Maus tratos

Búfalos são deixados à míngua em fazenda em Brotas, interior de SP

No início do mês, cerca de mil animais foram deixados sem comida e sem água: cerca de 200 já morreram de fome e de sede

Sáb, 27/11/21 - 17h18
O caso dos animais abandonados teve repercussão nas redes, gerando indignação pela crueldade que atingiu os animais | Foto: Reprodução de Facebook das ONGS

O destino de bufálos abandonados na Fazenda Água Sumida, em Brotas, no interior paulista, mobiliza Justiça, polícia e voluntários. Em torno de mil animais foram deixados no local, no começo do mês, sem comida e sem água. Cerca de 200 já morreram de fome e de sede, segundo Luciana de Aguiar, voluntária da Associação de Proteção dos Animais de Brotas.

De acordo com Guto Machado, voluntário da Apajaú (Associação Protetora dos Animais de Jaú), os búfalos - a maioria fêmeas e muitas delas prenhas - foram deixados numa área da fazenda de 500 alqueires, onde não havia qualquer tipo de vegetação e sem acesso à água, seja em cochos, nascentes ou rio. Ele integra o grupo responsável, por decisão judicial, pela guarda dos animais sobreviventes. "Os que conseguiam se manter em pé chegaram a comer cascas de árvores na tentativa de se manterem vivos", diz o voluntário, que acrescenta que ainda há centenas de animais debilitados e que muitos deles não conseguirão sobreviver. Carcaças de animais foram encontradas enterradas pela Polícia Ambiental, mas também havia animais mortos no campo.

O crime foi denunciado à Polícia Civil em Brotas neste mês pela Associação Protetora dos Animais de Brotas, ONG que reúne dez voluntários, entre eles Luciana.
"No dia 1º de novembro, recebemos um vídeo que mostrava a tragédia que estava acontecendo na fazenda. Dezenas de animais mortos, outros tantos, muito magros, que (nem) sequer conseguiam andar", disse a voluntária.

Luciana diz que relatos feitos à polícia indicavam que o proprietário da fazenda, Luiz Augusto Pinheiro de Souza, teria reduzido a área destinada aos animais e arrendado outra parte para plantadores de soja. "A impressão que se tem é que a ideia era a de que os animais fossem deixados lá para morrer", diz ela.

A Polícia Ambiental foi acionada e esteve no local em 6 de novembro, quando identificou 335 vacas e 332 bezerros e descreveu na autuação a situação encontrada: "Todos confinados em um local pequeno e inadequado comparado ao número de animais no local, sem alimentação, sem água, local desprovido de "Também foi detectada a presença de carcaças de animais que morreram recentemente, bem como ali próximo a existência de uma vala onde estavam sendo depositados outros 22 espécimes que foram a óbito", diz a polícia na autuação. Foi definida a multa de R$ 2,1 milhões ao proprietário.

Na última quarta-feira (24), a PM Ambiental aplicou uma nova multa. Desta vez, no valor de R$ 1,4 milhão por causa do estado de muitos animais e por mais 14 carcaças encontradas. Segundo Luciana, o proprietário teria dito que não tinha conseguido manter os animais devido à pandemia. Ela conta que o dono era proprietário de um restaurante na região central da cidade, em que vendia iguarias provenientes do leite de búfala.

Souza chegou a ser preso, mas pagou uma fiança de R$ 10 mil e foi solto. A guarda dos animais foi entregue à ONG ARA (Amor e Respeito Animal). Um hospital de campanha foi montado pelas ONGs numa área da fazenda. Veterinários voluntários se revezam no atendimento aos animais e uma campanha de solidariedade foi iniciada para arrecadar alimentos - basicamente feno, ração e silagem de milho.

"Eles comem perto de dez toneladas por dia", conta Machado, que estima que os animais vão precisar de cuidados especiais por pelo menos mais três meses. Depois disso, a ideia é buscar um lugar para o qual possam ser transferidos.

O proprietário da fazenda não foi localizado pela reportagem. O advogado dele, Célio Barbará da Silva, informou que o caso está sob segredo de justiça e que, por conta disso, o seu cliente não irá se pronunciar.

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