Tanto faz se a dieta que você escolheu para te acompanhar atende pelo nome de Dukan, mediterrânea, cetogênica ou hipocalórica. Os estudos divulgados no último Congresso Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia, realizado neste mês, em Belo Horizonte, mostram que, nos primeiros meses, geralmente o sucesso é alcançado, porém o problema reaparece ao longo do tempo, seja na fase de manutenção do peso perdido ou quando a balança emperra.
Algumas alternativas para o emagrecimento foram apresentadas durante o congresso e levaram ao debate diversos especialistas do país. Todas essas dietas, inclusive, foram questionadas, pois, segundo os endocrinologistas, ainda não existem estudos de longo prazo demonstrando segurança em relação ao câncer e a doenças cardiovasculares, por exemplo. “A maioria dos estudos com o jejum intermitente é de curta duração: 12 semanas a seis meses”, disse a médica Cintia Cercato.
Os próprios endocrinologistas reconheceram, por unanimidade, que ainda não se tem uma solução para a epidemia de obesidade. De acordo com o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Rogério Friedman, a quantidade enorme de opções de dietas é um sinal de “desespero”. “A sociedade está tentando buscar uma saída para uma encrenca que se instalou, e a ciência também está tentando responder, mas nós não chegamos ao ponto ideal”, diz.
Ao apresentar estudos sobre a dieta Dukan, a endocrinologista Simone van de Sande Lee concluiu: “Ainda não sabemos os efeitos de longo prazo das dietas no organismo; o ideal seria ter mais ferramentas”, disse. Após explicar os princípios da dieta mediterrânea, inspirada na culinária tradicional de países como Grécia, Espanha e Itália, Friedman complementou: “Tentamos importar e adaptar, mas não existe dieta fora de contexto”, ponderou.
A respeito desse modismo que surge a cada verão, o professor reitera que “dieta é tratamento para paciente obeso, mas infelizmente ainda é desapontador”. A cetogênica, por exemplo, foi criada na década de 20 nos Estados Unidos, e o programa alimentar tinha como objetivo o tratamento de crianças com epilepsia refratária, segundo a endocrinologista Jacqueline Rizzolli.
Além disso, as chances de se conseguir manter uma alimentação restritiva por toda a vida são mínimas. Por isso, diz Friedman, “é preciso lembrar que a epidemia de obesidade é causada por um complexo cultural, sofisticado e multifacetado, com uma série de elementos que impactam a cultura alimentar das pessoas e cujo comportamento, inclusive, se traduz em alterações neuropsicofuncionais”.
Genes antigos em conflito com a vida moderna
A obesidade é uma doença resultante do conflito entre genes antigos e a vida moderna, já dizia o endocrinologista Alfredo Halpern, da USP, em artigo publicado em 1999. A médica Maria Edna de Melo, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), explica que o problema é resultante de mudanças sociais, econômicas, culturais, demográficas e tecnológicas, responsáveis por afetar o perfil de saúde e o estilo de vida de grande parte da população.
“Nos anos 80, o Brasil vivia uma realidade de fome em grande escala, com várias regiões apresentando quadros de desnutrição. Não tínhamos nem tempo de discutir sobre obesidade”, afirma a médica da Abeso. Maria Edna esclarece que, após a reversão desse quadro, as principais mudanças ocorridas, já nos anos 90, se caracterizaram pela adoção de um padrão dietético nunca antes visto. “Se antes havia a ‘seca’ de alimentos, a ‘fartura’ trouxe uma dieta com elevado teor de gordura saturada e de açúcar, associada ao baixo consumo de frutas, legumes e verduras”, explica.
O resultado disso tudo, afirma a endocrinologista, foi o início do que se vê hoje no país. “Não houve, em nenhum momento, um processo de educação nutricional para a maior parte da população. A maioria das pessoas comeu e come alimentos palatáveis (agradáveis ao paladar) e não sabe os impactos que eles causam na saúde. Por causa disso, hoje temos brasileiros obesos, principalmente na faixa dos 60 aos 65, exatamente aquela parcela que viveu a transição nutricional”, pontua Maria. (Thuany Motta)