Luiz Tito

Luiz Tito escreve de segunda a sábado em O TEMPO

Menos hipocrisia

Publicado em: Ter, 23/01/18 - 02h00

A semana que passou foi tomada de fatos que se tornaram importantes, apenas pela periferia destes. Primeiro, veio o questionamento sobre a credibilidade do atual diretor geral do Detran-MG, motorista com 120 pontos registrados em sua CNH que não a havia devolvido ao órgão de trânsito quando devia e como manda a lei a todo aquele motorista que atinge 20 pontos por infrações de trânsito. O diretor alegou que não recebera qualquer notificação do Detran sobre as multas que foram anotadas em seu prontuário e recorreu da suspensão de sua habilitação. Não estou defendendo tal delegado, que nem conheço, mas quem já passou por esse processo sabe o quanto são precários tais controles e os procedimentos para reabilitação do motorista atingido pela norma. Ninguém mais questiona, porque é inócuo fazê-lo, a indústria imoral em que se transformou a aplicação de multas de trânsito, em Minas Gerais principalmente. Agentes maltreinados, especialmente os municipais, estradas e vias malsinalizadas e pessimamente conservadas, que obrigam motoristas a dirigir para si e para os outros, são problemas mais importantes do que o rigor que se exerce nesse processo caça-níquel que só engorda empresas concessionárias de radares. Além disso, a própria rotina de reabilitação obriga o motorista suspenso ao pagamento de taxas absurdas e autoescolas para assim se submeter a provas que são de uma idiotice ímpar, com questões, por exemplo, como “qual é o nome da linha branca contínua à direita do condutor nas vias?”, “qual é a diferença entre caminhonete e camioneta?”, “quantos batimentos cardíacos tem uma criança de 8 anos que sofreu um acidente?”, “o que é sonda lambda?” e outras bobagens do gênero.

Outro fato foi também a exoneração de um delegado que disse o que toda sociedade hoje espera da polícia. Designado para comandar uma delegacia especializada em roubo a caixas eletrônicos, ele afirmou que “em Minas não haverá cangaço; que a polícia vai agir contra tais criminosos que, se partirem para o confronto, voltarão na horizontal”. O governo o exonerou a pedido de setores do PT que defendem direitos humanos, dada a ”impropriedade de sua fala”. Bandidos estão matando crianças, trabalhadores, policiais e cidadãos de bem às dúzias. O Estado não tem competência para diminuir nem combater o crime, as polícias não têm efetivos suficientes nem equipamentos à altura, e o crime segue tomando proporções vultosas; um delegado que fala o que da polícia se deseja é afastado exatamente porque revelou a postura que se espera da corporação: que os criminosos sejam como tal tratados, com a reação proporcional à ação destes. O espírito da bondosa deputada gaúcha Maria do Rosário baixou aqui. Menos, senhores, menos. Se não for dessa forma, não há como se enfrentar o crime no Brasil.

Outra situação ainda foi a briga judicial para impedir que uma deputada do PTB-RJ tomasse posse como ministra do Trabalho. Ninguém questionou, nem mesmo a OAB nacional, o processo toma lá dá cá de escolha de ministros de Estado, que currículo têm, se têm ou não formação e estatura moral e intelectual para exercer um cargo dessa importância. Escolhem-se ministros no Brasil apenas pelo cacife de cada um, representado por votos de seu grupo político no Congresso. A propósito, ninguém falou que o suplente da deputada indicada para o Ministério do Trabalho e que assumiria sua vaga é um ex-presidiário, condenado por exploração sexual de crianças e adolescentes na cidade de Campos dos Goytacazes. Deus nos ajude.

Vamos ficar por aqui. Nada é tão ruim que não possa piorar.

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