Rio Grande do Sul

Menino encontrado morto se queixava de ‘descaso’ do pai

Após dez dias de buscas, corpo de Bernardo Boldrini, 11, foi achado enterrado num matagal

Ter, 15/04/14 - 21h50
Professores, vizinhos e colegas descrevem Bernardo como atencioso | Foto: ARQUIVO PESSOAL/REPRODUÇÃO

Porto Alegre. A localização do corpo do menino Bernardo Uglione Boldrini, 11, na noite dessa segunda, encerrou uma busca que já durava dez dias e comoveu o Rio Grande do Sul, uma vez que a polícia afirma ter evidências de que o pai da criança, a madrasta e outra mulher teriam se envolvido na morte do garoto.
 

O sumiço de Bernardo foi comunicado à polícia pelo pai, o médico Leandro Boldrini, 38, no dia 6 de abril, quando ele teria percebido que o menino não voltou após passar o fim de semana na casa de vizinhos.

Professores, vizinhos e colegas descrevem Bernardo como um garoto educado e atencioso, mas também revelam algumas situações de carência afetiva. No fim do ano passado, a pedido do Conselho Tutelar, o Ministério Público tratou do caso e, em fevereiro, propôs que a avó materna, moradora de Santa Maria, ficasse com a guarda do garoto, que vivia em Três Passos.

A promotora Dinamárcia de Oliveira contou que ele não se queixava de agressões físicas, mas de descaso do pai e da madrasta, e queria morar com outra família. À época, o pai propôs uma retomada da relação e o menino concordou.

O caso. Pelos dez dias seguintes ao desaparecimento do garoto, os moradores de Três Passos, cidade de 24 mil habitantes, localizada a 470 km de Porto Alegre, mobilizaram-se.

A investigação policial encontrou contradições entre os depoimentos dos familiares e descobriu que em 4 de abril, dia em que Bernardo teria saído de casa, a madrasta, Graciele Ugulini, 32, formada em enfermagem, foi multada por excesso de velocidade em uma viagem a Frederico Westphalen, a 80 km de Três Passos. Policiais rodoviários informaram que o garoto estava no automóvel.

Posteriormente, a polícia localizou Edelvânia Wirganovicz, 40, amiga da madrasta que, depois de algumas negativas, teria indicado a localização do corpo.

Na noite de segunda-feira, os policiais encontraram o corpo do garoto, enterrado dentro de um saco de plástico em um matagal próximo a um riacho em Frederico Westphalen.

De acordo com o atestado de óbito, o garoto morreu em 4 de abril, dia em que foi visto no carro, com a madrasta.

Sem dúvidas. A investigação corre em segredo de Justiça e deve esclarecer mistérios como o que teria levado os suspeitos a cometer o crime, qual foi a participação exata de cada um no desaparecimento e se o garoto foi morto pela aplicação de uma injeção letal.

A delegada Caroline Bamberg Machado disse nesta terça que, pelas exigências do segredo de Justiça e também para não prejudicar o trabalho, não daria mais detalhes da investigação. Mas demonstrou convicção de que os três presos estão envolvidos com o crime. “Eu não tenho dúvida da participação deles, o que é importante para conseguir uma condenação é identificar qual é a parcela de culpa de cada um”, afirmou.

O corpo de Bernardo será sepultado nesta quarta, no mesmo túmulo da mãe, Odilaine, que cometeu suicídio, em 2010, dentro da clínica do pai do menino, há quatro anos. Bernardo tinha uma meia-irmã de um 1 e meio, filha do pai e da madrasta.

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