Lucas Kallas, CEO da Cedro Participações, é o sexto entrevistado da Temporada Minas S/A Governança em todas as plataformas de O TEMPO.

A Cedro, com sede em Nova Lima (MG),  reúne as atividades de: mineração, porto, ferrovia, imobiliário, biotecnologia e cafeicultura.

Neto de libanês, devoto de Nossa Senhora Aparecida, Lucas conta que se considera um empreendedor.

Nos complexos minerários em Nova Lima e Mariana, a operação total  é de 7 milhões de toneladas por ano e aportes de R$ 4 bilhões vão mais que dobrar a produção em Mariana com o pellet feed.

Em Barão de Cocais e Itabirito, os projetos estão em fase de licenciamento.

O grupo investiu quase R$ 200 milhões numa fazenda de café na Serra do Cabral (MG) com produção de 25 mil sacas por ano para exportação.

O Ramal Ferroviário Serra Azul (MG) de R$ 1,5 bilhão e o Porto de Itaguai (RJ) de R$ 3,6 bilhões, além da construção de três hospitais no formato BTS são outros ativos de Lucas Kallas. 

A seguir, a entrevista na íntegra de Lucas Kallas:

HL: você é neto de libanês. Como foi esse início da sua jornada? 
 
LK: Eu sou neto de Libanês e aí tem um pouco do sangue libanês de empreender, e eu brinco, não sou minerador, eu sou empreendedor, eu gosto de negócio, eu gosto, eu vivo isso, né. Aí a jornada nossa de trabalho é 12, 13 horas todo dia, não tem sábado, não tem domingo, esse ano, igual eu te falei, já voei mais de 300 horas. 
 
HL: 11 países, né? 
 
LK: Praticamente 11 países em 6 meses. Eu gosto de ir, gosto de ver, gosto de aprender. Então, essa jornada começou quando eu fiz o segundo grau completo, e com 17 anos de idade para 18 eu escolhi “eu vou para o lado do estudo ou vou para o lado do empreendedorismo?”, e resolvi… sempre de menino já gostava, quando eu tinha 16, 17 anos eu ia na banca comprar revista de negócios, Isto É Dinheiro, da Época, a Época negócios… 
 
HL: E está no sangue também, né, Lucas? Seu avô libanês… 
 
LK: É. E aí meu avô era libanês, mas viveu a vida inteira em Passos, no sul de Minas, era da área de eletrodoméstico, tinha uma grande rede de eletrodomésticos, e construiu a vida nisso. Nessa época da minha vida, como eu sou o único neto homem, meu pai é filho único e eu tenho mais duas irmãs, meu avô me chamou para ajudar ele, na época ele tinha muita terra lá e estava começando os loteamentos, Passos crescendo, e aí ia expandir área para loteamento, e foi onde eu comecei. Me mudei para Passos, fiquei lá praticamente 4 anos, de 19 até uns 23 anos, e fui tocar os loteamentos dele. 
 
HL: Então a primeira experiência de negócios sua foi imobiliária? 
 
LK: Imobiliária. Aí fiz, começamos em Passos, depois fomos para outros municípios ali do Sul de Minas, como Guaxupé, Muzambinho, Guaranésia… Eu comecei dali e fui embora. 
 
HL: Aí você voltou para Belo Horizonte? Como foi essa decisão de vir para cá? 
 
LK: Eu retornei pra Belo Horizonte, na época eu tinha entrado numa sociedade, numa empreiteira, e fiquei um bom tempo nela. Depois, em 2008, 2007, eu resolvi sair, por desinteresse nessa área pública e tudo, e fiquei um ano meio na sabatina. 
 
HL: O ócio criativo, né? (risos) 
 
LK: Em 2009 eu comecei a me interessar por mineração, um amigo me convidou e eu falei “pô, mas eu não tenho tamanho para isso”. 
 
HL: Mineração é sempre uma área que a gente pensa que só grandes players vencem. 
 
LK: E eu entrei na mineração em 2010, 2011, da qual eu tinha uma sociedade. 
 
HL: Você entrou com a vontade de trabalhar ou teve que entrar com dinheiro também? 
 
LK: Com os dois, né. (risos) Com um pouco de dinheiro e com vontade de trabalhar e vencer. Eu entrei nessa sociedade, saí em meados de 2017, porque eu queria buscar um negócio sozinho 
 
HL: Você queria uma carreira solo, né, isso sempre funcionou muito para você. 
 
LK: E em 2018, nós entramos… eu tive a oportunidade de entrar, fui convidado na Extrativa, pelo senhor Domingos Horta, de montar uma planta dentro da operação dele de concentração, e aí a família nossa entrou aportando um valor e ali começou a história da Cedro. Nós montamos a Cedro em 2018. 
 
HL: A primeira operação dela foi em que cidade? 
 
LK: Foi em Nova Lima, na extrativa onde nós temos a operação. E tinham vários desafios de crescer, a operação fazia em torno de 700 mil toneladas por ano, e montamos a planta, fizemos uma operação pequena, e em meados de 2019 o senhor Domingos falou: “Lucas, nós temos interesse de vender a mina”. E aí eu falei “mas como nós vamos pagar isso”, e ele falou “não, já te conheço, já vi seu trabalho aqui dentro ao longo desses quase 2 anos que nós estamos convivendo juntos e eu achei que você era a pessoa certa para tocar isso.” Aí deu a oportunidade, compramos, expandimos a operação, pegamos uma época muito boa de minério a quase 200 dólares, e ali que a Cedro expandiu muito. Nessa aquisição veio o ativo de Mariana, no qual a gente ficou 3 anos mexendo mais na parte de licenciamento ambiental…  
 
HL: O que demora pra caramba. 
 
LK: Demora. E em 2023 saiu a licença de Mariana. Então, nós, hoje, operamos a extrativa que é em torno de 4 milhões de tonelada de produção  
 
HL: Isso entre Nova Lima e Mariana? 
 
LK: Não. São 4 milhões em Nova Lima e mais 3 milhões em Mariana. 
 
HL: Então são 7 milhões de toneladas de minério de ferro por ano.  
 
LK: 7 milhões. Então, pegamos essa alta do minério, a empresa, nessa época, já começou do zero e geramos muito caixa. Então, hoje, o grupo nosso, na área de mineração, é zero por cento alavancado, nós crescemos com a nossa própria geração de caixa. 
 
HL: Vocês reinvestem o faturamento no próprio negócio. 
 
LK: E nesse prazo de licenciamento, igual Mariana agora, nós estamos expandindo toda a parte de licenciamento nossa de 3 milhões para mais de 7 milhões de toneladas. 
 
HL: Está mais do que dobrando. 
 
LK: E nesse prazo, como o grupo gerava caixa e eu não tenho esse perfil de ficar parado, eu comecei a me aventurar para outros negócios, né, e entramos no setor do agro. Hoje, nós temos o maior plantio de café irrigado do país. 
 
