O Hospital Felício Rocho, em Belo Horizonte, realizou, pela primeira vez em Minas Gerais e pela segunda no país, um transplante de rim utilizando um robô. A princípio, o método é utilizado em transplantes intervivos (quando o órgão é retirado de um doador vivo) e apenas na retirada do órgão do doador, e não para transplantar o órgão em quem está recebendo. O procedimento aconteceu no mês passado. Segundo o médico responsável, o urologista Marco Túlio Lasmar, ele representa um avanço na área e uma série de benefícios para o paciente.
“O robô tem uma visão aumentada em três dimensões, que confere uma precisão cirúrgica mais apurada. Uma amplitude de movimentos maior”, explica Lasmar, que afirma que isso favorece a recuperação do paciente. “Dessa forma, o trauma cirúrgico é minimizado, com isso a recuperação pós-operatória é melhor, com alta mais precoce. Muitas vezes, o paciente recebe alta entre 24 horas e dois dias; na cirurgia convencional, esse tempo pode se prolongar a, no mínimo, três dias”, explica Lasmar.
Para ele, é importante, que os traumas sejam minimizados, sobretudo para aqueles que se prontificam a doar um órgão. “O transplante é de alguém sadio que vai ajudar alguém. Então, se você puder ser o menos agressivo para a pessoa que está em gesto altruísta, melhor”, conclui.
Outro ponto positivo apontado pelo médico é o tipo de incisão feito pelo robô, que é menos invasivo do que a forma convencional. “Quando é cirurgia aberta convencional, há uma incisão chamada lombotomia, que causa um desconforto ao paciente que pode persistir por meses e por anos”, explica Lasmar.
Na cirurgia robótica, são feitas pequenas incisões, diferentes da lombotomia, para que o robô prepare o órgão para que depois o cirurgião possa retirá-lo.
De filho para pai. O estudante de direito Daniel Henrique, 28, ainda se recupera em casa da cirurgia feita no dia 16 de outubro. Ele doou um de seus rins para o pai, o professor aposentado Ademar Alves, 58.
Alves, desde 2005, sofre de insuficiência renal causada por um doença chamada glomerulonefrite membranosa, que causa significativa perda proteica. Há um ano e meio, o aposentado se viu refém de sessões de hemodiálise, o que lhe causou uma perda na qualidade de vida.
“A vida toda é afetada, o dia a dia de toda a família também”, relembrou Alves. E foi vendo o sofrimento do pai que Daniel Henrique demonstrou interesse em ser doador. “Sempre quis doar para meu pai, pois via o sofrimento dele. Mas acaba que não se tratava de uma cirurgia simples. Aproveitamos a oportunidade”, conta o filho de Alves.
Plano de saúde. O método não está no hall da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), órgão que regula os planos de saúde. Por isso, a cirurgia não recebe cobertura das operadoras.
Avanços. Em Belo Horizonte, o robô será utilizado apenas na retirada do órgão do doador. Mas, segundo o médico Marco Túlio Lasmar, o próximo passo, que já vem sendo realizado no mundo, é a cirurgia de implante, que demanda uma técnica mais complexa.
Cirurgia é usada para retirar tumor
A cirurgia robótica já vem sendo realizada em Belo Horizonte, no Hospital Felício Rocho, para outras finalidades. No Brasil e no mundo, o principal uso de robô é para cirurgias de retirada de câncer de próstata. De acordo com o urologista Marco Túlio Lasmar, o método para esse tipo de cirurgia é muito indicado, pois a precisão cirúrgica é altamente ampliada e oferece menores riscos às sequelas que pode deixar, como incontinência urinária e a impotência sexual.
“O robô trouxe uma precisão na cirurgia que garante um benefício oncológico excelente, sob o ponto de vista do controle do câncer, e, como é menos invasivo, você consegue ter uma recuperação melhor da potência sexual e da incontinência urinária”, garante Lasmar. “Como a próstata, anatomicamente, é um local no corpo de mais difícil acesso para a mão, o robô aumenta o alcance, a precisão e a amplitude”, explica o urologista.
A parceria entre o hospital e a Cirurgia Robótica Ciências Médicas chega a seu primeiro ano com a expressiva marca de 300 cirurgias robóticas realizadas. O marco foi celebrado durante evento na última terça-feira (6).
Robô faz 1º transplante de rim intervivos em Belo Horizonte
Técnica melhora pós-operatório e permite alta do paciente mais cedo; aposentado, que recebeu órgão do filho de 28 anos, passa bem
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