Avaliação

JAC J3 Turin tenta cair no gosto do brasileiro

Reestilizado com motor 1.5 flex, sedã compacto evolui discretamente; aperfeiçoamentos fizeram bem, mas poderiam ter ido mais além

Por Da Redação
Publicado em 09 de julho de 2014 | 17:37
 
 
Faróis trazem um refletor único para os fachos alto e baixo, mas há auxiliares de neblina Foto: Alexandre Carneiro

Quando a JAC Motors estreou no Brasil, no primeiro semestre de 2011, chamou a atenção por oferecer carros completinhos a preços muito competitivos. “Inesperado”, dizia o material publicitário da marca chinesa, que tinha Faustão como garoto-propaganda. Passados mais de três anos desde então, o cenário mudou. As alíquotas de IPI mais elevadas impostas para os automóveis importados deram fôlego aos produtos nacionais e afundaram as vendas das empresas que não têm fábrica no país.

Diante das novas tarifas fiscais, a JAC investiu em uma unidade industrial em Camaçari (BA), que tem previsão de entrar em atividade no ano que vem. Enquanto a obra não chega ao fim, a marca toma medidas pontuais para minimizar a perda de participação no mercado local. Uma delas foi reestilizar a gama J3, justamente aquela que foi a primeira a desembarcar no Brasil, anunciada pelo Faustão. A linha 2014 das versões Hatch e Turin (sedã) ganharam novos faróis, grade frontal, rodas, para-choques, painel e forrações de portas, além da opção de motor 1.5 flex.

O Carro&Cia avaliou um J3 Turin 1.5 Flex da safra 2014. Essa configuração, que é a top de linha do modelo, tem preço sugerido de R$ 41.990. Valor na média do segmento, mas longe de apresentar relação custo-benefício matadora. E se quando foi lançado o J3 se destacava pela oferta de itens de série, atualmente os equipamentos do modelo estão na média da concorrência. E não foi ele que ficou mais pelado, pois a lista de itens de série não foi alterada. É que, de lá pra cá, airbags e freios ABS se tornaram obrigatórios e estão presentes em todos os modelos do mercado. No mais, o sedã chinês traz de série ar-condicionado, direção hidráulica, retrovisores, travas e vidros elétricos, os últimos presentes também nas portas traseiras. Trata-se de um pacote interessante, mas que não chega a se sobressair. Falta, por exemplo, um computador de bordo, presente em veículos bem mais baratos. O diferencial fica por conta da garantia de seis anos. 

Interior. Uma das maiores evoluções proporcionadas pela reestilização fica por conta do quadro de instrumentos, que permite melhor visualização. Na versão anterior, o conta-giros e o velocímetro concêntricos eram confusos. A iluminação, agora laranja, também melhorou. A anterior, azul, tornava os mostradores ilegíveis sob a luz do sol. Redesenhado, o painel ficou mais vistoso, com muitos apliques cromados e peças que imitam laca.

Porém, em termos construtivos, o acabamento não denota evolução: olhares atentos rapidamente identificam parafusos à mostra, rebarbas plásticas e encaixes sem precisão. Nas portas, não há faixas de tecido nos descansa-braços ou em qualquer outro local. Além do mais, os revestimentos mostraram-se barulhentos. Apesar de registrar pouco mais de 3.000 km no hodômetro, a unidade avaliada já incomodava os ocupantes com vários ruídos internos: um proveniente do lado direito do painel, outro da porta dianteira direita e, por fim, um último do vidro do motorista, que vibrava dentro da canaleta quando estava entreaberto.

Comportamento mudou pouco. Como a JAC aplicou apenas uma reestilização ao J3, e não uma reformulação completa, as dimensões externas e internas do modelo não mudaram. Assim, o espaço interno continua apenas razoável, sem se destacar positiva ou negativamente. Na frente, não há do que reclamar. Atrás, os ocupantes se ressentem da distância entre-eixos curta, de 2,4 m, que restringe a área destinada para as pernas. Adultos de média estatura se acomodam bem, mas pessoas mais altas ficarão com os joelhos e a cabeça espremidos. O porta-malas tem capacidade declarada para 490 l de bagagem. Bom volume, mas o vão de entrada do compartimento é pequeno, o que compromete a colocação de objetos grandes.

A não ser pela citada nova configuração dos instrumentos, a reestilização não trouxe benefícios ao motorista. O volante é novo, mas tem aro muito fino, que compromete a pegada. Ele é ajustável em altura, mas não em profundidade. E por falar em regulagem de altura, não foi desta vez que o banco do J3 foi beneficiado por isso. Sem esses corriqueiros, porém úteis, equipamentos, condutores muito baixos ou muito altos podem não encontrar a postura apropriada a bordo.

Em movimento, tudo também continua como antes no JAC J3. A suspensão, com calibragem macia, filtra com eficiência as irregularidades do piso, mas compromete a estabilidade. Em curvas, a carroceria rola demais sobre os eixos, causando inclinação da carroceria. A direção, por sua vez, entrega pouca progressividade. Suave e confortável em manobras, torna-se leve demais em alta velocidade. O pedal de freio também é pouco progressivo e funciona na base do tudo ou nada.

O câmbio manual de cinco velocidades, único disponível para o J3, permanece desagradável de operar, com engates muito imprecisos e barulhentos. Por outro lado, o escalonamento é bom, sem buracos entre as marchas, aproveitando bem o potencial do propulsor, que aliás é um dos componentes que mais agradam no sedã. O 1.5 traz 16 válvulas com comando variável na admissão, administrado por corrente, que substitui a temida correia dentada. O resultado são 125 cv de potência com gasolina e 127 cv com etanol, enquanto o torque é de 15,5 kgfm e 15,7 kgfm, com os mesmos combustíveis, respectivamente. Valente, o propulsor se dá melhor em rotações mais altas, mas não decepciona nas baixas, entregando sempre boas respostas ao comando do acelerador.

Enfim, flexível.O sistema flex, principal novidade do conjunto mecânico, dispensa o incômodo tanquinho de partida a frio, que precisa ter seu nível verificado e completado de tempos em tempos. É pena que o isolamento acústico ruim permita a passagem de grande parte do ronco do propulsor para o habitáculo. Os ocupantes escutam alto o 1.5 trabalhando, principalmente nos giros mais elevados.

Ao fim da avaliação, fica a impressão de que a evolução do J3 poderia ter ido além, pois a maior parte das características negativas do modelo foi mantida. Mas a JAC já está se mexendo e promete produzir em Camaçari (BA) uma inédita linha de compactos. A marca não revelou detalhes sobre os futuros modelos nacionais, mas rumores apontam para uma geração inteiramente do J3, nas versões Hatch e Turin. Evolução que, além de bem-vinda, torna-se necessária diante da enxurrada de carros compactos mais modernos que chegaram ao mercado.