PAULO NAVARRO

Lorde Mike

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 20 de janeiro de 2018 | 03:00
 
 
Ana Hull / divulgação

Ainda bem que o ator inglês Mike Wade é uma velha e deliciosa canção em nossos ouvidos, como cantaria Vinicius de Moraes. É mais brasileiro do que muitos originais. Domina a língua portuguesa como poucos e é ótima companhia em BH, Rio, São Paulo, Salvador e até Londres, onde já tivemos o prazer de visitá-lo. Mike ama o Brasil, os brasileiros e principalmente as brasileiras.

Sir Mike, como vai a vida? Bem obrigado, apesar do inverno inglês desgraçado [Ele já está em BH].

Existe algum inglês mais brasileiro que você? Espero que não! Fiquei encantado com os brasileiros e as brasileiras em Londres, durante o exílio de Caetano e Gil, e também com o Brasil que me abre os braços desde 1972.

Mais que isso, você é um inglês mineiro desde quando? Desde 1976. Cheguei em Belo Horizonte com toneladas de equipamento de som para “Maria Maria”, estreia do Grupo Corpo. Fiz muitas e deliciosas amizades que duram até hoje.

Desde então, nunca mais inverno na Europa? Em 1982 voltei para Londres e para o teatro. Passei 12 invernos aqui. Em 1994, fiz meu “One Man Show”, no Palácio das Artes. Desde então, verão perpétuo! Isso, apesar do câncer, em 2003. Com médicos em Londres e Drauzio Varela em São Paulo, todos maravilhosos, espero “emputecer” o ceifador mais uma vez. Dizem que nem Deus e o diabo me querem!

O que a Inglaterra tem de melhor que o Brasil não tem e vice-versa? O nosso estado do bem estar é inigualável. Só nos últimos 18 meses meu tratamento custou 240.000 libras (R$1 milhão), e não paguei um tostão. E a Rádio 4 da BBC é maravilhosa. Informa, educa e entretém com sofisticação e integridade raríssimas. O Brasil tem sol, praia, futebol, música, poesia, as mulheres mais bonitas do mundo e um calor humano excepcional. Apesar de tudo, é o último povo alegre do mundo. Tiro meu chapéu.

Pergunta em ano Copa do Mundo: por que o país que inventou o futebol, a Inglaterra, não ganha uma copa há 52 anos? É verdade que tivemos má administração. O resto é enganação inteligentíssima. Em 2016, perdemos de propósito para a Islândia (na Europa) para esconder nosso brilho até a final da Copa (do Mundo).

Como ator que é, o que anda fazendo em teatro, cinema ou televisão? Em 2017, fiz uma grande comédia americana no West End de Londres, uma peça de TV para a BBC, o Festival de Natal com a grande Maggie Smith. E começo outra peça em março.

Você já trabalhou com grandes atores e diretores. Qual a melhor lembrança? Viajar pelo mundo atuando com Ray Cooney, grande mestre da farsa inglesa.

Teu amigo Anthony Hopkins fez 80 anos no último dia 31 de dezembro. Que filme gostaria de fazer ao lado dele? “Pobre Bitos” de Jean Anouilh. Ele de Bitos/Robespierre, eu de Maxime/Saint-Just.

Você chega a Belo Horizonte no dia 18 de janeiro \[entrevista concedida antes dessa data\]. O que traz de novidade? Nesta triste época de fascismo e ignorância, mascarando risivelmente o populismo, trago apenas minha esperança indestrutível.