Denúncia

Atrasos no Comperj fizeram Petrobras gastar R$ 20 milhões com armazém

Devido a atrasos em obras de infraestrutura na região do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, estatal gastou apenas para guardar equipamentos

Qui, 23/07/15 - 14h41

Devido a atrasos em obras de infraestrutura na região do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), a Petrobras gastou cerca de R$ 20 milhões apenas para guardar equipamentos destinados ao complexo porque não conseguiu fazer o transporte deles do porto do Rio até lá.

O problema foi apontado em auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União) que acompanha acórdão aprovado nessa quarta-feira (22) pelo tribunal.

Os ministros decidiram pedir esclarecimentos ao presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, e à atual diretoria executiva da estatal sobre as ações que têm sido adotadas para solucionar os "graves problemas existentes no empreendimento".

Os gestores do Comperj serão ouvidos em audiência.

De acordo com a auditoria, a Petrobras gastou R$ 316 milhões para importar 14 equipamentos necessários ao complexo petroquímico, chamados de UHOS (ultra heavy over size, "de grandes dimensões e ultrapesados"), entre agosto de 2011 e agosto de 2012. Alguns chegam a pesar mais de 1.000 toneladas e, por isso, a Petrobras previu obras de infraestrutura logística para que pudessem ser levados até o Comperj, tendo assinado três contratos com esse objetivo.

GESTÃO TEMERÁRIA
Ocorre que as obras de infraestrutura atrasaram. Com isso, os equipamentos tiveram que ser guardados no porto do Rio, a um alto custo para a Petrobras. O TCU aponta a "gestão temerária" da Petrobras de iniciar as obras das unidades do Comperj sem que esta questão estivesse resolvida.

As obras são uma das que estão sob suspeita na Operação Lava Jato. Uma dessas obras de infraestrutura prevista foi contratada junto à Egesa, que foi suspensa pela Petrobras de participar de novas licitações sob suspeita de envolvimento com o cartel que atuou junto à estatal. A empresa já negou, em nota, envolvimento com o esquema.

Para armazenar os equipamentos no porto do Rio, a Petrobras gasta com o aluguel da área, obras de infraestrutura para viabilizar o armazenamento e ainda aquisição de "sapatas especiais" que suportassem a carga e facilitassem o carregamento e descarregamento. Tudo isso custou cerca de R$ 13 milhões.

Quando a auditoria foi feita, esta situação já tinha ocorrido por 21 meses e a administração do terminal portuário tinha pedido à Petrobras a desocupação da área, o que daria mais custos para que a estatal remanejasse os UHOS.

A estimativa era que o gasto com a armazenagem chegasse a R$ 20 milhões.

Esse gargalo no transporte das peças acabou aumentando em R$ 1,7 bilhão os custos de implementação do Comperj, segundo o TCU, porque as obras das unidades do Comperj não podem ser concluídas sem que se resolva antes o problema.

"Como demonstrado, a falha de planejamento das contratações tratadas neste relatório resultou em incremento no custo de implementação do Comperj", apontou o TCU.

A reportagem entrou em contato com a Petrobras para comentar, mas ainda não obteve resposta.

Ao TCU, a estatal argumentou que a estratégia "não foi arriscada" e diz que o planejamento trabalhou com "prazos realistas". Segundo o tribunal, a Petrobras informou que caso "fosse aguardar a construção da via UHOS para só então adquirir os equipamentos no exterior e contratar os serviços de construção e montagem das unidades de processo, traria maiores prejuízos ao empreendimento porque iria atrasar a arrancada e o início da produção do Comperj".

AUDITORIA INTERNA
A Folha de S.Paulo mostrou, em janeiro, que uma auditoria interna da Petrobras sobre o complexo petroquímico apontava que a compra dos equipamentos antes de a Petrobras definir o modelo de negócio e a estrutura de produção da refinaria gerou um prejuízo de mais de R$ 1 bilhão. Os gastos foram para evitar a deterioração de aparelhos e unidades sem uso.

Na investigação, funcionários da Petrobras apontaram "pressões" das diretorias de Serviços e Abastecimento da estatal, então chefiadas respectivamente por Renato Duque e Paulo Roberto Costa, investigados na operação Lava Jato, para acelerar as aquisições e obras do Comperj.

Na ocasião, os ex-diretores afirmaram que as contratações foram aprovadas em escalões superiores da estatal.

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