Serviço

Comportamento ao volante faz toda a diferença

Dirigir preventivamente é o modo mais eficaz para evitar acidentes de trânsito, mas muitos motoristas não dão a devida atenção aos cuidados

Por Da Redação
Publicado em 20 de setembro de 2017 | 03:00
 
 
Direção preventiva reduz as chances de se recorrer a ações defensivas Foto: FREEPIC IMAGES

O Brasil é recordista em acidentes fatais. Segundo a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), números da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam uma média de 50 mil óbitos anuais na malha viária do país. Diariamente, em média, 254 pessoas perdem a vida em decorrência de acidentes de trânsito. “É como se todos os dias caísse uma aeronave comercial”, exemplifica o médico Aly Yassine, diretor de inovação da Abramet. Ele explica ainda que a maioria das vítimas é do sexo masculino e tem entre 19 e 29 anos. “Isso mostra que ainda há muito machismo na mentalidade dos motoristas”, destaca.

Mais espantosa que a grandeza dos números é a constatação de que a maioria dos acidentes tem uma causa única. Para apontá-la, Yassine cita dados do Ministério da Saúde: “Das situações que acontecem no trânsito, 94% são falhas humanas. Essas falhas precisam ser trabalhadas”, explica o especialista, que, justamente devido à relação direta entre as ocorrências e o comportamento de motoristas e motociclistas, sugere uma mudança na terminologia sobre o tema. “Penso que a palavra acidente nem deveria ser utilizada, porque ela leva o responsável a se isentar da culpa. Geralmente, foi ele (o condutor) que optou por falar ao celular enquanto dirige ou por beber antes de pegar o volante”, pontua.

Desrespeito à legislação

As medidas para evitar acidentes são simples e muitos conhecidas pelos condutores, mas pouco aplicadas: passam por prudência, atenção e cumprimento da legislação. “O desrespeito às leis de trânsito como, por exemplo, o excesso de velocidade, cria um cenário contrário ao da ação preventiva, e, em determinadas situações, poderá gerar a perda do controle do veículo”, afirma Gerson Burin, coordenador técnico do Centro de Experimentação e Segurança Viária do Brasil-Mapfre (Cesvi-Mapfre). “A falta tanto da direção defensiva quanto de habilidade geram a combinação perfeita para um acidente”, acrescenta.

Os profissionais do Cesvi-Mapfre e da Abramet são unânimes em apontar o esclarecimento como maneira mais eficaz para reduzir o número de vítimas. “O descumprimento das leis de trânsito envolve questões ligadas aos fatores humano e comportamental. Todos sabem que um farol vermelho não deve ser ultrapassado, e mesmo assim, temos inúmeras infrações relacionadas a desrespeito ao semáforo. Falta uma maior conscientização”, pondera Burin. “Seguir as leis de trânsito traz mais segurança para o tráfego em todos os sentidos, tanto para motoristas como para pedestres. Atenção total, além de ser fundamental, é também uma forma preventiva de se transitar”, complementa.

Para Yassine, falta investimento do poder público em ações educativas para atuais e futuros motoristas e motociclistas. “Aproximadamente R$ 50 bilhões, o que corresponde a 2,3% do PIB brasileiro, são destinados a vítimas de trânsito. Esse valor deveria ser aplicado em estratégias preventivas. Nós temos que cuidar antes de a fatalidade acontecer”, diz. Outro fator apontado pelo médico da Abramet é a vigilância deficiente por parte das autoridades. “A educação, junto com a rigidez da fiscalização, são nossos maiores recursos”, conclui. 

Diferenças

Direção defensiva e preventiva 

Gerson Burin, do Cesvi-Mapfre, explica que há diferenças entre a direção preventiva e a defensiva, embora ambas sejam importantes para a segurança e devam ser adotadas pelo motorista. A primeira é baseada em ações para evitar o envolvimento em situações de risco. Já a segunda engloba técnicas de direção específicas para momentos nos quais há possibilidade iminente de colisão. 

Campanha

Semana Nacional do Trânsito

Entre os dias 18 e 25 de setembro, é realizada a Semana Nacional do Trânsito, com o tema “Minha escolha faz a diferença no trânsito”. “É exatamente por meio de campanhas como essa que conseguimos trazer a questão da educação dos condutores à tona”, avalia Aly Yassine, da Abramet. 

