Luiz Tito

Luiz Tito escreve de segunda a sábado em O TEMPO

O cara

Publicado em: Ter, 11/12/18 - 02h00

O presidente eleito Jair Bolsonaro vinha encaminhando-se tranquilo e altivo neste momento ainda retumbante da sua conquista sem ressalvas da Presidência da República, para lá alçado pelo voto de majoritária parcela do eleitorado brasileiro. Não apenas venceu legitimamente a eleição, como também protagonizou a varredura de grande parte do PT, do MDB, do PSDB e de vários outros partidos e facções aboletadas no poder, onde em décadas se reuniram destacadas figuras da política nacional, associadas entre elas por meio do acesso comum a benesses pagas com o dinheiro do erário e pelo caixa de estatais. Coincidentemente, quase sempre essas mesmas figuras, juntas ou em carreira solo, também se acham lembradas nas investigações, nos inquéritos e nos processos produzidos pela Polícia, pelo Ministério Público e pela Justiça Federal, caracterizando-se um marco na história do combate à corrupção, cuja construção, iniciada pelo mensalão, vem sendo consolidada em sucessivas ações do nosso Judiciário. Glória a Deus.

Como tudo na vida, pau que dá em Chico dá em Francisco. Na semana passada, veio a público suspeita levantada pelo Coaf sobre desmedida movimentação financeira de um assessor lotado no gabinete do deputado Flávio Bolsonaro, o motorista Fabrício Carlos de Queiroz, na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), que poderá fragilizar a autoridade da família real nos próximos dias. Deus permita que não, porque é dessa autoridade, a que emerge da esperança de correção e lisura na sua conduta e nas suas atitudes, que depende o alcance dos brasileiros a um novo Brasil, exatamente o país decantado pelo futuro senador Bolsonaro em suas falas mundo afora.

Realçamos, só para lembrar: numa entrevista à GloboNews que foi ao ar nos últimos dias, respondendo a uma pergunta da jornalista Natuza Nery que lhe indagava o porquê da escolha de nove militares para a composição do ministério do futuro governo, Flávio respondeu que tal preferência se dava em função de Jair ter sido eleito por militares, “mesmo porque, se fosse pra pôr ladrão, tinham votado no PT”. O jovem senador foi confuso e infeliz, como em várias outras de suas falas; desta vez, principalmente porque limita aos militares o reconhecimento de uma postura honesta, esquecendo-se de que, na imensa arca de Noé que é a atividade política, “há bichos na proa e no convés”. Há civis decentes e corruptos, como há militares decentes e corruptos. E políticos ou não.

Essa mistura, também esperamos, vai nos permitir ver nas explicações do motorista Fabrício Queiroz primeiro o porquê de tão expressiva remuneração para o cargo de motorista que tinha na Alerj e também, em seguida, como, ganhando R$ 24 mil por mês, ou R$ 268 mil por ano, Fabrício conseguiu movimentar R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e o mesmo mês de 2017, cinco vezes mais do que recebera no contracheque. Se bem explicado, defendo para Queiroz um lugar no ministério, no setor de controle das contas do governo. O moço, parece, é fera com dinheiro.

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