
Medicina
Transplante de útero: esperança para milhares de mulheres
Bebê nascido de útero transplantado está prestes a completar 1 ano
Rio de Janeiro. O sucesso de um transplante de útero feito com órgão obtido de uma doadora falecida no Brasil – o primeiro no mundo a resultar no nascimento de uma criança saudável, prestes a completar 1 ano – dá uma nova esperança para mulheres inférteis por fatores uterinos. Este é considerado um passo fundamental para tornar o procedimento relativamente comum num futuro próximo, acredita Dani Ejzenberg, médico do Centro de Reprodução Humana do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
“Imagino e espero que daqui a alguns anos o procedimento possa ser oferecido como prática médica corrente, tornando-se mais uma opção terapêutica para pacientes com fatores uterinos de infertilidade”, diz Ejzenberg, um dos líderes da equipe responsável pela cirurgia, que assina o artigo com relato do caso publicado na terça-feira (4), no prestigiado periódico científico americano “The Lancet”.
Experiência
Ejzenberg não deixa de chamar a atenção para as demandas da ciência. No mais das vezes, todo processo é lento e sujeito a mudanças e contratempos muitas vezes inevitáveis. O médico ressalta que, embora o transplante de útero ainda seja um procedimento altamente experimental, cada vez mais centros ao redor do mundo estão estudando e realizando operações, com sucesso cada vez maior, e também com os inevitáveis reveses, que, sem sombra de dúvida, ajudam a melhorar os protocolos dos procedimentos como um todo.
E foi justamente isso que ele e colegas fizeram ao optar por captar o órgão de uma doadora falecida, entre outras modificações dos experimentos iniciais bem-sucedidos na Suécia, que forneceram as bases para sua iniciativa.
De fato, o procedimento, quer de doadora viva ou morta, ainda acumula muito mais reveses do que sucessos no objetivo final, que é o nascimento de uma criança saudável.
Um levantamento realizado pelos médicos brasileiros para a publicação no “The Lancet” indica que, das 42 cirurgias feitas com úteros de doadoras vivas desde a primeira, em 2000, na Arábia Saudita, apenas 11 resultaram em partos bem-sucedidos, com duas gravidezes ainda em curso.
Os caminhos da ciência apontam sempre para um furo promissor, e a esperança de milhares de mulheres e casais cresce a cada nova descoberta.
