Mundo moinho
Hoje, no auge dos tempos do “cólera”, variantes de gripe e Covid-19, o relato de Vivian Scarano Tonon, da Dominox Design, sobre como o coronavírus revirou sua vida, incluindo a morte que passou por familiares e por ela mesma, entubada. “A primeira perda foi a de minha sogra. Após ser diagnosticada com Covid-19, foi internada e faleceu em três dias”.
Mundo carrossel
“Um choque para a família, que, à esta altura, já estava toda infectada. Minha mãe foi internada, meu sogro e logo depois eu mesma. Isolada no quarto do hospital, tive a pior notícia: a segunda morte, minha mãe! Eu não acreditava! Uma semana antes a gente estava bem, juntas, rindo... Não haveria velório. O enterro seria em 20 minutos”.
Mundo frágil
“Ali estava minha história, meu nascimento, meu passado e presente. Tudo resumido em um saco plástico preto, um breve funeral. Nunca mais eu veria minha mãe. Sozinha no hospital, sem ninguém poder me dar um abraço, um conforto, senti a maior dor do mundo. A notícia teve efeito de uma bomba! Caiu e não resta mais nada. Nem o corpo eu poderia ver para me despedir”.
Mundo cruel
“Senti-me num acampamento de feridos no meio de uma guerra. Guerra contra a Covid-19. Liguei no ‘mood’ sobrevivência, a cada hora que passava eu dessaturava mais. Piorei. Fui para o CTI no outro dia. A médica, muito delicada e firme, me disse que eu seria entubada, ‘entubada?’, ‘Não aceito’, ‘façam o tratamento sem me entubar’, eu relutava”.
Mundo louco
Continua Vivian: “‘Liguem para os meus irmãos que são médicos e eles não vão autorizar’! Eu apelava. ‘Já ligamos e eles autorizaram, você está com 75% do pulmão comprometido!’, afirmou ela. O chão abriu sob meus pés! “Outra bomba! Eu estava indo para o corredor da morte. Somente 25 a 30% sobrevivem à entubação”.
Mundo breve
“Pensei nos meus filhos, Lívia 14, João 21. Pensei na minha vida inteira em minutos. Eu buscava o ar com dificuldade e medo, porque aqueles momentos poderiam ser os últimos da minha vida. Eu queria deixar alguma coisa organizada, um manual de vida, um bilhete, um abraço, mas eu não tinha mais tempo”.
Mundo mortal
“A morte de novo rondava. No desespero, comecei a sentir uma calma. Tentando me controlar, fui tomada por uma sensação de acolhimento. Foi quando escutei a voz da minha mãe dizendo: ‘vai ficar tudo bem, tenha força, eu estou aqui’. Fui às lagrimas! Muita informação e emoção juntas. Não me sentia mais sozinha”.
Mundo paralisado
“Enquanto os médicos estavam me anestesiando, eu olhava para os lados para ver como eram os pacientes entubados. Senti a sedação entrar pelo meu corpo, mas, ainda lucida, implorei à minha mãe: ‘Mãe se você está aqui, me salva, eu vou ter força, não posso morrer, preciso criar meus filhos’".