HL: Eu vi outro dia lá você em uma foto na frente do cafezal, está na safra agora, né. Onde é a plantação? 
 
LK: Na serra do Cabral, Centro-Norte de Minas, em Francisco Dumont. Nisso aí, eu nem sabia o que era fazenda. Um grande amigo meu, já falecido, senhor Alberto Ramos, um dia falou “Lucas, vamos lá conhecer uma fazenda comigo?”. Era num sábado, eu me lembro direitinho como se fosse hoje, nós pegamos um helicóptero e fomos. Aí voltando ele me liga “Lucas, por que você não compra aquela fazenda?”, e eu falei “mas senhor Alberto, eu não sei nem o que é café, pô”. Mas aí compramos essa fazenda, juntamos um time, que é o que a gente sabe fazer, é pouca gente e muito trabalho. 
 
HL: E alta produtividade, né? 
 
LK: É. Eu falo aqui para a minha turma “quanto menos gente, mais você foca e mais você resolve”, porque quando você tem muita gente, cada um vai jogando, então é o modelo da Cedro, que nós criamos. Então, no agro tem uma pessoa que o grupo deu uma participação para tocar, para ficar à frente do negócio. 
 
HL: Tem uma pessoa de confiança que entende mesmo do negócio, que está lá no dia a dia.  
 
LK: Então, nessa época de geração nós implantamos essa fazenda, uma fazenda em que o grupo aplicou aí quase R$ 200 milhões de investimento em 3 anos. 
 
HL: Vocês tiveram que replantar tudo, fazer novas lavouras? 
 
LK: Foi do zero, que é o que eu gosto de fazer. 
 
HL: Você gosta é de projeto greenfield, de começar do zero mesmo. 
 
LK: De começar do zero. 
 
HL: São quantos hectares de café, Lucas? 
 
LK: Hoje, é em torno de 1.100 hectares plantados. 
 
HL: Você vai aumentar essa plantação? 
 
LK: Estou estudando. Hoje, na nossa fazenda nós temos de área útil, de área agricultável, quase 5 mil hectares, então fizemos essa primeira etapa para testar e foi um sucesso. Esse ano aí já vamos colher mais de 25 mil sacas. 
 
HL: E o café está com preço ótimo, né? Tem que aproveitar. 
 
LK: É outra que a gente deu um pouco de sorte 
 
HL: É, porque a bianualidade dele é meio danada, teve geada… 
 
LK: Compramos a fazenda, iniciamos lá com o café a US$ 120 e hoje está mais de US$ 300. Só que é uma fazenda modelo, uma fazenda organizada, sustentável, uma fazenda, hoje, que é um modelo no Brasil, com todos os certificados internacionais, então é um projeto bacana. 
 
HL: Agora, é um projeto de café commodity ou são grãos especiais? Vocês estão fazendo um mix? 
 
LK: É 100% exportação, cafés especiais… 
 
HL: 100% exportado? Você está mandando para onde esse café? 
 
LK: Hoje, são os Estados Unidos. 
 
HL: É o grande consumidor, né, é incrível o mercado de lá, pode ter briga o que for… 
 
LK: É uma máquina de consumo. 
 
HL: O pessoal consome mesmo. Agora, é um desafio, porque são negócios muito diferentes uns dos outros. Isso cabe ao pessoal de confiança que você tem que ter, porque mesmo que você, como seus amigos falam, viva no avião, não dá para estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Esse seu DNA, assim, inquieto, você acha que você puxou foi do seu avô? Dessa coisa mesmo do Libanês de querer fazer o comércio o tempo inteiro. 
 
LK: Uma parte é do sangue libanês. A minha mãe não era libanesa, mas era muito criativa e também muito acelerada, então sou um pouco de cada coisa, né, e dá vontade também de trabalhar, de vencer, de construir, eu falo que hoje não é nem o dinheiro, hoje é o prazer. Se você faz só pelo dinheiro não vai, né, então hoje é a gente conquistar, a gente conseguir, eu me divirto trabalhando. 
 
HL: Por isso que está com essa cara boa, gente, com esse sorriso o tempo inteiro no rosto, porque tem empresário que fica naquela preocupação com resultado, com caixa, com dívida e não está curtindo. Eu sinto que você curte o que você faz.  
 
LK: Eu curto e eu falo “a gente mexe com negócios que são commodities”, então eu brinco aqui com a turma “preço a gente não controla. O preço do minério, preço do café, preço do dólar, eu nunca vi ninguém acertar preço do dólar nem preço de minério de ferro”. Então, o que nós temos que ter? A única coisa que a gente controla é custo, então é focar no custo baixo, na operação sustentável, na operação organizada. Hoje, a gente dá um pouco disso para os funcionários… 
 
HL: Então tem uma participação, né? Vocês agradam o bolso dos funcionários. Precisa, né? Só coração não adianta. 
 
LK: Ninguém tem que ganhar dinheiro sozinho. Então, eu acho que nós criamos um modelo de mineração bacana, nosso turnover de funcionário é muito baixo.  
 
HL: Vocês têm gente aqui com vocês desde o início? 
 
LK: Desde o início, quase todo mundo. Só que a cobrança também é forte, eu falo “quem não aguenta pressão não tem jeito de trabalhar aqui, porque aqui é pressão o dia inteiro”. Então, falando um pouco, nós paramos aí quase 4 anos nessa questão dos 7 milhões de toneladas de minério de ferro até a expansão, nós estamos expandindo Mariana, que é um projeto que está em fase final de licenciamento. 
 
HL: Já está na operação? Vocês já conseguiram? 
 
LK: Não. Mariana nós operamos lá em torno de 3 milhões de toneladas. Agora, nós estamos fazendo uma expansão para 7 milhões de toneladas, e é um projeto que nós começamos, um projeto muito bem desenhado, um projeto diferente com investimento aí de aproximadamente, hoje, em torno de R$ 4 bilhões só em Mariana. 
 
HL: Só Mariana está demandando esse volume? 
 
LK: É, vai ser um projeto integrado, um projeto de produção de pellet feed. 
 
HL: Pois é, isso que eu queria saber de você, porque o pellet feed é um minério sustentável, tem 50% a menos de emissão de gás carbônico, mas é um mercado de grandes players, a gente não vê tanta gente fazendo pelota, né?  
 
LK: Não, mas o pellet feed é o que vai para fazer pelota, nós não vamos fazer pelota. O pellet feed é um minério, hoje, de altíssimo teor. 
 
HL: Está com quanto o de vocês? 
 
LK: Nós vamos levá-lo para quase 68% de ferro, uma arsílica muito baixa, abaixo de um, um fósforo muito baixo, e hoje não tem grandes players. Hoje, o maior player de pellet feed Anglo American, com projeto Minas-Rio, que é um projeto fantástico… 
 
HL: Lá em Conceição do Mato Dentro (MG). 
 
