Curiosidade

Tontura, câimbra e até espirros: como explicar os efeitos colaterais do orgasmo?

Algumas pessoas experimentam mal-estar após o clímax sexual, mas, na maioria das vezes, não há razão para se preocupar


Publicado em 24 de junho de 2022 | 03:00
 
 
 
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Tontura, sensação de fraqueza e náusea. A coordenadora de marketing Aparecida, 27, e seus parceiros até cogitaram que os sintomas, que rapidamente se dissiparam, fossem sinal de uma gestação não planejada. Mas logo entenderam que as reações eram apenas um “efeito colateral” de sucessivos e intensos orgasmos. “Eu estava indo tomar banho com eles e precisei me segurar na porta para não cair. Sentia vontade de vomitar, as pernas fracas e pensei até que ia desmaiar. Antes, havia me sentido enjoada”, lembra. “Por desencargo de consciência, até fiz um teste de gravidez, que deu negativo. Mas, como às vezes tenho esses ‘piripaques’ depois do sexo, já sabia que não seria nada de mais”, reconhece. Entre outros mal-estares vivenciados por ela, lembra de já ter tido câimbras e espasmos musculares, além de movimentos pélvicos involuntários. “Eu levo tudo numa boa. Não é algo que me atrapalha ou atrapalhe as minhas relações”, conta, estabelecendo que já levou a questão para consultas com a ginecologista que a atende.

A publicitária Verônica, 28, também já apresentou comportamentos atípicos após o clímax sexual. “Geralmente, sinto muita vontade de fazer xixi, mas ele costuma demorar a sair. E, quando o orgasmo é intenso, eu às vezes tenho crises de espirro”, relata, dizendo encarar a questão com tranquilidade e bom-humor.

Aparecida e Verônica estão certas em não se alarmar. “Embora as pessoas se sintam envergonhadas e não toquem muito no assunto, é relativamente comum relatos de reações atípicas ao orgasmo. Alguns ficam apreensivos, pensam que pode ser sinal de algum acometimento. Mas, em geral, esses sintomas individuais não são um problema”, observa a ginecologista e obstetra Isabela Aguiar, que faz pós-graduação em sexualidade humana. “Só se a questão estiver causando sofrimento, pode ser indicado fazer uma terapia, mas não necessariamente para barrar essa reação e sim para que a pessoa possa olhar para isso com um olhar de naturalidade”, detalha. 

A profissional ainda adverte que o excesso de tensão por conta dessas reações pode repercutir em disfunções sexuais. “Se a pessoa se sentir muito constrangida, pode passar a evitar o orgasmo e o sexo para não passar por essas situações”, alerta.

Isabela indica que só há motivo para preocupação se os sintomas causarem grande mal-estar e serem muito recorrentes. “Também é importante averiguar se houver ocorrência de dores de cabeça, que podem indicar problemas mais graves, como coágulos no cérebro. Portanto, nesse caso, é importante realizar exames para, descartando outras questões, se chegar ao diagnóstico diferencial da cefaleia orgástica”, explica. Em suas redes sociais, a estudiosa propôs uma enquete, demonstrando, empiricamente, que o problema não é tão incomum: enquanto 80 seguidores dela disseram nunca ter tido dores de cabeça após o sexo, 15 disseram já ter tido.

A ginecologista detalha não haver estudos conclusivos sobre as causas desse variado leque de reações, mas indica existirem hipóteses aceitas no meio científico que ajudam a explicar esses fenômenos.

