
Lançamento
Clássico japa ficou mais descolado
Fabricado nos EUA, novo Honda Accord chega ao Brasil e aposta na esportividade como tática de sobrevivência no combalido segmento dos sedãs
As três grandes montadoras americanas, Ford, Chevrolet e Fiat Chrysler, já decretaram que, daqui para a frente, vão se concentrar em picapes, SUVs e carros elétricos. Ou seja: vão abandonar segmentos que foram importantíssimos até aqui, principalmente nos mercado norte-americano, como o de sedãs. Há quem veja nesse movimento uma boa dose de precipitação. Uma atitude que dificilmente se veria em uma montadora japonesa, que costuma preferir ações evolutivas, no lugar das revoluções. O novo Honda Accord é um bom exemplo disso. A 10ª geração do sedã, que desembarca agora no Brasil, investe em uma ligeira mudança de conceito. Deixa de lado o lado mais conservador e investe na esportividade. A lógica é defensável: quem valoriza desempenho e comportamento dinâmico, dificilmente vai se imaginar atrás do volante de um utilitário-esportivo.
Versão única
O sedã, fabricado nos Estados Unidos, está à venda no Brasil em uma única versão, que sai por exatos R$ 198,5 mil e traz todos os recursos disponíveis no modelo. Mas o que chama realmente a atenção é o novo visual, que segue o mesmo conceito de design adotado recentemente no Civic. As linhas são bem esportivas e aerodinâmicas, com a coluna dianteira bastante inclinada e a traseira com um caimento extremamente suave, de cupê. As proporções também são as mesmas do Civic, com um capô longo, uma linha de cintura alta e a traseira truncada, o sedã tem um certo ar de “pony car”.
A frente ostenta um elemento típico da marca, a grossa barra cromada que afina na direção dos faróis, com o H da marca vazado ao centro. Em conjunto com a grade, faz uma referência às asas do logo da Honda. Os faróis full led são bem afilados e na traseira as lanternas têm o formato de bumerangue.
Estica e puxa
Nessa nova geração, o Accord reduziu suas dimensões externas, mas aumentou a área útil para passageiros e bagagens. Ele tem 4,89 m de comprimento com 2,83 m de entre-eixos, 1,86 m de largura e 1,46 m de altura.
Ficou 1,4 cm mais curto, 1,2 cm mais largo e 1,5 cm mais baixo, mas com um entre-eixos 5,5 cm maior. O volume para bagagens cresceu 68 L, para 574 L no total. O peso do modelo, no entanto, caiu em 72 kg, para 1.547 kg.
Confortável, mas fora de seu habitat
Os caminhos desenhados pela equipe que montou o test drive no lançamento do Accord foram bem tortuosos. Tudo para escapar dos engarrafamentos permanentes criados pela interdição de parte da Marginal Pinheiros, na capital paulista. Foram ruelas estreitas e passagens por lugares desacostumados a um trânsito tão intenso, até que se alcançasse a Rodovia Bandeirantes, na direção de Cabreúva. Mas foi uma ótima oportunidade para avaliar como o novo motor 2.0 turbo do sedã da Honda se comporta em situações reais do dia a dia. Lombadas, subidas íngremes e os valões típicos de São Paulo foram enfrentados com facilidade.
Por outro lado, são ruas menos cuidadas que as principais avenidas e aí se percebe um limite do sedã: ele não é feito para enfrentar um asfalto tão remendado como os que se costuma encontrar nas cidades brasileiras. A suspensão e os ocupantes sofrem com as irregularidades. É o preço que se paga pela vocação mais esportiva que a Honda adotou.
