Pandemia

A cruel estabilidade da Covid-19 no Brasil: 4 milhões de casos e 124,6 mil morto

País vem saltando posições em rankings mundiais que analisam o progresso da doença no globo

Por Lucas Negrisoli
Publicado em 03 de setembro de 2020 | 19:49
 
 
Daniel de Cerqueira / O Tempo

Nesta quinta-feira (3), o Brasil atingiu a marca de 4 milhões de pessoas infectadas pelo coronavírus, cinco dias após superar os 120 mil mortos pela pandemia da Covid-19. Conforme atualização do boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, o país soma 4.041.638 casos confirmados e 124.614 vidas perdidas. Nas últimas 24 horas, foram registrados 43.773 infecções e 834 óbitos. Em estado de “platô” – termo usado pelos técnicos da pasta para se referir à estabilidade no avanço dos números, que seguem altíssimos – o Brasil vem saltando posições em rankings mundiais que analisam o progresso da doença no globo. 

Só nos três primeiros dias de setembro, de acordo com os dados coletados pelo portal Our World In Data, o país, que soma 209,5 milhões de cidadãos, pulou de 10º mais afetado em relação ao número de óbitos por milhão de habitantes para 8º – existem 582,33 vidas perdidas para cada um milhão de pessoas que vivem em território brasileiro. Há um mês, o país ocupava a 12ª posição. Excluindo-se da lista os países Andorra e San Marino, que não têm 1 milhão de habitantes, o Brasil é o 6º em número de mortes por milhão de habitantes. 

Em relação ao número de casos por milhão de habitantes, o país é o 7º no mundo e, há um mês, era o décimo – são 18,8 mil casos para cada 1 milhão de brasileiros, e doença já atingiu quase 2% da população. Apesar de, em números absolutos o Brasil ser o segundo mais atingido pela pandemia no globo, atrás apenas dos Estados Unidos, em números por milhão de pessoas o país ultrapassou os EUA em ambos índices. Em 28 de agosto, o de casos e, em no dia 20 daquele mês, o de mortes. 

Em 62 dias, o número de vidas perdidas para a pandemia dobrou no Brasil – havia 61.844 óbitos no último 3 de julho e, nessa quarta-feira, 123.780. Do somatório, 63,3% dos falecidos tinha pelo menos um fator de risco, o que quer dizer que, ao menos, 78,3 mil pessoas sem quaisquer comorbidades anteriores à infecção foram mortas pela Covid-19, 

Todavia, de acordo com o informe detalhado semanal divulgado pelo Ministério da Saúde nessa quarta-feira (2), o Brasil parece ter atingido uma estabilidade no avanço da doença, mesmo que os números continuem altos. 

Entre as semanas epidemiológicas 34 e 35 (confira aqui o calendário), o aumento no número de casos ficou estável, flutuando um ponto percentual negativo. Por outro lado, a quantidade de mortes caiu 11%. Em média, na semana passada, foram registrados 887 óbitos e 37.684 novas infecções por dia no país. 

Porém, situação não é uniforme nas macrorregiões do Brasil. Regiões Sul e Centro-Oeste tiveram os maiores avanços, enquanto outras regiões se mantiveram estáveis ou registraram queda. 

Variação de casos de Covid-19 e mortes por coronavírus por região do Brasil entre as semanas epidemiológicas 34 e 35:

Norte

  • Casos: -5%
  • Óbitos: -11%

Nordeste

  • Casos: +1%
  • Óbitos: -12%

Sudeste

  • Casos: -8%
  • Óbitos: -8%

Sul

  • Casos: +15%
  • Óbitos: -16%

Centro-Oeste

  • Casos: +5%
  • Óbitos: -18%

Homens negros morrem cada vez mais no Brasil

O perfil demográfico das vítimas da Covid-19 no Brasil é majoritariamente composto por homens, negros e pessoas pobres. Em relação à cor da pele, a situação vem se agravando para a população negra nos últimos meses. Em julho, 40,4% das vítimas da doença eram pretas ou pardas. 

Nessa quarta, o percentual avançou para 42%. O mesmo ocorre em hospitalizações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) causada pelo coronvírus – em julho 36,5 das pessoas internadas eram negras e, no dado mais recente, a taxa saltou para 38%. 

Perspectiva de vacinação

Em coletiva nessa quarta-feira, técnicos do Ministério da Saúde afirmaram que, caso a “vacina de Oxford” seja aprovada, e, o acordo técnico entre o Brasil e a universidade, mantido, há expectativa de que a meta de cobertura vacinal para o coronavírus seja atingida no segundo semestre de 2021. A pasta usa, como base para determinar o percentual da população que deve ser vacinado, as taxas da influenza, que giram em torno de 90% de meta de imunização.