“As funções motoras são comandadas pelo sistema nervoso somático, responsável por movimentos voluntários, e pelo sistema nervoso autônomo, sob o qual não temos domínio e que está relacionado à excitação e ao orgasmo”, detalha Isabela, detalhando que esse sistema é dividido em dois módulos: o parassimpático e o simpático. “O primeiro atua no período excitatório, liberando o neurotransmissor acetilcolina, que promove relaxamento muscular, lubrificação e irrigação sanguínea nas regiões do pênis e vagina, levando ao enrijecimento dos órgãos. Já o último atua no momento do orgasmo e promove liberação da noradrenalina, que causa contração e tensionamento muscular, aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial e vasoconstrição (quando os músculos lisos das paredes dos vasos sanguíneos se contraem e está relacionado à capacidade de ejaculação do pênis e da vulva)”, informa. Ela ainda lembra que após o orgasmo, a liberação de noradrenalina é interrompida bruscamente e, mais uma vez, o corpo volta a um estado de relaxamento.

“Por conta dessa troca de sinapses e comandos é possível que ocorre alguns colapsos que podem gerar mal-estar”, salienta a ginecologista, que explica o que pode estar por trás de alguns desses sintomas.

Câimbras. “Durante a excitação, ocorre o relaxamento da musculatura e, à medida que chegamos próximo ao orgasmo, há disparada da noradrenalina, que fica prevalente e gera contração do músculo. Posteriormente, há a fase da resolução, mais uma vez promovendo relaxamento. Se está faltando água ou algum micronutriente nesses tecidos, eles podem entrar em colapso. Veja, há um relaxamento e depois um estímulo intenso, que gera contração muscular, seguido por novo relaxamento. Portanto, principalmente se a pessoa for sedentária e fizer pouca atividade física, pode haver colapso muscular nesse processo, gerando câimbra”, comenta Isabela Aguiar.

Tontura e fraqueza. “A descarga de endorfina provocada pelo orgasmo acelera o metabolismo, aumenta a pressão arterial e a frequência cardíaca. Na sequência, pode ocorrer uma baixa brusca de pressão e rápida desaceleração metabólica. Essa oscilação pode gerar desencadear sensação de tontura, que passa rapidamente e que não é motivo para preocupação”, pontua Isabela, acrescentando que estar em jejum ou tenso potencializa a sensação de fraqueza, uma vez que, mesmo em uma relação sem muita movimentação, há gasto energético significativo proveniente da atividade sexual e do orgasmo.

Dor de cabeça. “Existem registros de uma dor de cabeça explosiva que acontece no orgasmo ou poucos segundos depois. Há a hipótese de que ela ocorra devido a um vasoespasmo arterial cerebral devido uma sobrecarga transmissão cerebral durante o clímax sexual. Mas é importante a realização de exames para descartar que a ocorrência esteja ligada a quadros mais graves”, expõe.

Espirros. “É difícil bater o martelo, mas é provável que o espirro tenha a ver com uma falha sináptica. Isso ocorre porque, no momento do orgasmo, há um grande estímulo cerebral, que pode alcançar diversas regiões do órgão, disparando reações diversas do sistema nervoso parassimpático”, informa a ginecologista. Alguns estudos indicam que o comportamento pode estar ligado a um estado de esgotamento devido ao esforço realizado após o sexo, levando ao aparecimento desse sintoma geralmente associado a gripes, resfriados e alergias.

Náusea. A ânsia de vômito pode estar ligada a fatores como a penetração profunda – que chegue ao colo do útero, provocando uma síncope vasovagal – ou ser resultado de uma movimentação muito intensa do corpo. Quando é proveniente do orgasmo, a náusea pode estar ligada à contração do útero que, quando muito acentuada, pode chegar a deixar a pessoa zonza. Por fim, o fenômeno pode indicar a presença de miomas e cistos no ovário, que podem gerar incômodo nos órgãos pélvicos gerando enjoo.

Vontade de fazer xixi. “A noradrenalina liberada pelo sistema simpático durante o orgasmo age na bexiga, causando relaxamento da musculatura do órgão. Porém, ela causa também uma estenose do esfincter da uretra, ou seja, o canal por onde passa a urina fica contraído. Então, por um lado, há a vontade de urinar e, por outro, há dificuldade de ejetar o líquido”, avalia Isabela.

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