Por outro lado, o novo Accord se mostra um carro generoso em relação ao conforto. Os bancos têm ajustes elétricos e são ventilados, o ar dual zone é muito eficiente e o silencia a bordo é absoluto. Não se ouve nem o barulho do motor, nem dos pneus no piso. Tudo muda, no entanto, quanto o motor é chamado com mais energia. O ronco rascante aparece e o propulsor mostra uma disposição invejável – em consonância, no entanto, com a sede de gasolina. A Honda não divulga números de desempenho, mas já foi avaliado que o 0 a 100 km/h do modelo fica em torno de seis segundos. O câmbio de dez marchas conversa muito bem com o propulsor turbo. E é sempre melhor deixar o computador controlar este relacionamento, que não é simples.
Modelo marca a estreia no Brasil do pacote Sensing
Em parte, essas alterações dimensionais foram viabilizadas pela mudança no sistema de propulsão. A Honda adotou a filosofia do downsizing de forma bem acentuada. O motor 3.5 V6 aspirado dá lugar a um 2.0 turbo, que utiliza o mesmo bloco aplicado ao esportivo Type R. No confronto entre os dois, a potência máxima até caiu, de 280 cv para 256 cv, enquanto o torque máximo subiu um pouco, de 34,6 para 37,7 kgfm.
A diferença está no regime de rotações que ele aparece. O torque máximo, que aparecia em 4.900 giros, desabou para 1.500 rpm – e se mantém no topo até 4 mil giros. O câmbio automático de seis marchas sai de cena para a entrada de um caixa de 10 velocidades extremamente compacta, que utiliza os dois lados de cada engrenagem para dobrar o número de relações.
Como o sedã é hoje o veículo de topo da marca japonesa no mundo, a Honda tratou de caprichar no conteúdo e incluiu o Honda Sensing, inédito por aqui. Trata-se de um pacote de sistemas de auxílio à condução que se utilizam de uma câmara no para-brisa e um radar no para-choque para intervir.
O sistema inclui controle de cruzeiro adaptativo, controle de faixa com assistência ao esterçamento do volante, câmara frenagem de emergência e monitoramento de atenção do motorista.
O famoso carro de imagem
O novo Honda Accord traz ainda um recheio que contraria o estoicismo tradicional da marca, como tela flutuante no console central, ar-condicionado de duas zonas, bancos elétricos com memória vinculada a cada uma das duas chaves, acabamento interno em couro, bancos ventilados, teto solar elétrico, chave presencial para travas e ignição, câmbio automático controlado por botões e painel com tela de 7 polegadas configurável, ao lado de um velocímetro tradicional com ponteiro.
No Brasil, até pelo preço, o Accord terá a função de carro de imagem da marca. A ideia é que o sedã vá atender principalmente executivos de empresas japonesas que moram no Brasil. Tanto que a expectativa de vendas é bem modesta: 130 unidades em todo o decorrer de 2019. Aproximadamente a mesma média que o modelo vem cumprindo no mercado brasileiro nos últimos anos, ou seja, para marca japonesa, está de bom tamanho quando o assunto é Accord.
Ficha técnica
Motor
2.0 16V turbo, movido a gasolina, quatro cilindros em linha, comando duplo no cabeçote e comando variável de válvulas na admissão e no escape.
Câmbio
Automática de dez marchas com paddles shifts no volante. Tração dianteira e controle eletrônico de tração de série.
Potência
256 cv a 6.500 rpm.
Torque
37,7 kgfm entre 1.500 e 4.000 rpm.
Suspensão
Dianteira independente do tipo McPherson. Traseira do tipo multilink.
Freios
Discos ventilados na frente e sólidos atrás. Oferece ABS com EBD e sistema de frenagem automática.
Pneus
235/45 R18.
Carroceria
Sedã em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,89 m de comprimento, 1,86 m de largura, 1,46 m de altura e 2,83 m de entre-eixos. Oferece airbags frontais, laterais e cortina e de joelho para motorista e carona.
Peso
1.547 kg com 483 kg de carga útil.
Porta-malas
574 L.
Tanque (capacidade)
56 L.
Produção
Marysville, Ohio, Estados Unidos.