LK: E a Austrália não produz pellet feed, não tem como produzir. Uma que ela não tem água e outra que o minério dela não é concentrado, é de baixo teor. Então, nessa transição energética, o pellet feed vai ser o mais demandado, é o negócio que a gente está mirando e focando, porque eu acho que é um minério que vai ter um prêmio bem melhor de valor de venda. 
 
HL: Você acha que a tonelada dele tem espaço para chegar a quanto nesse mercado? 
 
LK: Em torno de 20% do valor do platts 62, então a gente acha que já tem um prêmio, é o minério, que eu brinco aí, que é contra a crise. 
 
HL: E é o que vai ser mais demandado, né. 
 
LK: E é outra questão de sustentabilidade. Eu acho que tem que partir para isso, é um minério que vai ter um mercado muito grande. Hoje, esse minério está sendo muito demandado do Oriente Médio para aí sim fazer a pelota, você manda o minério e eles fazem a pelota lá, por causa do gás, né, o gás lá é seis vezes e você pelotiza com gás, com a pelotizadora. 
 
HL: É o que a gente não tem aqui ainda. Até tem, mas está muito incipiente ainda, fica muito caro fazer aqui e mandar daqui. 
 
LK: Então esse projeto é um projeto que nós desenhamos desde o começo, é um projeto que nós vamos ter uma TCLD, que é uma correia transportadora de 19 km que nós vamos linkar elas dentro do terminal, então nós vamos acabar com o caminhão, não tem que transportar de caminhão. 
 
HL: Esse é o grande problema da mineração, né, ainda mais na 040, que é nevrálgica. 
 
LK: A BR-381… e eu falo para todo mundo, tem que sair da zona de conforto. Eu acho que todo mundo tem que buscar a sustentabilidade, buscar o bem social, eu falo “pô, a gente é minerador, mas não é justo a gente ficar botando duas, três, quatro, cinco mil carretas numa BR-040, na BR-381 provocando acidente, se tem meios, hoje, de engenharia, para retirar essas carretas da rodovia. Eu acho que o empresário tem que ter essa consciência, não é só ir lá extrair e esquecer que existe gente, existe sociedade. Eu acho que a gente tem, por uma visão, algo diferente disso, o capex no início é maior, mas seu retorno com opex, o custo da operação é muito menor.  
 
HL: Você já repõe isso tudo no caixa. É rápido o que, para você? Em quantos anos você acha que repõe? 
 
LK: Uns quatro, cinco anos. 
 
HL: Você tem caixa para aguentar esse… E o capex é de quanto, Lucas, para você fazer esse investimento todo, assim, de correia, de um empilhamento a seco?  
 
LK: O capex de Mariana é em torno de R$ 4 bilhões, com tudo, planta… 
 
HL: Aí é todo aquele complexo minerário. 
 
LK: Todo o complexo. É bem desenhada a engenharia, muito detalhada, feita com grandes players internacionais. 
 
HL: Quem está mais, assim, que tipo de fundo que está investindo mais nessa expansão de Mariana, do minério de ferro? São os próprios compradores desse minério ou não, você conseguiu fazer roadshow? 
 
LK: Não, hoje você tem vendas, com esse minério, certas, né. 
 
HL: Garantido. Você já está com os compradores já com contratos futuros, tudo pronto? 
 
LK: Tudo, com contrato de mais de 20 anos. 
 
HL: Ah não, então tem que botar para quebrar mesmo aí na produção. E é tudo de qual país, predominantemente, Lucas? 
 
LK: Hoje esse minério vai muito para o Oriente Médio  
 
HL: Ásia, Oriente Médio, praticamente para esses destinos? 
 
LK: É. E hoje o pellet feed você vai produzir onde? Hoje é em Minas Gerais. No Pará, você não produz, já é um minério muito rico, é o direct-to-chip, é um minério que você tira e vai embora. Então, onde tem isso? Porque para produzir pellet feed precisa de água e energia, e hoje nós temos transição energética, nós temos energia limpa, nós temos água, temos minério, que a característica do minério de Minas que empobreceu, hoje a média de teor de ferro em Minas é em torno de 40%, mas é um minério friável e que concentra muito fácil. 
 
HL: Dá para misturar, porque ele tem manejo. 
 
LK: A grande fronteira de pellet feed hoje, no mundo, é Minas. 
 
HL: É o grande eldorado. 
 
LK: É, porque a África tem esse minério, mas tem insegurança jurídica, a Austrália tem minério, mas não tem tecnologia e não tem água, então o minério australiano está empobrecendo a cada ano. Então, é a oportunidade de o Brasil dar uma desmanchada nisso, principalmente no nosso Estado, Minas Gerais. 
 
HL: Lucas, como está a extração de Minas? Está muito profundo, ele já está muito abaixo? Porque o Pará tem isso, né, ele ainda está um pouco em cima da terra.  
 
LK: Em Minas já são minas bem mais antigas, então o minério, quanto mais em cima, mais rico, na hora que você vai aprofundando… 
 
HL: No caso de vocês, das suas minas, está há quantos metros?  
 
LK: Mariana, como era um projeto greenfield, que a gente licenciou do zero, o minério lá ainda a gente faz igual no Pará, é um minério que a gente não processa. Processa assim, brita, peneira e tudo, mas não tem tratamento ainda, concentração, que já é Nova Lima, por exemplo, que é 100% concentração, que aí já é mais antigo, que o minério é mais pobre e tudo. 
 
HL: E a questão das barragens, que a gente não pode ter mais, a montante, como você está fazendo? Nessa área de tecnologia de barragem, é tudo dry stacking, empilhamento a seco? 
 
LK: A primeira mineração a retirar uma barragem foi a gente, foi a Extrativa, a descaracterizar uma barragem. A gente tinha uma barragem lá que foi descaracterizada, hoje não existe mais, hoje é, desde essa época que a gente começou a descaracterização, é tudo filtragem, tudo filtro, prensa com empilhamento a seco. 
 
HL: Vocês vão fazer isso em todas? 
 
LK: Todas, hoje não tem jeito. 
 
HL: É o método mais seguro, apesar do investimento ser muito alto, mas é o mais seguro. 
 
LK: Hoje, a segurança tem que andar na frente. 
 
HL: Tem que ser, depois de tudo que aconteceu, não tem jeito. 
 
LK: Segurança, sustentabilidade, relacionamento com a sociedade, isso não tem como abrir mão, isso são os pilares aqui da Cedro. Hoje, onde a gente está operando nós temos um excelente relacionamento. 
 
HL: Isso que eu queria saber de você, como está com a comunidade e com os prefeitos. Eu fiz uma entrevista com o Prefeito de Mariana e ele me falou que o projeto da Cedro lá é gigantesco, é um dos grandes pilares também lá agora.  
 