Há perspectiva de que 100 milhões de vacinas sejam entregues até o primeiro trimestre do ano que vem, como parte do acordo. O restante deve ser produzido pela Fiocruz que, segundo a pasta, teria capacidade de fabricar entre 30 milhões e 40 milhões de doses por mês. Os estudos mais recentes indicam que duas doses devem ser necessárias para garantir a imunização dos pacientes. 

Mais de 100 dias sem ministro da Saúde

Após a guerra pública travada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-ministro Henrique Mandetta, e a breve estadia de Nelson Teich na chefia da pasta, o general Eduardo Pazuello assumiu interinamente o comando do ministério no último 16 de maio. 

Nesta quinta-feira, somam-se 110 dias que o Brasil não tem um líder definitivo na pasta – coisa que, segundo o chefe do Executivo declarou há um mês, “deve se manter por muito tempo”.

Bolsonaro elogia a própria gestão

Nas últimas semanas, o presidente Jair Bolsonaro – que contraiu a Covid-19 e se curou – tem circulado o Brasil, encontrado com apoiadores, e participado de eventos. Nesta quinta-feira pela manhã, ele esteve na cerimônia de apresentação do projeto de uma ponte em Eldorado, interior de São Paulo. 

“Desde o começo assumi posição ímpar, não só dentro do Brasil, mas como chefe de Estado no mundo todo. Não vi um chefe de Estado tomar uma decisão como a minha”, afirmou Bolsonaro, elogiando a própria gestão durante a pandemia.

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Apesar de as manchetes internacionais irem em desacordo com os encômios ao espelho do presidente, a popularidade dele aumentou durante a crise.

Segundo a última pesquisa do Datafolha, realizada entre 11 e 12 de agosto, a popularidade do chefe do Executivo atingiu o maior patamar desde o início do mandato – 37% dos brasileiros consideram o governo como bom ou ótimo, ante 32% no estudo anterior.

Graças que coincidem com a implementação do auxílio emergencial de R$ 600, que o presidente prorrogou nesta quinta-feira até 31 de dezembro, com a metade do valor.

Maior cuidado, menor apoio

O Datafolha relaciona, inclusive, os cuidados da população com a pandemia ao apoio ao presidente Jair Bolsonaro. Dos que afirmaram viver “normalmente”, sem mudanças na rotina devido ao coronavírus, 53% aprovam a gestão do ex-capitão do Exército. 

“A maior queda (de aprovação), de 51% para 43%, foi registrada justamente no grupo que está saindo somente quando é inevitável, formado por pessoas que tendem a reprovar em maior grau o governo do atual presidente”, diz um trecho da pesquisa.

Mundo

Há 26,1 milhões de casos confirmados da Covid-19 no mundo e quase 865,2 mil mortos. Os Estados Unidos lideram o ranking da universidade Johns Hopkins em relação aos números absolutos – 6,1 milhões de infecções e mais de 186,4 mil óbitos. O Brasil continua na segunda posição na lista da instituição.

Termômetro da Covid-19

Entenda o gráfico

O "Termômetro da Covid" apresenta a evolução da média móvel de novos óbitos e casos confirmados nos últimos sete dias, e tem como parâmetro de comparação os mesmos dados registrados há duas semanas.

Se a média de hoje superar em mais de 15% o valor de duas semanas atrás, então a situação observada é de crescimento acelerado. No outro oposto, uma redução superior a 15% representa desaceleração. Se a variação for de até 15% para mais ou para menos, a média se encontra em um nível de estabilidade.

O uso da média móvel se justifica pela grande oscilação das notificações entre os diferentes dias da semana. Ela fica muito clara quando se observa a queda durante fins de semana e feriados, por exemplo. Desta forma, a média mostra tendências mais consistentes.

Já a janela de duas semanas para comparação se explica pelo tempo médio de ação do vírus e pela demora no processamento de exames e na divulgação dos resultados nos sistemas oficiais utilizados pela Secretaria de Estado da Saúde.

Esta é a mesma metodologia utilizada, por exemplo, pelo jornal The New York Times.

Os dados são provenientes dos boletins epidemiológicos da secretaria e referem-se aos municípios de residência dos pacientes. Isso explica eventuais números negativos, uma vez que os casos podem ser revisados ou "transferidos" de cidade.