Luiz Tito

Luiz Tito escreve de segunda a sábado em O TEMPO

Irresponsabilidade

Publicado em: Ter, 23/10/18 - 02h00

Matéria que foi manchete deste jornal na edição de ontem, assinada pela jornalista Queila Ariadne, relatou o descaso histórico que Estados vivem no trato de seus passivos. Em estágio de absoluta penúria, como, por exemplo, Minas Gerais, nota-se que essa situação, comum a várias unidades da Federação, foi motivada muitas vezes pelo descontrole e pela falta de planejamento de seus gestores, pouco atentos ao crescente aumento de gastos e escassez de recursos. Mesmo nessas dificuldades, lamentavelmente, gestores públicos foram pouco diligentes na priorização e na qualidade das despesas estatais.

Gasta-se para custear o necessário que faz andar a máquina, mas também, e sem dó, para comprar a “harmonia” com os outros Poderes do Estado – Legislativo e Judiciário – e com lideranças políticas, para facilitar a realização das pautas do interesse dos governos, em frequentes afagos remunerados. Também se compra mal, por incompetência e desinteresse em economizar o dinheiro da viúva. E se superfatura, aí, sim, como criminosa corrupção.

Os recursos destinados para o Legislativo e para o Judiciário nunca se atrasam; mês sim e o outro também, antes do dia 5, já estão nas contas, prontos pra voar. Sem quem arroche ou discuta, esses Poderes são aqueles em que ocorrem os mais escabrosos deslizes, a maior gastança, o empreguismo, os privilégios, o desperdício e o desnecessário.

Nestes tempos de eleições, para sonhar com a tão imperiosa e desejada austeridade, parece que milagrosamente emergem informações, quase sempre retiradas de documentos amarelados de tão antigos, mas que parecem ter sido escondidas para não estar nas denúncias do descaso, da irresponsabilidade e da improbidade da administração do Estado. Por exemplo, na linha do que nunca se teve notícia terem sido auditados estão dois monstruosos financiamentos ainda não liquidados e que chamam atenção: são, ambos, os referentes ao “saneamento” (ente aspas mesmo, de tão estúpido e imoral) dos antigos bancos públicos de Minas, o Bemge e o Credireal. Em 1997 e 1998, essas carcaças, perto de falirem em razão de serem tão mal administradas, receberam do Proer, no caso do Credireal, a injeção de R$ 803.700.000,00 para ser vendido ao Bradesco por R$ 119.988.974,34. No caso do Bemge, o mesmo Proer emprestou R$ 1.743.471.958,18 para o banco ser vendido por R$ 522.500.000,00. O total do prejuízo do Estado de Minas Gerais montou, à época, a bagatela de R$ 1.904.682.984,18.

Pergunta-se: a quem interessaram essas privatizações, senão ao Bradesco, que comprou o Credireal, e ao Itaú, que comprou o Bemge? Por que não se deixou tais bancos falirem? Quais foram os diretores que posteriormente responderam pela má gestão desses bancos, a ponto de fazerem essas instituições chegarem a esse quadro de absoluta insolvência? Que governo já auditou ou brigou para excluir do passivo do Estado esses citados contratos de financiamento, à época contraídos pelo Tesouro de Minas Gerais? Quanto montam essas dívidas, hoje, e como estão relacionadas no balanço do Estado?

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.