LK: Nós estamos fazendo um projeto lá… 
 
HL: Está bom o relacionamento lá? As contrapartidas, vocês têm procurado fazer obras para a comunidade? 
 
LK: Muita coisa. Hoje a Cedro tem mais de 60 projetos sociais, hoje a maior creche privada do Estado é nossa, que é em Nova Lima. Hoje, já estamos com quase mil crianças lá atendidas, fica no bairro Jardim Canadá que é ao lado, muito próximo da operação. Em Mariana temos projeto de equoterapia, temos construção de campo, construção de praça, então isso aí é devolver um pouco para a comunidade, é muito importante. Então, hoje a gente não tem problemas, o relacionamento nosso com as comunidades é excelente.  
 
HL: Eu também fiz uma entrevista com o Prefeito de Congonhas e ele falou que eles estão estudando criar um licenciamento social de ter algumas outras contrapartidas na cidade. Você acha que isso é necessário no caso da Cedro ou não, você já chega e já pergunta o que querem, já é um diálogo aberto, transparente?  
 
LK: É isso, eu acho que o empreendedor que tem consciência não precisa ter imposto social, tem que estar na consciência dele, na vontade de executar, de fazer, acho que não tem essa contrapartida.  
 
HL: Me fala uma coisa. A gente tem aí quatro operações, né, Nova Lima, onde tudo começou, Mariana, que você está fazendo essa grande expansão, tem Barão de Cocais e tem também Itabirito. Como estão as operações em Barão de Cocais e Itabirito?  
 
LK: Tudo em fase de licenciamento ambiental. 
 
HL: Então lá não tem ainda o volume de investimentos que você vai ter que fazer? R$7 bilhões são Nova Lima e Mariana? 
 
LK: Agora nós estamos focados no licenciamento e na expansão de Mariana. 
 
HL: Essas outras duas unidades, outros dois complexos, são para que ano que você está vislumbrando? 
 
LK: A gente pensa em iniciar a pá de obra em meados de 2027 
 
HL: Você acha que até lá sai a licença prévia, pelo menos? 
 
LK: Eu só entro na hora que a gente tem certeza, porque a gente brinca, né, “mineração e eleição só depois da apuração”. Então, mineração… porque todo mundo acha que mineração tem uma reserva ali, tem uma montanha ali, é pegar, jogar no caminhão e dá dinheiro, e não é. Você tem que estudar, sondar, licenciar, fazer a caracterização do minério, ver se tem água, ver se tem energia, então se você quer fazer um projeto grande, é muito complexo, tem que ser muito bem arquitetado, muito bem desenhado, porque a gente já viu vários projetos no mundo dando errado. Então, a gente só entra na hora que a gente tem certeza. 
 
HL: Como é que essas áreas chegam para você? O pessoal fala, você faz primeiro uma pesquisa? 
 
LK: É, isso já são áreas que a gente adquiriu lá atrás. 
 
HL: Já tem certeza de que tem minério mesmo. 
 
LK: Hoje é muito complicado, hoje não tem muita coisa, está na mão de grandes empresas. 
 
HL: Que não vão vender, né. 
 
LK: Que não vão vender. Então, se você falar, hoje não tem muita coisa mais. 
 
HL: As reservas que você tem são para o próximo século? Elas têm volume para atender até o final desse século ou não, é minerando que vai vendo a capacidade? 
 
LK: Não. Como o capex, o investimento é muito alto, você tem que ter certeza. Hoje, o nosso projeto de Mariana foi desenhado e nós temos reserva confirmada para 22 anos. 
 
HL: Isso paga os custos todos? 
 
LK: Paga e tudo, e mineração, também, depois que você vai descendo, você vai conhecendo mais o ativo, pode ter como pode não ter. mas é o payback que a gente quer no negócio. A gente sabe que 20 anos, 22 anos paga o investimento e ainda tem uma rentabilidade, então é isso, é fazer projeto com começo, meio e fim, com gente, com grandes empresas internacionais que você não pode errar. 
 
HL: Não dá. Um deslize, começa a aumentar o custo, o negócio vai para o brejo. E aí, Lucas, falando em custos, tem mais ou menos, assim, quanto que está o custo para uma tonelada de minério atualmente? Ou é um número que o mercado não gosta de falar mesmo, porque é segredo, senão o concorrente vai para cima? 
 
LK: Cada um tem um custo, depende muito da gestão de cada um, mas é aquilo que eu falei, para você abaixar custo, hoje, você abaixa numa boa engenharia, no tentar diminuir o transporte, a logística de caminhão, que é muito caro, então é isso, é você tentar diminuir esse impacto. Você tem um capex inicial maior, mas depois você rentabiliza no opex, porque aí você tem um custo mais baixo, uma operação muito mais eficiente. 
 
HL: Essas outras duas minas, então, lá para 2027 que você vai poder me falar quanto você vai investir, mas não deve ser menos de R$ 7 bilhões também, né? 
 
LK: Não, porque o projeto é muito parecido. 
 
HL: O volume também. Essas duas, agora, chegam a 20 milhões de toneladas quando? 
 
LK: Acho que meados de 2027, início de 2028. 
 
HL: Por isso que você já está planejando o porto e a ferrovia, a short line na Serra Azul, aqui no quadrilátero ferrífero? O que você está enxergando? 
 
LK: São dois negócios diferentes. A questão do porto, nós temos outros negócios em andamento que são de expansão, mas eu não posso ainda falar, e a questão do porto é uma questão de sobrevivência. Se você falar “o negócio do Porto é um negócio rentável”. Não é, mas é um negócio de sobrevivência lá na frente e de planejamento.  
 
HL: Sobrevivência é o quê? É verticalizar o negócio? É você parar de depender de Santos? 
 
LK: Não. Hoje, minério de ferro, vamos lá, nós temos dois ramais em Minas: nós temos a malha da MRS, que vai para o Rio, que nós temos três portos: Vale, CSN e Trafigura Mubadala. Hoje, Vale tem uma capacidade ociosa de 8 a 9 milhões de toneladas, mas a Vale está expandindo as operações. CSN, hoje, já está no limite, a CSN já compra a janela do Porto Sudeste. Então, lá na frente o que pode acontecer? Eu acho que num futuro breve, até 2030, as grandes empresas que já possuem portos vão dar… porque, hoje, no Brasil, ferrovia é usuário dependente de carga, você tem obrigatoriedade de transportar a concessionária. Porto não, porto você praticamente embarca o que e para quem você quiser. 
 
HL: Você pode ter outros clientes também. 
 
LK: E lá na frente a verdade, hoje elas compram o minério de todos os mineradores, mas a rentabilidade delas na compra desse minério é pequena, a rentabilidade dela na produção é muito maior. Então, vai chegar uma hora que ela vai falar “eu vou parar de comprar aqui e vou encher meu porto com o meu minério”. Então, eu acho que a questão de porto é uma questão estratégica, imagina você com investimento de US$ 400 milhões, US$ 500 milhões e não tem porto. Então, essa questão do porto, além de ser uma questão estratégica para a sustentabilidade do grupo, o mundo vê a gente de outra forma. Os grandes traders mundiais, os grandes investidores, as grandes siderúrgicas mundiais não olhavam para os médios mineradores, porque “pô, e sua logística? Não tem” 
 
HL: Acabava saindo um minério caro para elas. 
 
