Endurecimento

Com Exército na rua, governo do Ceará diz que anistia a policiais é inegociável

Líderes do motim querem anistia administrativa para evitar punições previstas em lei

Sex, 21/02/20 - 12h27
Exército ocupa as ruas do Ceará | Foto: Divulgação/ASCOM Ceará

Em mais um sinal de endurecimento contra os policiais que participam de um motim no Ceará, o governador Camilo Santana (PT-CE) avisou que não vai conceder nenhum tipo de anistia administrativa para os envolvidos em atos de vandalismo e insubordinação.

Com o motim e desmobilização das forcas policiais, o Ceará registrou alta no índice de homicídios entre 6h desta quarta-feira (19) e 6h desta quinta-feira (20). Em 24 horas, foram 29 assassinatos. A média diária, considerando o período de 1º de janeiro a 18 de fevereiro, é de seis crimes violentos letais intencionais. 

"Anistia para quem fizer motim na polícia é inegociável", declarou o governador. Nos bastidores, Camilo Santana tem dito a secretários mais próximos que não vai negociar "com bandidos mascarados e armados".

No fim da noite desta quinta-feira, líderes dos amotinados, que queriam perdão administrativo do governo para não serem punidos, decidiram continuar o movimento. 

Na tarde de quinta, Camilo Santana já havia anunciado a exclusão da folha de pagamento deste mês dos policiais que participam do motim. Também foram instaurados 300 IPMs (Inquéritos Policial Militar) para apurar os atos praticados. Desde o início do movimento, quatro PMs foram presos. 

De acordo com nota oficial do governo, todos os investigados sofrerão punições previstas em lei. Os militares que abandonarem o serviço sofrerão as mesmas sanções, conforme a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará.

O cabo da Polícia Militar Flávio Sabino, ex-deputado federal e um dos principais líderes dos policiais, afirmou que a categoria está mais forte.

"A verdade é que o governador está irredutível e não quer terminar com a tensão no Ceará. Ele não cede e não quer a anistia administrativa, comum em qualquer movimento grevista", diz.

Ele informa que a categoria quer um reajuste de 32%. "Chegaríamos em R$ 4.900 bruto. O governo diz que chega em R$ 4.500, mas quer retirar todas as nossas gratificações", destaca Sabino.

Um grupo de cinco senadores está no Ceará para tentar resolver o impasse. "O governo nem apresenta proposta diretamente. Os senadores estão tentando intermediar. O governador diz que não vai perdoar os policiais. Isso é proposta?", questiona Sabino.

Nos bastidores, a avaliação da cúpula do governo do Ceará é que a minoria amotinada está perdendo força.

Na tarde de quarta-feira, o senador licenciado Cid Gomes (PDT-CE) foi atingido por dois tiros quando tentava entrar no quartel dirigindo uma retroescavadeira. Ele está estável e internado na enfermaria do Hospital do Coração de Sobral.

Antes de levar os tiros, o senador se dirigiu até o portão de entrada do batalhão tomado pelos PMs. Com um megafone, deu cinco minutos para que eles saíssem do local. Um vídeo foi gravado por pessoas que estavam presentes.

Depois de dar o ultimato, alguns manifestantes se aproximaram do portão gritando que ele não tinha autoridade para determinar a retirada, e uma confusão começou.

Cid levou um soco e recuou. Depois da confusão, ele subiu na retroescavadeira e avançou sobre o portão, quando levou os dois tiros, além de pedradas.

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.