entrave diplomático

Advogada presa por protestos no Rio pede asilo político ao Uruguai

Eloísa Samy foi uma dos 23 ativistas que tiveram prisão preventiva decretada no Rio de Janeiro; polícia cerca o Consulado-Geral do Uruguai e ameaça acordo diplomático

Seg, 21/07/14 - 13h50

A advogada e ativista de direitos humanos Eloísa Samy, 45, uma das 23 pessoas denunciadas pelo Ministério Público do Rio por associação criminosa armada para atuação em protestos realizados desde junho do ano passado, procurou o Consulado Geral do Uruguai na capital carioca para solicitar asilo político.

Assim como outros 21 acusados, Samy teve a prisão preventiva decretada pela Justiça na última sexta (18) e está sendo procurada pela polícia - motos e viaturas da PM já cercam a área do consulado, na praia de Botafogo, zona sul do Rio.

A advogada costuma defender os manifestantes presos pela polícia em protestos na cidade do Rio. "Eloisa nunca foi detida por participar de manifestações. Sempre atuou na defesa de manifestantes", afirmou João Pedro Pádua, vice-presidente da comissão de prerrogativas da OAB, quando a advogada foi presa pela primeira vez, na véspera da final da Copa do Mundo.

Em vídeo divulgado na internet, Samy diz que é "uma perseguida política, sendo criminalizada pela minha atuação na defesa dos direitos de manifestação".

"Fui denunciada pelo crime de formação de quadrilha armada com outras 22 pessoas, algumas das quais sequer conhecia. Meu único crime é a firme posição que adotei para defender a Constituição e a máxima contida na frase 'posso não concordar com tudo que você diz, mas defenderei até a morte seu direito de dizê-lo'", afirma ela no vídeo.

Além de Samy, também está no consulado o jovem David Paixão, que era menor até a semana passada e que também é suspeito de participar de manifestações violentas. Por ser menor até o dia do oferecimento da denúncia pelo MP não havia entrado no grupo de 23 denunciados. David é um dos dois menores presos na operação da véspera da final da Copa. Ele foi beneficiado com a liberdade e neste momento já estaria com mandado de prisão emitido. Há uma terceira ativista no local, cujo nome a reportagem ainda não conseguiu confirmar seu nome.

Segundo o advogado Rodrigo Mondego, do CDA (Coletivo de Advogados), que presta assistência jurídica a manifestantes, Samy está em uma sala reservada do consulado, muito nervosa. Ele, que afirmou ter ido ao local dar apoio à advogada informalmente, disse que Samy escolheu o consulado uruguaio por ser o presidente José Mujica um ex-preso política e tomar recentemente atitudes mais progressistas, como a legalização da maconha.

Mondego afirmou que Samy está sofrendo uma perseguição política do Estado do Rio. Ainda de acordo com ele, dois policiais à paisana chegaram a entrar nas dependências do consulado mas tiveram que deixar o local a pedido de funcionários.

A reportagem não pode entrar no consulado. Não há até o momento qualquer indicação que o consulado aceitará ou não o pedido.

"É alarmante que ainda hoje o fantasma do fascismo ronde nossas instituições. Jamais cometi qualquer ato que infringisse a lei, mas estou sendo vítima das forças coercivas do Estado, exatamente por defender pessoas que se ergueram e foram às ruas para protestar contra as ilegalidades cometidas por ele próprio."

Assista ao vídeo em que Eloísa Samy afirma estar sendo perseguida e pede a liberdade dos presos nas manifestações contra a Copa do Mundo:

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Folhapress