Luiz Tito

Luiz Tito escreve de segunda a sábado em O TEMPO

O crime não compensa. Será?

Publicado em: Ter, 18/07/17 - 03h00

Fervem em todo o país as reações contra a enxurrada de delações premiadas que a cada dia mais páginas acumulam nas prateleiras do Judiciário. Desde o espetáculo encenado pelos irmãos Batista e seu assessor para assuntos de entrega de malas e propina, Ricardo Saud, o instituto da delação entrou no caminho do comum, do corriqueiro e esperado. Durante uma semana inteira o STF debruçou-se sobre as gravações e os vídeos feitos pelo chefão Joesley, com cuja entrega e revelação ele cimentou qualquer possibilidade de ser preso como deveria; ao contrário, goza o vidão que seu dinheiro lhe possibilita, em Nova York, em direito que foi reconhecido pelo MPF e pelo STF.

Em encontro nos Estados Unidos, nesta semana, o procurador Rodrigo Janot contou os detalhes de como recebera a proposta de delação dos donos da JBS e o porquê de sua aceitação, nos termos propostos pelos irmãos Batista. Antecipou-se em dizer aos que o ouviam que “ninguém se sente feliz concedendo imunidade a criminoso, ninguém gosta disso”. À introdução feita pelo polêmico procurador, não há como fugir de que os irmãos Batista e Ricardo Saud são, sim, inclusive no juízo do chefe geral do MPF, criminosos. Porque era desses que Rodrigo Janot falava e a quem havia concedido imunidades. “O empresário exigiu imunidade total em troca da munição de que dispunha contra o presidente Temer”. E assim nada, nada mesmo, poderá doravante ser feito para que os responsáveis pela maior rede de corrupção construída no Brasil no último século conheçam as sanções da lei.

Entregaram um gravadorzinho fajuto e de merda, vídeos de malas de rodinha bem abastecidas de dinheiro entrando em táxis, em flagrantes armados com apoio da PF. Tudo em um blá-blá-blá impreciso e tchau – com licença de que New York me espera. Janot, o todo-poderoso procurador geral da República, fechou a questão, e aí nem o STF mexeu mais. Estão livres os felizes delatores para novas mutretas, porque esse é o viés de suas práticas.

Se não se fecharem as portas para esse formato de delação, outras novas terão o mesmo destino, ou seja, pífias em seus resultados. Vejamos que no caso da Petrobras, sob a batuta do juiz Sergio Moro, em Curitiba, com toda censura que se poderia fazer quanto à rigidez das extensas prisões preventivas por ele decretadas, o estímulo aos detidos para delatar malfeitos gerou resultados que têm sido significativamente maiores e melhores. Hordas de políticos, dirigentes de empresas públicas, empreiteiros e banqueiros já confessaram seus crimes e entregaram em bem- organizadas bandejas seus parceiros, indicaram contas no exterior em que se agasalharam vultosas somas, com números, datas, valores em centavos. Além de permanecerem, muitos, ainda presos nas penitenciárias pela extensão de seus danos ao erário, ou em suas casas com tornozeleiras eletrônicas (o adereço está em falta), essas revelações serviram para ajudar a ser recambiado ao Brasil expressivo montante desses desvios, já reincorporado ao caixa do Tesouro Nacional ou ao da dadivosa Petrobras.

Com juízes e procuradores menos apressados, como no caso a turma de Curitiba, não corremos o risco de que se firme, definitivamente, a realidade de que o crime compensa. E é isso que a sociedade apoia, para mudar. Não à impunidade.

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