) e para quem cuida dessas pessoas. Starling lembra que utilizá-las é uma boa prática para quando se está contaminado com qualquer doença respiratória – para evitar transmiti-las a grupos de riscos, como idosos.
Ele lembra que não há provas de que o calor brasileiro freie o coronavírus – mas a tendência é a de se ter menos aglomerações em locais fechados durante o verão. (Gabriel Rodrigues)