Estudo do IBGE

Inativos representam um terço de pessoas em idade de trabalhar no país

Outras hipóteses são o baixo crescimento econômico, que leva ao desestímulo pela procura por trabalho frente às dificuldades de se encontrar um emprego

Qua, 17/12/14 - 10h13

O mercado de trabalho brasileiro viveu uma mudança estrutural de 2004 a 2014, com um expressivo aumento dos chamados inativos, pessoas que não trabalham nem procuram emprego. Esse contingente cresceu 30,6% no período e atingiu 51,1 milhões de pessoas em todo o país --um terço das pessoas com idade para estarem ocupadas (16 anos ou mais).

Os dados são da Síntese de Indicadores Sociais, estudo divulgado pelo IBGE na manhã desta quarta-feira (17).

Dentre as razões dessa expansão, dizem especialistas e o IBGE, estão o crescimento da renda familiar (de 43% no período), que permitiu um "lastro" para que jovens postergassem a entrada no mercado de trabalho, estudassem e se qualificassem à espera uma oportunidade melhor num mercado de trabalho mais seletivo.

Outras hipóteses são o baixo crescimento econômico (principalmente nos anos mais recentes), que leva ao desestímulo pela procura por trabalho frente às dificuldades de se encontrar um emprego.
Outro fator, afirmam, está relacionado à demografia: a população envelheceu e aumentou o contingente de aposentados.

CRESCIMENTO DE INATIVOS - O crescimento dos inativos superou todos os demais contingentes pesquisados pelo IBGE. Sua expansão foi mais acelerada do que a alta de 13,6% da PEA (Pessoas Economicamente Ativas, que agrega quem procura trabalho ou está ocupado). Superou ainda o aumento de 18,7% do total de pessoas em idade para trabalhar (16 anos e mais) e de 13,6% do total de pessoas ocupadas. Dentre os 153 milhões de pessoas em idade ativa em 2013, os inativos somavam 61 milhões de pessoas em 2013.

Segundo Cristiane Soares, o aumento das pessoas fora do mercado de trabalho segue a evolução do nível de atividade da economia - que pode atrair mais pessoas em períodos de maior crescimento do PIB ou afastá-las em fases de estagnação como a atual. Também se orienta, diz, pela a melhora da renda familiar, que permite os jovens estudarem mais.

Segundo o IBGE, o aumento de 44,8%, acima da média, de homens fora do mercado de trabalho de 2004 a 2013 pode indicar a saída deles a fim de se qualificarem à espera de uma oportunidade melhor de emprego.

Para Felipe Leroy, professor de economia do Ibmec, um fator "determinante" e pouco mencionado é o efeito da queda da fecundidade sobre o rendimento per capita, que ocorreu principalmente nos últimos 20 anos. Com menos filhos, as famílias tiveram mais renda disponível para mantê-los sem trabalhar e investir no estudo e na qualificação.

Outro ponto importante, diz, é que o mercado de trabalho se fechou ainda mais para os jovens nos últimos anos em razão de "uma profunda mudança da estrutura produtiva do país", que passou a exigir mão de obra mais qualificada. Essa nova tendência, afirma, não foi acompanhada por uma alteração da grade curricular do ensino médio, com mais foco na formação técnica.

"O ensino médio não prepara para o mercado de trabalho. Tenta preparar para o ingresso na faculdade. O jovem de 17 ou 18 não está pronto para entrar no mercado de trabalho. Há 20 anos, não era necessária a qualificação exigida agora."

RENDIMENTO E INFORMALIDADE - Os dados do IBGE mostram ainda que o rendimento cresceu mais entre os trabalhadores informais - 51,8% de 2004 a 2014). Para os trabalhadores formais, a alta foi de 26,7%. A distância, porém, é muito grande ainda: em média, os trabalhadores formais ganhavam R$ 1.921, contra R$ 720 dos não legalizados.

A desigualdade de renda entre homens e mulheres era maior entre os informais: elas recebiam 65% da remuneração dos homens, contra 75% no caso dos trabalhadores formais.

Pelos dados, o total de trabalhadores informais caiu de 54,3% em 2004 para 42% em 2013, percentual considerado ainda elevado pelo IBGE e alta para padrões internacionais. O grupo com maior informalidade é o de 60 anos ou mais. São aposentados que voltam ao trabalho para complementar a renda, segundo o IBGE.

DISTRIBUIÇÃO DE RENDA - Pelos dados do IBGE, cresceu o peso das transferências de renda do governo como programas sociais e outros benefícios para as famílias com renda per capita de até um quarto do salário mínimo. A fatia das chamadas rendas de outras fontes (que inclui ainda rendas de alugueis e investimentos, com peso pequeno nessa faixa de renda) subiu de 20,3% em 2004 para 37,5% em 2013. Já o peso da renda do trabalho cedeu de 73,6% para 57%.

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