
Comportamento
Mary Lou a saga de um casal
Mineiro e mato-grossense caem na estrada em busca da realização de um sonho: dar a volta ao mundo a bordo de uma clássica picape Chevrolet 3100 ano 1951
Junte a vontade de viajar com a paixão por carros antigos uma pitada de aventura e muita coragem. É com essa receita que o geógrafo André Jardim, 40, e a geóloga Júlia Prates, 34, estão prontos para começar a maior e mais ousada aventura do casal: dar a volta ao mundo a bordo da Mary Lou, uma picape Chevrolet 3100 ano 1951 totalmente reformada, mas com motor original.
A expedição terá o seguinte roteiro: De Brasília a Ushuaia, na Argentina. De Ushuaia até Prudhoe Bay, no Alaska, passando pela rota pan-americana. Depois, uma “voltinha” básica de leste a oeste dos Estados Unidos até chegar a Vancouver, no Canadá, de onde o casal partirá, de avião, para Vladivostok, na Rússia. Nesta etapa, Mary Lou segue de navio dentro de um contêiner e levará um mês para desembarcar na terra de Vladimir Putin. Até lá, o casal quer “mochilar” pela região. Quando a picape chegar, o casal planeja cortar a Ásia Central pelas estradas no trajeto da famosa ferrovia transiberiana e atravessar a Europa até chegar a Portugal. De lá, Jardim e Júlia partem para Dakar, no Senegal, e seguem para a África do Sul, passando pelo Sudeste Asiático e, enfim, esperam terminar a aventura cruzando todo o litoral da Oceania.
Os dois acham que vão levar três anos para chegar ao Alaska e outros sete anos, no mínimo, para concluir a aventura a bordo da picape Chevrolet. “Na descida, a Mary Lou chega aos 70 km/h, mas cada quilômetro percorrido vai ser motivo de comemoração”, brinca Jardim. “Acho que por ter essa natureza meio nômade, meio hippie, é que fico tão atraída por colocar a mochila nas costas e viajar. Já essa paixão por carros eu confesso que não tenho. Minha paixão é pela estrada e, lógico, pelo André”, completa Júlia.
Desapego total
Para realizar o sonho de dar a volta pelo globo com a Mary Lou, Jardim e Júlia tiveram que recorrer ao mantra do desapego. Venderam tudo que tinham e largaram seus respectivos empregos no fim do ano passado. “A ideia é morar no carro. Cada um vai levar uma mala com roupa para 15 dias e só. A única coisa que a gente vai fazer às vezes é trocar hospedagem por trabalho”, explica Jardim. A picape, que pertenceu ao pai dele na década de 80, levou dois anos para ser transformada em um completo camper. A caçamba tem uma área de 6 m², recebeu cobertura acrílica e tem dentro uma cozinha completa com fogão, pia e freezer. O chuveiro é externo, com sistema de aquecimento solar. A cama fica na funcional barraca de teto.
Modelo tem diferencial de Veraneio
Conhecida no Brasil como “Chevrolet Boca de Sapo” pelo formato da grade frontal, a picape 1951 de André tem motor original, com 180 mil km rodados, mas precisou de algumas adaptações. O modelo tem motor 3.5 à gasolina, seis cilindros em linha, com 93 cv e carburação simples (pé de ferro). O câmbio é manual de três marchas com acionamento na coluna de direção. Mas Mary Lou é boa de golo. Bebe bem, segundo André. “Faz 6 km/L na estrada”, revela ele.
A voltagem da parte elétrica da picape precisou ser transformada de 6V para 12V. Além disso, a picape ganhou diferencial do antigo e robusto utilitário Veraneio. Foi fixada uma barra estabilizadora na frente, segundo André, para a carroceria rolar menos nas curvas. Por causa do peso extra, bolsões de ar líquido foram adaptados à suspensão da picape, que foi repintada na cor verde, bem próxima à do modelo original, importado dos Estados Unidos.
Por dentro, o painel ganhou um marcador digital de tensão da bateria auxiliar. O limpador de para-brisa era à vácuo, agora é elétrico. Em prol do conforto, saiu o banco inteiriço em mola e entraram dois bancos de EcoSport com um descansa-braço central.
Você sabia?
História. A Chevrolet 3100 foi a primeira picape da GM produzida no Brasil. Ela foi vendida por aqui de 1958 a 1964 e foi substituída pela linha C-10. O modelo teve variantes cabine dupla (Chevrolet Alvorada), perua (Chevrolet Amazonas) e furgão (Chevrolet Corisco). Em 1962, foi reestilizado.
