
Serra do Espinhaço
Descubra por que é um privilégio fazer a travessia Lapinha x Tabuleiro
Casas que serviram de apoio aos tropeiros hoje recebem turistas que se aventuram pela longa travessia
Com saída da igrejinha da Lapinha, já nos primeiros metros da caminhada se pode ter uma ideia do que teremos pela frente. A vila vai ficando para trás, circundada por suas águas, tendo ao fundo o pico da Lapinha emoldurando a paisagem.
Depois de 3 km, encontramos a capelinha de pedras a Nossa Senhora Aparecida, erguida pelos moradores vindos de Tabuleiro, em agradecimento à santa pela proteção aos caminhantes durante a íngreme descida.
No caminho, são muitas as espécies de flores nativas e várias as orquídeas terrestres, rupestres e aéreas. A trilha é um imenso jardim botânico no maciço do Espinhaço. Após 4 km de subida, chega-se à serra das Cobras, um platô em flores, como um grande tapete colorido. O lugar é apontado como local de pouso de discos voadores.
Na crista do Espinhaço, a trilha segue por mais 4 km em planalto aberto, rodeada pela vista dos picos da Lapinha e do Breu. Um ponto de descanso é junto ao Cruzeiro de Suzana. Ao pé dele fica uma das nascentes do rio Cipó.
Dali seguimos até a primeira parada, na praia do rio Parauninha, com tempo para se alimentar, abastecer os cantis, tomar um bom banho e seguir por mais 1,5 km, até a casa da saudosa Ana Benta, que existe desde a época das antigas tropas.
Segundo dia
Acordar no alto da serra do Espinhaço é um privilégio: se desperta ao som da sinfonia matinal dos pássaros. Depois de um café reforçado, vamos caminhar por mais 9 km até o próximo ponto de apoio, de onde seguiremos para visitar a parte alta da cachoeira do Tabuleiro. Com 273 m, ela é a mais alta de Minas e a terceira mais alta do Brasil.
Por mais 2 km, alcançamos o alto da Serra, que demanda tempo para descobertas e contemplação. De lá podemos ver ao longe parte da cidade de Belo Horizonte e a serra da Piedade.
No ponto de apoio do Chico Lage, 2 km à frente, há boa estrutura para receber o turista, que pode se refrescar nos poços próximos. Pós-mergulho, depois de 4,5 km, chega-se à casa de Dona Maria e Zé da Olinta, último ponto de apoio do percurso. Dali, numa trilha de 6 km, está a parte alta da cachoeira do Tabuleiro, um dos pontos mais belos da travessia. É uma experiência única!
Da casa de dona Maria e Zé da Olinta são outros 5 km até a sede do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, de onde se faz uma trilha estruturada, com 700 degraus, para alcançar a parte de baixo da cachoeira.
Com seu imenso lago, é outro cenário de beleza maior; impactante.
Na volta à Tabuleiro, é tempo de conferir as fotos, assimilar a longa caminhada que agora ganha um novo estágio e começa a acontecer dentro da gente.
Receptividade à la mineira
A casa da saudosa Ana Benta é o primeiro ponto de apoio da travessia. Por lá, os trilheiros encontram cama, comida feita no fogão a lenha e banho quente. Hoje, quem mantém o local é seu sobrinho Lucas, que também é agente ambiental e faz questão de acolher os trilheiros como mandam as boas tradições mineiras. Ana Benta viveu na casa por 70 anos e faleceu em 2014. Ela foi levada para lá no ano de 1945 pelo pai. Junto com o seu irmão, ela servia às tropas que cruzavam a trilha até Tabuleiro, utilizando a sua casa como ponto de apoio na longa jornada.
Saiba mais
O mirante da crista da serra do Espinhaço é o ponto mais alto da travessia. Com seus 1.450 m de altitude, se vê claramente a divisão entre as bacias hidrográficas do rio São Francisco e do rio Doce. A do São Francisco tem a vegetação do Cerrado, e a do rio Doce, de Mata Atlântica. Por ali, também está o escritório-contêiner do Instituto Estadual de Florestas (IEF), onde o turista precisa preencher um cadastro de controle de visitantes e recebe orientações de boas práticas que devem ser adotadas durante o trekking. O local serve ainda como ponto de observação no combate ao incêndio.
