Paulo Navarro

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O mineiro arquiteto mineiro

Publicado em: Sáb, 22/07/17 - 03h00

Nem foi preciso perguntar. O arquiteto Gustavo Penna confessou sem tortura ou delação premiada: “Sou mineiro e amo as montanhas; nossa arquitetura geológica, os edifícios da natureza”. O Gustavo, suave como pena, fala mansa e oceânica inteligência, deixa sua marca na cidade e no mundo, buscando, na arquitetura, a concisão que Drummond propunha na literatura: “escrever é cortar palavras”.

Gustavo, sinceramente, tirando a Pampulha, Belo Horizonte tem arquitetura com “A” maiúsculo? Claro que sim. São inúmeras as publicações internacionais e brasileiras citando arquitetos de Minas. As maiores premiações mundiais reconhecem nossa produção. O que ocorre é que somos incapazes de valorizar nossa própria produção artística. Desde o Aleijadinho! Foi preciso um historiador francês, Germain Bazin, vir aqui e dizer que o maior artista das Américas estava em Minas.


O brasileiro tem medo de arquiteto ou é ignorância mesmo estas cidades feias, sem identidade, por todo o país? Acho que temos um problema cultural em relação às nossas cidades. Juscelino Kubitschek, por ter valorizado a arquitetura, conseguiu que Belo Horizonte figurasse no mapa mundial da cultura, até hoje. O Jaime Lerner, em Curitiba, fez uma grande transformação urbana. Todas as vezes em que se pretende fazer uma grande transformação no mundo, se recorre ao urbanismo e à arquitetura. Eu não sei por que isso não ocorre em Minas Gerais.

O que acha da frase: “Construa certo, contrate um arquiteto”? Os arquitetos são muito mal compreendidos na sua função e na sua missão. Criou-se esse conceito equivocado de que fazer arquitetura é construir excepcionalmente, projetar palácios, grandes edifícios que são verdadeiros exercícios do desperdício. Quando vemos arquiteturas que atendem à população, como os espaços de convivência, as praças, os espaços populares, os museus, as escolas, vemos como eles extrapolam o uso cotidiano.

Arquitetura é revolução? A arquitetura pode atrair olhares, criar usos e ser ferramenta de relacionamento humano. A arquitetura faz lugares para o homem, produz um bem essencial para a existência do planeta, por isso nunca foi tão necessária. Essa profissão não tem nada de supérflua, ela é fundamental.

Você é um poeta. Dá para definir a arquitetura com um verso? Arquitetura não é dentro nem fora, é através.

O que você gostaria de projetar, para ficar, em Belo Horizonte? Um grande parque para as crianças. Um espaço que envolvesse as montanhas, grutas, matas, rios e cachoeiras; com tecnologia de vanguarda. Assim, cada menino começaria a compreender o mundo através do que propõe seu próprio chão.

O que implodiria, com dinamite, em Belo Horizonte? Muita coisa. Eu implodiria o anexo dos edifícios Sulamérica e Sulacap, na Afonso Pena, retornando a bela praça que existia ali. E aqueles prédios da praça da Estação que impedem um lugar amplo, plano e belo. Dimensão cívica para reunir muita gente. Acho melhor parar por aqui.

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