Infância

Crianças têm atitudes racistas a partir dos 3 anos de idade

Pesquisadora mostra que os pequenos protagonizam atitudes discriminatórias já no ambiente escolar

Por Johnatan Castro e Litza Mattos
Publicado em 06 de setembro de 2014 | 03:00
 
 
Impune. Família da menina chamada de ‘preta horrorosa’, em Contagem, está desacreditada na Justiça CHARLES SILVA DUARTE / O TEMPO

Príncipes e princesas de contos de fadas, em sua maioria de pele branca, são apenas uma pequena amostra de como o universo infantil está carregado pelo preconceito. As práticas discriminatórias, uma das faces mais cruéis do racismo, têm se revelado cada vez mais cedo – entre as crianças de 3 a 5 anos, conforme estudo realizado pela professora mineira Sandra Maria de Oliveira em sua pós-graduação na PUC–Minas.
 

Por dez meses, Sandra Maria acompanhou três turmas de cerca de 40 crianças em uma Unidade Municipal de Educação Infantil (Umei) na região do Barreiro, em Belo Horizonte. Nas mais de 200 horas de observação, ela percebeu que as atitudes discriminatórias surgiam principalmente por meio de apelidos, xingamentos e agressões físicas.

“Mesmo elas não tendo consciência do que seja o conceito de raça, já apreenderam aspectos dessa ideologia presente em nossa sociedade. A cor e o cabelo são os principais protagonistas do preconceito racial manifestado por essas crianças, e também os elementos determinantes da diferenciação racial e que motivaram tais ações”, observa Sandra.

Em uma atividade, a pesquisadora pediu para que os alunos recortassem imagens de artistas e personagens de revistas. “Poucos negros apareceram, e essas manifestações vêm das experiências que as crianças vivenciam no mundo adulto. É muito comum o desejo de integrar um grupo branco, eles manifestam que ter uma identidade com o negro não é uma coisa boa e acreditam que para ser bonito e bem-sucedido tem que embranquecer”.

Escolas. O ambiente escolar protagoniza tristes casos discriminatórios. No fim do ano passado, em São Paulo, um aluno de 8 anos foi impedido de ser matriculado em uma escola porque tinha o cabelo “crespo e cheio”.

No mesmo ano, calouros da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) foram submetidos a um trote considerado violento e racista aplicado por estudantes de direito. Um dos alunos foi expulso e outros três foram suspensos por um semestre.

Outro episódio lamentável foi o caso de uma menina de 4 anos chamada de “preta horrorosa” pela avó de outra criança de um colégio particular de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. Apesar de o caso ter acontecido em 2012, o advogado da família disse que a acusada ainda não foi punida.

Recente. O racismo ganhou ainda mais evidência após os xingamentos preconceituosos ao goleiro Aranha, do Santos, proferidos por membros da torcida do Grêmio, na partida do último dia 28.

Minas Gerais

Dados. O Núcleo de Atendimento à Vítima de Crimes Raciais e de Intolerância (Navcradi) recebeu 101 denúncias, de março de 2013 a agosto de 2014.