Investigação

Dona de linhão de Belo Monte pode ser multada por atraso nas obras

A concessionária é a mesma investigada por causa do apagão que deixou 70 milhões de pessoas sem luz em 13 Estados do Norte e Nordeste no dia 21 de março

Por Agência Estado
Publicado em 03 de abril de 2018 | 07:19
 
 
Dona de linhão de Belo Monte pode ser multada por atraso nas obrasDona de linhão de Belo Monte pode ser multada por atraso nas obrasDona de linhão de Belo Monte pode ser multada por atraso nas obras CRISTIANO TRAD

A empresa que controla a linha de transmissão da hidrelétrica de Belo Monte pode ser multada por ter descumprido uma série de exigências previstas em contrato. A concessionária Belo Monte Transmissora de Energia (BMTE), dona da rede, é a mesma que está sob investigação por causa do apagão que deixou 70 milhões de pessoas sem luz em 13 Estados do Norte e Nordeste no dia 21 de março. A concessionária é uma sociedade entre a chinesa State Grid e a Eletrobrás.

A punição foi pedida pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) à Agência Nacional de Energia Elétrica no fim de março, mas não tem relação direta com o apagão. A multa refere-se a atrasos no cronograma de obras da linha ao longo do ano passado.

Por causa do descumprimento desse cronograma, previsto em contrato, o ONS pede que a receita paga à concessionária seja reduzida em 10% a partir de fevereiro deste ano e assim permaneça até a correção de todas as falhas.

A remuneração de empresas que operam linhas de transmissão é definida para o período de um ano pela Aneel. É paga mensalmente em valores incluídos nas tarifas de todos os consumidores de energia elétrica do País. No caso da BMTE, essa receita anual está hoje em cerca de R$ 500 milhões anuais. O valor é dividido em 12 parcelas e distribuído nas contas de luz.

Cabe à Aneel aplicar ou não a punição. A decisão do ONS revoltou a diretoria da BMTE, que classificou o pedido como "absurdo". Segundo a empresa, o próprio ONS foi responsável pelo atraso de diversos testes previstos para a linha, além de fazer exigências que não estavam previstas. "É totalmente contraditório o relato do ONS para essa agência reguladora", declarou a concessionária em documento enviado à Aneel.

A linha de 2,1 mil quilômetros de extensão custou cerca de R$ 5 bilhões. A estrutura tem início no município de Anapu, no Pará, a 17 quilômetros de distância da hidrelétrica de Belo Monte, e corta 65 municípios de quatro Estados - Pará, Tocantins, Goiás e Minas Gerais -, até chegar a Estreito, na divisa de Minas e São Paulo.

A rede, controlada pela chinesa State Grid e Eletrobrás (Furnas e Eletronorte), entrou em operação em 12 de dezembro do ano passado, dois meses antes do prazo previsto em contrato. A antecipação era cobrada pelo governo, para que a usina de Belo Monte pudesse escoar sua energia. Por isso, a BMTE recebeu um "termo de liberação provisória" para começar a distribuir energia.

Em 12 de fevereiro, data de operação efetiva da rede de transmissão, o ONS encontrou uma série de pendências em relação ao contrato original, o que levou à punição.

Procurado pela reportagem, o ONS limitou-se a confirmar o teor de sua decisão. A BMTE declarou que "houve apenas uma recomendação equivocada do ONS, a qual a BMTE já rebateu através de recurso administrativo à Aneel". A empresa informou que a agência vai analisar o caso e que, por enquanto, ainda "não existe corte de receitas". A Aneel não comenta processos em andamento.

Desde o blecaute de março, a linha de transmissão está operando com limitações, por determinação do ONS, até que sejam concluídas as análises das causas do apagão. O laudo deve ser concluído no dia 6 de abril. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.