LK: A conversa começava e já acabava ali mesmo. 
 
HL: Você recebeu muito não? Nessas de não ter o porto? 
 
LK: Recebe, e hoje depois que nós ganhamos o porto o interesse de fora pela Cedro mudou muito. Aí a turma fala “e dinheiro para fazer isso tudo?” 
 
HL: O mineiro fica numa preocupação, né? Cadê o dinheiro, gente? 
 
LK: O bom projeto não falta dinheiro. 
 
HL: E ele é todo baseado, não é? Não é uma coisa como a gente já viu aí no passado recente. 
 
LK: Esse ano eu fui para o Japão, já fui para o Oriente Médio duas vezes, já fui para a Austrália, já fui para a China, já fui para o mundo inteiro. 
 
HL: E o que você tem sentido da receptividade desse pessoal?  
 
LK: Excelente, pô, excelente.  
 
HL: Tanto o comprador, quanto o investidor? O fundo private equity para colocar dinheiro?  
 
LK: E, hoje, também, tem essa questão de dinheiro. O nosso grupo é muito organizado, muito estruturado, tem uma governança, eu falo que nós criamos a Cedro dentro dos pilares de governança, de compliance, de sustentabilidade, de organização. Hoje somos auditados há mais de 4 anos pela Big Four.  
 
HL: Aqueles modelos anticorrupção, né? 
 
LK: Tudo, né. Hoje é muito organizada, auditada, o grau de endividamento nosso é muito baixo. 
 
HL: Qual é atualmente, você pode falar? 
 
LK: O da mineração é zero. 
 
HL: Não é nem 1,3 vezes a dívida líquida versus ebitda? 
 
LK: Hoje está zerado. Até hoje, todo o investimento nosso na mineração foi feito com geração de caixa. 
 
HL: Você não vai precisar fazer financiamento nenhum? 
 
LK: Vamos. Para o act não, mas um projeto desse aí você financia em torno de 60% dele.  
 
HL: Você vai precisar de dinheiro para fazer o quê? O porto ou a ferrovia? Porque o porto são R$ 3 bilhões e 600 milhões. 
 
LK: O porto hoje nós já temos aprovado no Fundo da Marinha Mercante e estamos buscando um sócio internacional. 
 
HL: Para entrar com esse dinheiro ou não? 
 
LK: É pra entrar com dinheiro. 
 
HL: Mas é meio a meio ou vocês vão entrar também? Vocês estão vendo aí o modelo de negócio, né. 
 
LK: Mas do que eu posso falar, hoje tem entre 4 e 5 grandes investidores mundiais que a gente está conversando.  
 
HL: Que estão interessados, estão no páreo? 
 
LK: É, porque porto não é todo dia. Você tem 3 portos de minério no Rio, nós temos o Porto do Açu, da Anglo American, temos Vitória, que é 100% Vale e Samarco, e temos no Pará, que é Vale. Então, não é todo dia, e esse porto foi uma construção nossa de 4 anos sem saber se ia ganhar.  
 
HL: É, porque vocês entraram numa licitação, né? 
 
LK: Primeiro nós entramos, você faz uma doação, um compromisso com o Ministério de Infraestrutura, foi do Governo passado, há 4 anos atrás. Entramos, você faz um Evtea (Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental), você faz um compromisso de fazer o estudo e doar para o Ministério de Infraestrutura. Então, depois disso, ao longo desses 4 anos, foram 20 audiências públicas, foi Tribunal de Contas da União, e o que que podia acontecer? O leilão foi na B3, que o mundo inteiro poderia entrar, e acabou que nós participamos sozinhos. Por quê? Fica aquela dúvida, quem está fora fala “pô, cadê o minério?”. 
 
HL: Cadê a previsibilidade, a segurança jurídica? 
 
LK: Tem medo de entrar e competir com os grandes players que já estão consolidados. 
 
HL: Com custo de produção tranquilo. 
 
LK: Então, na vida tem que ter um pouquinho de coragem. 
 
HL: Muita, né, Lucas? Não é um pouquinho não, hein? Você teve medo? Assim, “vamos encarar essa, mas agora, ai meu Deus do céu, ganhamos, e aí o que eu faço?” 
 
LK: O que eu faço aí é com o pé no chão, mas é lógico que tem a ousadia. 
 
HL: Você consegue dormir? Você tem muita insônia? Você dorme pensando assim “nossa, eu tenho que pagar…” (risos) 
 
LK: Durmo muito bem, durmo de 7 a 8 horas. Você planta o bem e você colhe o bem. Então, tudo na hora certa, volta tudo pra você. Fizemos agro, tivemos agora uma proposta de um fundo estrangeiro para sair, fizemos energia renovável solar, vendemos, foi um negócio, então eu posso te falar que nos últimos 7, 8 anos aí tudo que nós fizemos foi bem-sucedido. 
 
HL: Deu tudo certo, né, não teve nada que você teve que sair e botar dinheiro do bolso para cobrir o prejuízo. 
 
LK: Não, porque não tem loucura, tem trabalho, dedicação, time, que é importantíssimo, olho os números, sei detalhe de custo nosso operacional e é isso, você trabalhando com seriedade o sucesso vem. 
 
HL: Este porto está para entrar em operação em 2027 também? Como está? 
 
LK: O porto está em licenciamento ambiental. Depois que nós ganhamos, nós começamos, hoje estamos sondando, fazendo batimetria, sondando um onshore e offshore e estamos fazendo aí o RIMA (Relatório de Impacto Ambiental) todo. Devemos entrar com o protocolo de licenciamento, que é no Rio de Janeiro, em outubro, novembro, então eu acho que em 1 ano, 10 meses a gente obtém essa licença, porque já é uma área antropizada. 
 
HL: Não é um negócio do zero que vai ter que passar por toda aquela coisa. 
 
LK: Não. Então pretendemos ter essa licença aí até meados do ano que vem e aí são mais 2 anos e meio a 3 de obra, então nós estamos falando em 2029, que é quando eu acho que vai acabar essa janela. 
 
HL: Já saiu o ramp up também da produção aqui, você já está nas 20 milhões de toneladas. 
 
LK: Exatamente, vai nascer tudo junto. 
 
HL: Aí esse porto, você vai ocupá-lo todo com a sua produção ou você vai também alugar? Você vai ter outros clientes também, já tem gente interessada, você já movimentou esse mercado portuário no Brasil? 
 
