Combate

Igualdade racial ainda está distante da realidade do país

Dados são implacáveis: entre os 10% brasileiros mais pobres, 74% são negros

Por Da Redação
Publicado em 20 de novembro de 2017 | 03:00
 
 
O gestor de educação do Instituto Identidades do Brasil (ID_BR), Esteban Cipriano Leo Correa/AFP Photo

RIO DE JANEIRO. O Brasil costuma se apresentar como uma nação predominantemente miscigenada, sem grandes tensões raciais, mas quanto mais escuro é o tom a pele de uma pessoa, maiores são os entraves para sua ascensão social.

A questão é tema de debates no Dia da Consciência Negra, celebrado nesta segunda-feira (20) em memória à morte do Zumbi dos Palmares, último líder de uma rebelião de escravos no Nordeste, assassinado em 1695 por colonos portugueses.

A escravidão foi abolida em 1888, mas a grande maioria dos descendentes dos quase 5 milhões de africanos trazidos ao Brasil ao longo de três séculos (quase a metade do total dos enviados à América) segue relegada à base da pirâmide social.

Os dados são implacáveis: na faixa dos 10% brasileiros mais ricos, 70% são brancos; e na dos 10% mais pobres, 74% são negros, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dos brasileiros que se autodeclaram pretos e pardos negros (54% dos 208 milhões de habitantes), apenas 5% ocupam cargos executivos. Nos meios de comunicação, os negros são escassamente representados e, na publicidade, modelos negros aparecem pouco.

“O privilégio branco consiste em se beneficiar de uma série de vantagens sem pensar nisso como algo natural”, explica à AFP a historiadora Giovana Freitas, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Segundo uma pesquisa do instituto Locomotiva, os homens negros formados na universidade ganham 29% menos do que os brancos com qualificação similar; as mulheres, 27% menos do que as brancas.

Desde a adoção, há 15 anos, de cotas raciais para o ingresso nas universidades, sob o impulso de governos de esquerda, a proporção de negros e miscigenados que entram no ensino superior passou de 8% para 27%.

Essas políticas de ação afirmativa começaram a surtir efeito, mas seus beneficiários “ainda não foram incluídos no mercado de trabalho”, lamenta o gestor de programas de educação do Instituto Identidades do Brasil (ID_BR), Esteban Cipriano.

Privilégio branco

O “Jogo do Privilégio Branco”, lançado pelo Instituto Identidades do Brasil (ID–BR), expõe as desigualdades.

Linhas horizontais são traçadas no chão, e todos começam no mesmo nível. Eles dão um passo para trás para cada resposta afirmativa a perguntas ligadas a experiências de desigualdade. Ou para frente, se a resposta for negativa.

Situações diferentes, mas mesmo preconceito

As mentalidades evoluem, mas o preconceito racial ainda persiste no dia a dia. Na última semana, o ator Diego Cintra, 24, foi espancado em um terminal de ônibus em São Paulo por dois assaltantes. Ele pediu ajuda para os vigilantes do terminal, mas os ladrões o acusaram de ser o criminoso. E por ele ser negro, os vigilantes acreditaram na falsa versão.

Na semana anterior, o telejornalista William Waack, da TV Globo, foi suspenso após vazamento de um vídeo em que ele diz “Isso é coisa de preto”, comentando os insistentes buzinaços em uma rua no exterior do estúdio onde se preparava para entrar no ar.

Recentemente, uma marca lançou um papel higiênico na cor preta, com o slogan: “Black is Beautiful”. Diante da repercussão negativa, a empresa anulou a campanha, e a atriz (branca) Marina Ruy Barbosa, que aparecia no anúncio, fez um mea-culpa no Twitter.