Luiz Tito

Luiz Tito escreve de segunda a sábado em O TEMPO

Quebra geral

Publicado em: Ter, 14/07/20 - 03h00

Tudo se ouve sobre a pandemia, seus cuidados, as instalações de saúde construídas ou não para seu enfrentamento e a iminente descoberta da vacinação – graças a Deus. Disputam a pauta também a ivermectina, a cloroquina e os crimes cometidos pelos bandos que infelizmente infestam grande parte do poder público e que metem nos seus próprios bolsos o que podem, sempre que veem a oportunidade das compras de grandes volumes de insumos, de serviços e de contratações de obras – e dessas denúncias as redes sociais e os jornais estão lotados.

Se é insuportável a doença, em igual nível é também sabermos que muitos ficaram mais ricos tendo do outro lado a miséria em massa instalada pelo novo coronavírus. É nojenta essa realidade formada pela corrupção, por desvios de recursos públicos, pelos superfaturamentos que vêm sendo denunciados em vários Estados e municípios do país. Nem a doença, nem as milhares de mortes que ela provoca, nem a fome e a miséria produzidas pela pandemia constrangem certos tipos que têm nas mãos o controle de recursos públicos. Roubam descaradamente – e, para esses, que atue a mão pesada da polícia e da Justiça. Mas, do outro lado, há também bons gestores públicos – mais raros, é verdade – que se puseram a buscar soluções inteligentes, econômicas e eficazes para conter o avanço dessa pandemia que vitimou e ainda vitimará o mundo quase todo.

Urge, contudo, que a sociedade se posicione com responsabilidade, tomando os cuidados que lhe são devidos, para, assim, poder cobrar com autoridade de quem em cujas mãos está a retomada das atividades, não só as de natureza econômica, mas aquelas que dizem respeito a todo cidadão e às suas famílias. É sensível que muitas empresas tenham se esforçado para continuar com parte de suas atividades – em muitos casos, até assumindo prejuízos para operar com a colaboração de funcionários, em regime de sacrifício.

Também é notório que a União, os Estados e os municípios se aplicaram para oferecer seus serviços de saúde, de segurança e, especialmente, de assistência social aos seus cidadãos. Auxílio emergencial, disponibilizado para pais e mães de famílias, cestas básicas e, em alguns Estados e municípios, a extensão às famílias da merenda escolar para servir ao restante da família de alunos da rede pública, como forma de recomposição das necessidades básicas diárias de alimentação são benefícios que decorrem da sensibilidade dos que têm responsabilidades com as relações em sociedade.

Mas a economia se arrasta, e as reservas do poder público estão se esgotando. Não há quem possa virar as costas à realidade que já enxergamos de que à União, aos Estados e aos municípios faltará dinheiro para custear o seu funcionamento mínimo naquelas responsabilidades que lhe são próprias e intransferíveis: saúde, educação, segurança pública. Se mesmo antes da pandemia as finanças públicas se encontravam num estado quase de calamidade, com Estados e municípios insolventes, agora mais ainda todas as relações que envolvam receitas, gastos e custeio público têm que ser revistas.

Se já estava difícil, não há como negar que qualquer tipo de privilégio, de desperdício, de custeio do supérfluo, de vantagens indevidas e de mamatas passará a ter em sua oposição a sociedade que trabalha, produz, luta e paga impostos.

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