LK: Eu acho que tudo na vida é isso, é uma etapa. Igual quando eu comecei a fazenda de café, a turma do café falou “ah, vai quebrar”, e hoje é uma fazenda modelo. 
 
HL: Por que você acha que o pessoal fala isso? Por que você era forasteiro (fora do ramo)? 
 
LK: Isso é do ser humano. Hoje é uma fazenda referência no Brasil, com todos os certificados de sustentabilidade internacionais. 
 
HL: Contratos futuros garantidos também para os próximos anos, né? 
 
LK: Não, também não fazemos contratos futuros. 
 
HL: É, porque depois desse problema do dólar aí, né, tem muita exportadora tendo problemas. 
 
LK: Eu falo que tem um ditado que diz “só pega o andabor quem está no mar”. Não adianta você falar “pô, o minério está baixo”, mas uma hora ele vai subir, tem a curva. Não adianta na hora que o minério está 200 dólares você querer abrir uma mina, não é de uma hora para outra, você querer plantar uma fazenda de café do dia para a noite. Tudo tem o processo de maturação. 
 
HL: Legal, Lucas. E a shortline, hein? Como vai ser? Conta assim, ela está saindo de onde para onde, vai tirar quantos caminhões da estrada, você já tem esses números todos? 
 
LK: Vamos lá. Shortline foi o mesmo modelo do porto, a gente, hoje, tem o Complexo Serra Azul, que tem 4 a 5 grandes mineradoras que hoje trafegam na BR-381 botando em torno de 3 mil a 4 mil carretas para acessar o terminal mais próximo do ramal da MRS. 
 
HL: Essas 3 mil ou 4 mil carretas, qual é a periodicidade delas? Isso aí é por dia? 
 
LK: Por dia. 
 
HL: Gente, isso é chocante, é por isso que a gente está vendo tantos acidentes. 
 
LK: E isso foi outra coisa que nós tivemos a ideia, tivemos a ousadia, fizemos um projeto, entramos na ANTT, a Agência Nacional de Transportes Terrestres, abriu o edital, todas as empresas poderiam ter participado, ninguém participou e a Cedro ganhou. Eu não segurei ninguém, isso aí é público, cada um entra… entramos, tivemos, e eu, na minha visão, falei “esse projeto vai ser fantástico, é um projeto que não é só o retorno financeiro, é um legado que você deixa”. 
 
HL: Isso é desenvolvimento. 
 
LK: É desenvolvimento. Eu falo “qual é a grande obra do Estado, dos últimos 20 anos, com investimento de R$ 1.5 bilhão ou R$ 1.6 bilhão, 100% com recurso privado que vai tirar as carretas da rodovia?” O que eu vou fazer? Eu vou encurtar os terminais, então em vez de andar, como é uma linha reta, em cada operação das mineradoras, a gente vai colocar um terminal de carregamento. Então, é carreta zero, é transporte zero. 
 
HL: E aí esse terminal… 
 
LK: A locomotiva já entra na malha principal da MRS 
 
HL: Você não vai ter interferência de caminhão? 
 
LK: Zero. Eu acho que isso é consciência, porque hoje nós temos um estudo, podemos até dividir ele aqui, hoje morrem mais de 80 pessoas naquele trecho todo ano. Então, tem que ter, todo mundo, tem que ter consciência ambiental, consciência social. Aí depois “mas pô, a Cedro fez, porque ninguém fez?”  
 
HL: Estava aí, né, era só entrar e propor. 
 
LK: Então, eu brinquei uma vez com um amigo, falei “esse projeto”, o dia que saiu a aprovação, “esse projeto eu quero ver quem vai jogar pedra”. 
 
HL: Você tira o caminhão, retira o custo de produção.  
 
LK: Vai retirar 45 mil toneladas de carbono todo ano da atmosfera, então se eu achar alguém para botar um defeito num projeto desse… hoje, os Estados Unidos, igual você falou, é uma máquina, no começo da entrevista, hoje os Estados Unidos têm 720 ramais ferroviários.  
 
HL: Olha só, e a gente tem quantos? 
 
LK: Tem nenhum, vai ser o primeiro. Está saindo um novo, que é de um grupo também que eu admiro, que é a J&F, né, que é um grupo ousado que vai construir um ramal lá no Mato Grosso do Sul de celulose para tirar as carretas da rodovia do Mato Grosso. Então, é um projeto que tinha que soltar foguete, todo mundo apoiar, porque é um projeto fantástico. E as vidas que ficaram para trás, né?  
 
HL: Ninguém paga. 
 
LK: Ninguém paga. Então, é isso, é um pouco de coragem, e outro ponto positivo é que as mineradoras vão ter uma economia de transporte. 
 
HL: Você já fez essas contas de quanto vai ser a economia de transporte? 
 
LK: De milhões.  
 
HL: Mas no custo ali é o que? Uns 10%? Chega a 10% do custo de produção?  
 
LK: Não vamos falar de produção, vamos falar de custo de transporte, de logística. Vai chegar a uma economia de mais de 40%. 
 
HL: O Transporte impacta em quantos por cento hoje na atividade?  
 
LK: Em muito. Hoje, o transporte deve estar impactando em mais de 40% do custo. 
 
HL: Meu Deus, é muita coisa. 
 
LK: Muita coisa. Então, na hora que vem a crise, se você não tem uma logística integrada, você fecha, você não aguenta, porque, hoje, as grandes empresas, como a Vale, a CSN, todas as operações delas têm terminais de carregamento dentro, elas foram planejadas para isso, e é o que a gente pode fazer hoje. É exatamente isso, é planejar acabando com caminhão, com carreta em rodovia.  
 
HL: Essa shortline aí vai ter um nome? 
 
LK: Ramal Ferroviário Serra Azul.  
 
HL: Serra Azul, já está definido. E o nome do porto é Porto de Itaguaí, que é no Rio de Janeiro. Essa ferrovia vai servir a essas quatro cidades onde você… 
 
LK: 4 mineradoras, de 4 a 5 mineradoras, 
 
HL: Mas a Cedro vai conseguir atender Barão de Cocais, Itabirito, Nova Lima e Mariana? 
 
LK: Não, não tem minério meu nesse negócio. Esse ramal ferroviário é infraestrutura, é um business de infra. 
 
HL: É para atender outras mineradoras? 
 
LK: Da qual eu achei que eles iam soltar foguete e não tacar pedra. 
 
HL: Estão jogando muita pedra, você acha? É uma luta, né. 
 
LK: Mas nós vamos construir 
 
HL: Todo visionário é isso, né, estava lembrando o Visconde de Mauá na palestra lá que você viu… 
 
LK: Tem que ter coragem. Eu falo, hoje nós estamos no século 21. 
 
HL: Mas às vezes parece que é século passado, né? 
 
