Luiz Tito

Luiz Tito escreve de segunda a sábado em O TEMPO

A impunidade não é um sonho

Publicado em: Ter, 15/01/19 - 02h00

As redes sociais já conseguiram provar sua eficiência para divulgar ideias, arregimentar admiradores e motivar apoios e votos às mais diferentes causas e pleitos. Viraram também canais para se fazerem fofocas, se divulgarem fotos de mulher pelada e infernizar a vida de incautos, inclusive aqueles que acreditam no absurdo e no impossível. Nos últimos dias, em diversas frentes Brasil adentro, vários sites e grupos se organizaram para dinamitar candidaturas às presidências da Câmara e do Senado Federal.

Em protesto liderado pelo procurador federal Deltan Dallagnol, aquele que movimentou o juiz Sergio Moro para processar, tornar réus e depois condenar dezenas de empreiteiros de obras públicas e políticos envolvidos na histórica operação Lava Jato, a bola da vez passou a ser a campanha pelo voto aberto dos parlamentares das duas Casas, especialmente dos senhores senadores. Mas o que tem o MPF a ver com a eleição do presidente do Senado? O interesse está nos candidatos. Na verdade, no dono da bola, no mais forte concorrente ao posto, um senador eleito pelo voto popular para exercer seu quarto mandato representando o sofrido Estado de Alagoas, que também já elegeu Fernando Collor de Mello: Renan Calheiros é o homem. Deputado estadual, deputado federal por dois mandatos, líder de Collor no Congresso e senador desde 1994, ele é o mesmo que tem seu nome autuado em 18 inquéritos, que caminham a passos de tartaruga no STF e na Polícia Federal, pela suposta prática de crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito, além do uso de uma empreiteira para pagamento de pensão alimentícia à sua filha.

Provada sua culpa, Renan Calheiros poderá ser considerado, na seara do crime, um craque, pela sua eficiência tanto para delinquir quanto para protelar a ação da Justiça, que nunca conseguiu levá-lo aos tribunais. Nunca conseguiram prendê-lo sequer nesses passeios de cinco dias em que a PF leva os seus mais íntimos para desses obter uma confissãozinha, com a qual se abreviam caminhos processuais. Nada. Ele se esquiva de investigações, não presta depoimentos, diz sem qualquer pudor ou vergonha que nada tem a ver com as dezenas de acusações que lhe são feitas, e ninguém tem como colocar uma pedra no caminho desse senhor – desse e de outros 52 investigados só no Senado.

Ao mesmo tempo, ele e seus pares se reelegem senadores da República ou deputados federais, fazem e acontecem num Congresso onde tudo, a bom preço e com jeitinho, vem sendo possível e é natural. Por exemplo: esse grupo pode mudar toda a legislação penal e processual brasileira, de forma que, num piscar de olhos, crime deixe de ser crime e tribunais sejam meros pontos de encontro de magistrados e depósitos de processos. E estará, assim, definitivamente instaurada a impunidade, como deboche nacional. E nós, cristãos, pagando a conta.

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