Avaliação

Para riscar o asfalto

Chevrolet Camaro é pura diversão para o motorista, mas revela-se pouco prático no dia a dia

Por Da Redação
Publicado em 29 de março de 2014 | 03:00
 
 
Linha 2014 do Camaro traz grade, faróis e para-choques reestliizados, além de novas rodas aro 20 Foto: Alexandre Carneiro

O Camaro é um legítimo fruto do “American way of life”. Nascido nos instigantes anos 60, o esportivo da Chevrolet logo ficou famoso pelo desempenho de seu motor V8 e pelo design de sua carroceria, agressiva e imponente. Do lançamento para cá, o cupê teve várias gerações, mas se manteve fiel às duas principais características que o consagraram.

Esse espírito de pujança, que remete diretamente aos Estados Unidos dos anos 60, é justamente o traço mais marcante na personalidade do Camaro. Tudo nele é superlativo, inclusive o tamanho (o comprimento chega a 4,8 m), o peso (o cupê tem 1.790 kg de massa) e o motor, um enorme V8 6.2 (com impressionantes 406 cv de potência e 56,7 kgfm de torque). Tudo isso embalado por uma carroceria de linhas magnéticas, que atrai olhares e cliques de câmeras de celulares por onde passa.

No mundo atual, no qual a preocupação com o meio-ambiente tornou até os carros esportivos mais leves e econômicos, o Camaro pode parecer extemporâneo, um resquício de uma época que já passou. Mas essa alma saudosista acaba tornando a experiência de guiá-lo mais particular. Se, por um lado, ele revela-se desajeitado para estacionar e beberrão na hora de abastecer – apesar da existência de um dispositivo que desativa metade dos cilindros em situações de baixa demanda, o registramos médias de 4,2 em circuito urbano e 5,2 km/l em trechos rodoviários – por outro, revela-se entusiasmante quando é acelerado com vigor em uma estrada desimpedida.

Acelera e freia com vigor 

Antes mesmo de ser colocado em movimento, o Camaro já começa a cativar o motorista. O volante, embora seja semelhante ao de outros modelos da Chevrolet, oferece ótima pegada, ao passo que a posição ao dirigir é bastante esportiva, com as pernas praticamente esticadas para a frente. Só os bancos poderiam envolver melhor o corpo.

Ao virar a chave, o ronco borbulhante, típico de um V8, instiga a acelerar. Um toque mais forte no pedal da direita é imediatamente respondido com um verdadeiro coice: mesmo com os controles de tração e estabilidade ativados, a traseira do cupê dá uma leve dançada, em virtude da força despejada sobre as rodas motrizes ali instaladas. Em poucos segundos, o ponteiro já devorou grande parte dos números do velocímetro e, a menos que se esteja em uma pista fechada, é preciso aliviar o pé para não atingir velocidades muito acima dos limites permitidos.

Devorador de retas, o cupê é um tanto intempestivo em trechos sinuosos. Não que ele seja instável, longe disso, mas a grande oferta de potência despejada nas rodas traseiras, aliada ao peso elevado, tornam um tanto difícil fazer correções de trajetória. Com o pé mais leve, ele subesterça nas tomadas das curvas e mostra comportamento mais dócil, mas pressões além da conta no acelerador provocam reações sobre-esterçantes, que exigem perícia.Já a direção, com assistência elétrica, cumpre seu papel: apesar de ser leve em manobras, mostra-se firme em alta velocidade.

Se quiser ter maior controle sobre o carro, o motorista pode explorar o câmbio, que apesar de ser um automático convencional, com seis marchas, número até acanhado para um carro de alta performance, inclui paddle-shifts no volante, que permitem fazer trocas sequenciais. Os freios, por sua vez, têm assinatura da marca Brembo, famosa por equipar carros de corrida, e esbanjam eficiência, estancando o esportivo com muita rapidez.

Forma e função

Para a tristeza dos aficionados por desempenho, dirigir um esportivo não inclui apenas percursos em estradas livres. Em situações mais corriqueiras, o Camaro revela seus problemas. Um deles é a visibilidade ruim em todas as direções, até mesmo para a frente. Culpa da carroceria com janelas muito pequenas, que dão aspecto musculoso ao design, mas que limitam bastante o campo visual. Se for preciso estacionar em vagas apertadas, outro inconveniente: os retrovisores não rebatem, bloqueando a passagem de pessoas pelas laterais do veículo e expondo as lentes a eventuais danos.

Também vale ressaltar que o Camaro, assim como a maioria dos carros esportivos, é confortável apenas para duas pessoas. Apesar das grandes dimensões externas, o cupê não poupará os passageiros traseiros de rasparem a cabeça no teto e os joelhos nos bancos dianteiros. Tendo em vista que o espaço interno não é prioridade, até que o porta-malas, com 320 l de capacidade, não faz feio.

O Camaro faz poucas concessões à praticidade. O negócio dele é riscar com força o asfalto e colar as costas do motorista contra o banco em arrancadas. Em uma analogia livre, ele está mais para a brutalidade de um machado que para a precisão de um bisturi. O preço no Brasil, de R$ 221.990, está longe de ser uma pechincha, ainda mais se comparado aos US$ 38.150 cobrados pela mesma versão nos EUA. Mesmo assim, é um dos carros de alta performance mais em conta do mercado local.

Em detalhes

Interior. Manômetros posicionados no console monitoram pressão e temperatura do óleo, mas têm leitura difícil. Tela multimídia My Link e Heads-up Display, que projeta o velocímetro no para-brisa, para evitar que o motorista tire os olhos da pista, são novidades da linha 2014.

Equipamentos. Vendido em pacote único, o Camaro vem de série com vidros, travas e retrovisores elétricos, ganchos Isofix para fixação de cadeirinhas, seis airbags, controles de tração e estabilidade, freios ABS, bancos dianteiros elétricos, ar-condicionado manual, revestimento interno em couro, câmera de ré e sistema de som com nove alto-falantes.

Versão SS. Equipada com motor V8 6.2 de 406 cv, configuração é a única comercializada no Brasil. Nos EUA, a linha Camaro dispõe de outras opções de acabamento e mecânica. O propulsor mais fraco é um V6 3.6 de 323 cv. Os mais bravos são o V8 7.0 de 505 cv e o V8 6.2 supercharged, acrescido de compressor volumétrico, capaz de gerar 580 cv