LK: Você vê as grandes obras estruturantes do país, gente, eles fizeram a Ferro Carajás, eles fizeram a Vitória-Minas, eles fizeram a MRS Minas-Rio, o próprio Minas-Rio que já foi feito bem mais recente, e hoje com a evolução que nós temos de tecnologia de engenharia, tem que sair da zona de conforto, andar, ver, porque todo mundo fala “por que não faz isso, não faz aquilo?”. Gente, por que ninguém fez? Eu vou fazer, vou fazer o porto, vou fazer o ramal ferroviário, vou colocar Mariana de pé, que vai ser um case de mineração interligada, então é um pouco disso, é acreditar, e não é com maluquice, é com pé no chão  
 
HL: É pé no chão, não é com a economia do mercado futuro, “ah, que eu vou vender essa ação, vai ter petróleo…”, não, já está aí tudo. E Deixa eu falar sobre um outro business que você entrou também, que é o BTS, o built-to-suit, que com a Oncoclínicas você está construindo, para eles, 3 hospitais aqui no Brasil e tem 1 nos Emirados Árabes também, né? 
 
LK: Nós estamos olhando, estamos avançando, mas isso aí também foi uma oportunidade de botar, nessa parte da geração de caixa da mineração, que nós entramos e que tivemos oportunidade de investir nesse projeto. Então, compramos 3 grandes terrenos: Belo Horizonte, Goiânia e São Paulo. Em Goiânia vamos inaugurar dia 10 de novembro. 
 
HL: Eu vi lá, você postou, já está enorme, mais de 400 leitos.  
 
LK: É isso. A gente ia buscar um parceiro lá atrás, estamos colocando isso dentro de um fundo e a gente estava buscando parceiro, mas quando ia entrar, até fundos diziam “mas se não sair? Se a licença não sair?” e eu falei “gente, é isso que a gente sabe fazer, vamos botar de pé!” Licenciamos Goiânia, estamos quase terminando, hoje temos lá mais de mil funcionários trabalhando, é uma obra e um modelo de hospital referência no mundo, pegamos arquitetos, mandamos para fora do Brasil, então é um hospital planejado para ser hospital. 
 
HL: Não tem puxadinho, outra expansão. 
 
LK: Então, Belo Horizonte veio, foi uma felicidade comprar esse terreno, aprovamos o projeto, já iniciamos as obras. 
 
HL:  Já começou? Esse fica pronto para quando?  
 
LK: Belo Horizonte são 2 anos e meio, porque toda a estrutura metálica já foi contratada anteriormente, então é como se fosse um lego, você faz a fundação e vai montando. 
 
HL: Esse também é para mais de 400 leitos? 
 
LK: Esse é de quatrocentos e quarenta leitos.  
 
HL: É tudo assim, né, 441,  440. E o outro que ainda tem também? 
 
LK: É São Paulo, que nós estamos terminando a licença, está em fase final, é um terreno fantástico que nós compramos na Vergueiro com a 23 de maio, é em frente à Beneficência Portuguesa, então lá, como é um terreno grande, vai ser um complexo com hospital, comercial e uma torre de 900 apartamentos. 
 
HL: E, assim, vai funcionar desse jeito? Você constrói, depois você aluga para um ou mais clientes que sabem administrar, gerenciar? 
 
LK: Então, nesse meio tempo da geração de caixa e do licenciamento, nós montamos um setor aqui tipo um private equity, entrava, colocava de pé e vendia. Entramos em fazendas afora no Norte, vendemos, então nós fizemos solar, vendemos, então, não é de hoje, hoje eles têm que me segurar, porque agora eu voltei os olhos para a mineração, que é onde está a nossa expansão, onde é o nosso core business, onde a gente tem expertise. Só que não adiantava eu ficar sentado em cima do caixa sem licença, então agora nós estamos com o licenciamento correto, que é demorado. 
 
HL: E tem que ser, não é, Lucas? Porque é uma intervenção muito grande. 
 
LK: Então voltamos agora para a mineração e nos próximos 2, 3 anos vamos olhar só para as expansões, não vamos entrar em novos negócios. 
 
HL: Quem assistir a essa entrevista e falar “vou apresentar um projeto para o Lucas, do lítio, do ouro verde lá do Vale do Jequitinhonha” .... 
 
LK: Até que eu gosto de escutar. 
 
HL: O olho brilha com as oportunidades, e tem várias aí, né, mas aí também diversificar demais… você já está em 6 negócios diferentes  
 
LK: Agora é olhar para dentro, nós nascemos, demos um salto grande, ficamos 3 a 4 anos aí estabilizados, preparando, estruturando equipe e estamos com uma equipe muito boa. 
 
HL: Você tem quantos funcionários hoje, Lucas? 
 
LK: Hoje são mais de mil funcionários. 
 
HL: Espalhados nessas regiões todas aí, né. 
 
LK: Hoje, muita operação nossa, a parte de transporte, equipamento, é tudo terceirizado. 
 
HL: Agora, a sede continua em Nova Lima, né? Eu conversei com a Biomm, conversei com o Heraldo Marchezini e ele está animado com vocês também. Vocês têm 8%, a Cedro tem 8% de participação na Biomm, que a Biotecnologia Minas Gerais, vai ser também outro eldorado aí nos medicamentos biomédicos. Vocês vão aumentar essa participação lá? O que você está esperando aí? 
 
LK: Se tiver oportunidade, nós vamos.  
 
HL: Eles vêm com novos produtos aí, já estão com a insulina líder de mercado e vem os novos genéricos. 
 
LK: Eu estou muito animado com a Biomm, é um projeto bacana, um projeto ousado, de coragem do Walfrido, do Heraldo, dos antigos e dos atuais, de quem entrou no começo e acreditou na Biomm, mas é um projeto fantástico, é a única fábrica de insulina da América Latina. 
 
HL: Ou seja, a gente precisa ter independência. 
 
LK: Então, eu acho que a Biomm daqui para frente é só para cima. 
 
HL: Você acha que ela já começa a rentabilizar agora? Assim, o negócio todo que você fez durante esses anos todos aí? 
 
LK: Esse ano não, porque tem muito capital de giro, mas acho que a partir do ano que vem, eu acho que é um negócio tão promissor que podemos pensar até em expandir, porque nós não estamos falando aqui de algo que tem muito mercado, você tem um mercado oncológico, você tem um mercado de insulina de diabético. 
 
HL: Do emagrecimento, da obesidade. 
 
LK: E não tem fábrica, né, hoje quase tudo vem fora. 
 
HL: Tudo player externo. Então, é ter a nossa tecnologia aqui para não chegar igual a pandemia que a gente ficou aí na dependência. Você tem, mais ou menos, quantos fundos que participam do grupo Cedro? 
 
LK: Não tenho nem ideia.  
 
HL: É um portfólio grande, né. IPO você não quer, não quer ter dono, ter que ficar performando de 3 em 3 meses, pagando dividendo? 
 
