Saúde

Candida auris não é 'superfungo', nem deve gerar pânico na população, diz médico

Especialista defende que não há motivo para preocupações por ora, por conta da baixa quantidade de casos

Por Lucas Negrisoli
Publicado em 09 de dezembro de 2020 | 14:23
 
 
Fungo Candida auris se tornou resistente com o aquecimento global Science Photo Library / Divulgação

O fungo “Candida auris”, que foi chamado de “superfungo” devido à alta resistência que tem a medicamentos, não deve ser tratado dessa maneira, nem deve gerar pânico na população. A afirmação é do médico infectologista Estevão Urbano, que comentou, em entrevista a O TEMPO nesta quarta-feira (9), o alerta emitido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nessa terça-feira (8). O órgão disse, no texto, que o fungo representa uma “grave ameaça à saúde global”. 

“No Brasil, não havia relato de nenhum caso de infecção por Candida auris, mas no dia 07 de dezembro de 2020, foi notificado à Anvisa o possível primeiro caso positivo em paciente internado em UTI adulto em hospital do estado da Bahia”, informou a agência em nota à imprensa.

O alerta, porém, é mais importante para a comunidade médica e científica do que para a população em geral, explica Urbano. Não há motivo para preocupações por ora, por conta da baixa quantidade de casos – oficialmente, no Brasil, só há um – e pela possibilidade de tratamento com antifúngicos existir, apesar de ser mais difícil. A reportagem entrou em contato com vários infectologistas que não quiseram comentar o assunto por o considerarem pouco relevante durante a crise sanitária do coronavírus. 

“Cândida é um fungo conhecido desde que se descobriram os microrganismos. E a cândida é um gênero do qual derivam várias espécies. Elas, mais ou menos, causam as mesmas infecções e têm tratamento parecido. Essa espécie nova já vem trazendo preocupação para a comunidade cientifica há alguns anos, já causou surtos hospitalares em lugares no mundo, muitas vezes em Centros de Tratamento Intensivo (CTI), assim como outras espécies de cândida fazem. A diferença é que ela é mais resistente aos antifúngicos que tratam facilmente outros tipos. O que chama a atenção é isso”, esclarece o médico.

Urbano defende que o Cândida auris não tem “status” de “superfungo”, mas que é válido que a população entenda o que o microrganismo pode causar. “É válida (a divulgação da Anvisa) porque as pessoas ainda não o conhecem, e pode ser que ele se torne mais comum. É (uma infecção) mais difícil ser tratada, e é importante para a classe médica (estudar sobre ela), mas não deve gerar nenhum tipo de pânico na população. Ela tem seus tratamentos também”, conclui o infectologista.  

Força tarefa para prevenção foi formada

No alerta emitido, a Anvisa informou que uma força tarefa nacional foi mobilizada para acompanhar o caso e “prevenir a disseminação da Cândida auris no país”. No grupo, há representantes de diversas entidades públicas de saúde da Bahia e do Brasil.

O fungo foi identificado pela primeira vez no Japão, em 2009, no canal auditivo de uma paciente. Casos foram identificados, desde então, em países como Índia, África do Sul, Venezuela, Colômbia, Estados Unidos, Israel, Paquistão, Quênia, Kuwait, Reino Unido e Espanha.