 

Álcool é segunda maior causa de acidentes

O uso de bebidas alcoólicas ao volante é a segunda maior causa de acidentes de trânsito no mundo, atrás do excesso de velocidade e à frente do uso do celular, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). “O álcool é a droga lícita mais fatal da sociedade. Mesmo em pequenas doses, como uma taça de vinho ou meia lata de cerveja, ele já é capaz de alterar nossa concentração, nosso tempo de resposta e nossos movimentos físicos e cognitivos”, explica Aly Yassine, diretor de inovação da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet).

O especialista pondera que, embora os riscos de se dirigir sob o efeito do álcool sejam de conhecimento geral, muitas pessoas não veem problema em ingerir pequena quantidade de bebida antes de conduzir um veículo. “Não há limites seguros, pois uma dose de destilado, por exemplo, causa efeitos diferentes em cada indivíduo. Por isso, nós defendemos a tolerância zero ao volante”, afirma Yassine.

O especialista da Abramet acredita que a Lei Seca é uma evolução, mas que falta fiscalização. “Os gestores conhecem as zonas onde há maior consumo de álcool, mas não estabelecem pontos para realização de blitze”, adverte.

 

Celular a bordo é novo perigo

Motoristas e motociclistas têm derrapado em uma nova fonte de distração: o celular. Graças aos aplicativos e às múltiplas funcionalidades dos aparelhos atuais, os condutores não apenas tiram as mãos do volante para empunhá-los, como também desviam o olhar da via para examinar textos e vídeos. Além de ilegal, essa prática é perigosa. “As distrações no trânsito, como o uso de celulares, têm contribuído com os envolvimentos em acidentes”, explica o coordenador técnico do Centro de Experimentação e Segurança Viária do Brasil-Mapfre (Cesvi-Mapfre), Gerson Burin.

“Um estudo do jornal médico The New England of Medicine mostra que chamadas breves ao celular quadruplicam o risco de uma colisão”, afirma Aly Yassine, diretor de inovação da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet). “A nossa atenção fica dividida entre a conversa e o trânsito. O tempo de resposta diminui, e a percepção periférica fica muito prejudicada também”, explica o especialista, que aconselha todos que têm contato com o trânsito a deixar o aparelho de lado. “O pedestre também deve evitar o uso do celular enquanto atravessa a rua, por exemplo”, diz.

Uma pesquisa realizada neste ano pelo Cesvi-Mapfre aponta que, apenas para destravar o celular, um motorista gasta em média 1,5 s. Parece pouco, mas, se o veículo estiver a 50 km/h, esse intervalo corresponde a dirigir às cegas por 20,6 m, espaço que equivale a uma sequência de 10 motocicletas. A uma velocidade de 100 km/h, o condutor terá andado por 41,7 m sem perceber o que se passa no trânsito, distância análoga a duas carretas enfileiradas.

A utilização de outros recursos do aparelho demanda ainda mais tempo. São gastos 3,5 s para abrir o Facebook, período suficiente para o veículo andar 48,6 m à velocidade de 50 km/h. Essa distância aumenta para 97,2 m à grandeza de 100 km/h. Para carregar o Instragram, são necessários 3 s, nos quais o motorista percorre 41,7 m a 50 km/h, ou 83,3 m se estiver a 100 km/h.

Alessandro Rubio, coordenador técnico do Cesvi-Mapfre, pondera que os motoristas muitas vezes realizam várias operações em sequência no celular, o que aumenta ainda mais o tempo de distração. “Ao gravar um vídeo, é necessário considerar que há a necessidade de destravar o aparelho, abrir a câmera, iniciar a gravação e pará-la; ou seja, o motorista talvez tenha ficado sem olhar para a frente por aproximadamente 10 s. Para se ter uma ideia, isso significa trafegar por quase 280 m a 100 km/h”, adverte.

Infração

Multa. De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, o uso do celular é punido com multa de R$ 293,47 e com a perda de sete pontos na carteira de habilitação do motorista. O condutor ainda pode ser autuado por não dirigir com as duas mãos ao volante, o que também é considerado infração e gera multa de R$ 130,16, além do débito de cinco pontos no prontuário. Só é permitido deixar de manusear o volante para dar sinais de trânsito, mudar de marcha ou acionar equipamentos do veículo.