LK: Não, eu brinco, “crescer é igual o casamento, a empresa, né, se você não tiver bem no dia a dia não vai pra frente”. Então, eu acho que, hoje, mineração é um negócio que o valor de ebitda é muito baixo, estamos falando em 2, 3 vezes o ebitda. Se for o mercado farmacêutico não, aí é 15, muda o curso, aí você entra e vai embora, eu falo que se eu tiver que fazer, eu tenho que ir embora (risos).  
 
HL: Vai nada, você vai crescer cada vez mais. Lucas, então, assim, diante de todos esses investimentos, agora para terminar, você está muito otimista mesmo com essas mudanças, essa coisa toda em torno da mineração? É o imposto do pecado, é toda essa discussão que tem em torno do negócio, vale a pena assim mesmo? 
 
LK: Vale.   
 
HL: Você acha que podia melhorar alguma coisa? Você fala muito em debêntures incentivadas para mineração, que não tem, né, e que é altamente rentável. Eu vejo outras áreas aí, por exemplo o setor de água e esgoto lançando, rentabiliza muito mais. 
 
LK: Nós precisamos nos comunicar mais, mostrar mais o que é a mineração, acho que falta sim.  
 
HL: Porque tudo tem minério. A gente olha essa sala aqui, tudo tem minério, não dá para viver sem minério.  
 
LK: Só que não tem, igual saneamento, igual infraestrutura, a mineração só tem ônus, não tem bônus. Então, eu acho que falta um pouco de união do setor. Você tem um setor do agro que é fortíssimo, e eu acho que tem que ter união, é um ajudar o outro, não é um tacar pedra no outro, porque mineração não tem concorrência. Aqui no Brasil, você nunca vai concorrer com a Vale, ela é uma gigante, então a concorrência é deles lá fora, aqui no Brasil tem que estar juntos, um ajudando o outro para buscar o melhor para o nosso setor. 
 
HL: Então, aí cabe a você liderar essa nova união do setor, ver o que você pode fazer. E família, você está com quantos filhos? 
 
LK: Três filhos  
 
HL: Vai ter mais? 
 
LK: Não, acabou (risos). Está bom. Já estou com a minha esposa, a Raquel, há 23 anos, hoje eles moram, meu filho mais velho mora em São Paulo, a minha esposa e meus filhos moram nos Estados Unidos. 
 
HL: Nossa, aí você vai também para lá? 
 
LK: Vou e volto, vou e volto. 
 
HL: E por que essa opção de morar lá? 
 
LK: Não, porque é uma idade… o Theo está com 10, a Maria Fernanda está com 14, eu acho que é a fase que você consegue levar seu filho para onde você quer, né, buscar aprendizado, outra cultura, inglês, e depois na juventude eles não querem saber dos pais mais não, né, eles querem voar sozinhos.  
 
HL: Mas depois você vai querer que eles voltem, né? Para cuidar do negócio. 
 
LK: Vão voltar. Eles estão lá já tem 1 ano e meio, vão ficar mais 1 ano para aperfeiçoar no inglês, saber o que querem, porque nessa idade de 15 a 16 já quer saber se quer ficar lá ou ficar aqui. Eu adoro os Estados Unidos, a segurança, meus meninos vão para a escola de patinete todos os dias. 
 
HL: Aqui a gente ainda tem uma vida razoavelmente boa, não tem esse negócio de carro blindado, essas coisas, que o pessoal de São Paulo fica falando, mas eu acho que ainda precisa avançar muito a qualidade de vida, as pessoas querem, e eu pergunto isso muito para os empresários, mesmo bilionários, eles querem ter qualidade de vida na cidade deles para morar, para viver ali. 
 
LK: Você vê que os grandes empresários do nosso Estado estão quase todos aqui. 
 
HL: Eles querem ficar aqui. 
 
LK: Querem ficar, porque é a terra deles, né. 
 
HL: É importante isso. Lucas, muito obrigada, menino, já passamos aí do tempo, eu agradeço, muito obrigada por essa conversa maravilhosa, estimuladora, acho que vai incentivar muita gente a acreditar nos sonhos. 
 
LK: Tem que acreditar. Eu ando o mundo inteiro, o Brasil é um país fantástico de oportunidades. 
 
HL: É muita oportunidade aqui, é muito vasta a economia. 
 
LK: Eu acho que tem que ter essa união do setor empresarial, do setor público, eu acho que tem que acreditar e trabalhar. Eu brinco “quem ganha dinheiro no Brasil, ganha em qualquer lugar do Mundo”. 
 
HL: É mesmo, porque para se virar aqui, cada dia é uma lei, cada dia o empresário tem que se adaptar rapidamente, às vezes a área contábil é maior do que a área de produção… 
 
LK: Tem que ter confiança, é isso aí que eu te falei, tem que acordar rindo. 
 
HL: Não é? É isso aí que você faz, a entrevista toda, gente, foi aqui no sorriso. Dá a receita aí do corpo em dia, da mente em dia. Você está com quantos anos, Lucas?  
 
LK: Vou fazer 46 agora em julho.  
 
HL: Está novo, nossa. Você tem alguma rotina de exercício? 
 
LK: Todos os dias exercícios, 6 vezes na semana, às 05:30 da manhã, não tem outro jeito. Eu sou muito muito caseiro, meu fim de semana, quando eu… ontem mesmo eu estava fora, fui para Brasília domingo, então não paro e aí e o fim de semana é quieto, na hora que eu posso ficar quieto com a família, quieto dentro de casa, descansando, eu não sou muito de rua, mas isso que é bom, eu gosto de trabalhar e fim de semana eu gosto de ficar quieto recarregando a bateria. 
 
HL: Porque senão também não aguenta. Você tem algum sonho ainda que você quer realizar, ou esses aí já são bastante? Minério, você quer chegar a algum volume, assim, que é o seu teto? 
 
LK: Não, é o dia a dia mesmo. 
 
HL: Chegando nesses 20 milhões (de toneladas) você para? 
 
LK: Não, eu falo que chega uma época, uma hora da sua vida que não é nem por dinheiro. 
 
HL: Porque você não vai conseguir gastar todo o dinheiro que você arrecadou nessa vida. 
 
LK: Eu sou um cara tranquilo, low profile, não gosto muito… isso é conquista, o gostoso disso não é nenhum dinheiro, lógico que o dinheiro faz parte, é consequência, mas o bom é você fazer, você ver que aquilo lá está ficando de pé. 
 
HL: Que você está gerando emprego, renda, desenvolvimento, sendo referência como empresário, a perenidade da marca da Cedro, isso aí é importante mesmo. Você tem alguma religião, acredita em Deus? 
 
LK: Sou católico fervoroso, a minha santa Nossa senhora Aparecida, acredito nisso. Tem que ter, a vida é assim, você vai fazendo, vai plantando o bem, você vai colher o bem, é isso aí. Até nessa questão espiritual tem que estar, né, porque a pressão é muito grande. 
 
HL: Tem que ter essa força da oração e muita fé.