Esotérico

Religiosidade impacta comportamento violento

Atividades voluntárias e vínculos sociais e familiares podem inibir reações agressivas


Publicado em 19 de janeiro de 2021 | 03:00
 
 
 
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O que até agora era mera especulação passa a ter comprovação por meio de uma pesquisa para tese de doutorado realizada entre 2015 e 2020. A fisioterapeuta Juliane Piasseschi de Bernardin Gonçalves pesquisou como a religiosidade do brasileiro impacta o comportamento violento.

A pesquisadora foi aluna da Universidade de São Paulo e lançou mão de dados do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), da Universidade Federal de São Paulo, de 4.607 indivíduos brasileiros acima de 14 anos. “O principal achado dessa pesquisa é que percebemos menos atos violentos por parte dos indivíduos que se autointitulam religiosos. E que a dependência de álcool media essa relação: quando a religiosidade reduz a dependência de álcool, ela indiretamente reduz a violência”, comenta Juliane.

Segundo a pesquisadora, pessoas que possuem uma religião tiveram três vezes menos chances de terem sido presas e metade da chance de praticarem violência doméstica ou de se envolver em luta corporal em comparação com os que não têm religião. “Esses efeitos são ainda maiores entre adolescentes: quatro vezes menos de chance de terem sido presos”, contabiliza.

Os adolescentes “parecem se beneficiar do efeito protetor da religiosidade quando têm alguma afiliação religiosa e dão importância a ela, diferentemente dos adultos que apresentam somente esse efeito redutor quando dão importância à religião”. “Estar envolvido em atividades religiosas juntamente com outras pessoas, mesmo que a religião não tenha um papel central na vida do jovem, é uma das justificativas para o efeito benéfico com relação à violência”, explica Juliane.

Por outro lado, para os adultos, “dar importância e vivenciar a religião de uma forma mais interna foi mais relevante para preveni-lo de cometer atos violentos, o que pode decorrer do próprio processo de maturação do ser humano diante da vida”, emenda a pesquisadora. 

Em sua tese, Juliane avaliou também o efeito da religiosidade na violência infantil, a partir do relato que os participantes de 14 a 99 anos fizeram sobre sua vida pregressa. “O que vimos foi que os indivíduos mais religiosos relataram menos violência sofrida na infância, o que pode indicar um efeito protetor nos lares mais religiosos com relação à violência infantil”, diz.

No entanto, a violência consolidada na infância elevou para sete vezes as chances de o indivíduo propagá-la na vida adulta, e, nesses casos, a religiosidade não reduziu o efeito. “A partir do momento em que a violência se instala na infância, a religiosidade não teve ‘forças’ para diminuir a chance de a pessoa reproduzir esse padrão na vida adulta”, sustenta a pesquisadora. 

Pessoas que têm alguma religiosidade fazem menos uso de álcool, e isso gera menos violência, especialmente a doméstica. “O álcool tem um efeito indireto na relação da religiosidade com a violência, especialmente a doméstica, praticada entre casais. Isso significa que parte do efeito redutor da religiosidade na violência se dá através da redução da dependência de álcool”, diz Juliane.

Para ela, entre outros fatores que explicam o impacto da religiosidade sobre a violência podem estar o envolvimento em atividades filantrópicas e voluntárias, modelos de comportamento não violento para resolver conflitos, estímulo ao perdão, vínculos sociais e familiares.

Estímulo ao perdão e apoio familiar também são importantes

“O fato de a pessoa ter uma afiliação religiosa e frequentar templos religiosos pode ter efeito protetor mais potente do que a religiosidade intrínseca (importância atribuída à religião na vida de um indivíduo). Uma religião formal normalmente engaja indivíduos em atividades filantrópicas, bem como promove ajuste psicossocial e suporte social, que comumente trazem filosofias e comportamentos não violentos”, pondera a pesquisadora.

Por fim, o resultado da pesquisa mostra que a religiosidade parece ser um importante fator associado ao menor nível de violência, independentemente do grupo investigado.

Pessoas que têm alguma religiosidade fazem menos uso de álcool e isso gera menos violência, especialmente a doméstica. “O álcool tem um efeito indireto na relação da religiosidade com a violência, especialmente a doméstica, praticada entre casais. Isso significa que parte da explicação do efeito redutor da religiosidade na violência e atuando através da redução da dependência de álcool”, diz Juliane Piasseschi de Bernardin Gonçalves. (AED)

A jornalista Ana Elizabeth Diniz escreve neste espaço às terças-feiras. E-mail: anabethdiniz@gmail.com

 

 

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