Pandemia

Partidos acionam o Supremo contra mudança na divulgação de dados da Covid no DF

Governo do Distrito Federal passou a divulgar somente o número de óbitos ocorridos no mesmo dia, deixando de somar os casos que aconteceram em outras datas, mas que só foram confirmados nas últimas 24h

Por Estadão Conteúdo
Publicado em 23 de agosto de 2020 | 15:45
 
 
Desaposentação volta à pauta do Supremo Tribunal Federal José Cruz/Agência Brasil

A Rede Sustentabilidade, o PCdoB e o PSOL apresentaram petição ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, para questionar a “contabilidade criativa” adotada pelo governador do Distrito Federal Ibaneis Rocha (MDB) na divulgação de dados da covid-19. Após registrar recorde de mortos nesta semana, o governo distrital passou a divulgar somente o número de óbitos ocorridos no mesmo dia.

A medida deixa de somar vítimas que faleceram em outras datas, mas que só tiveram a confirmação da causa da morte determinada nas últimas 24 horas.

O modelo é o mesmo que o governo federal, por ordem do presidente Jair Bolsonaro, tentou emplacar em junho, mas foi barrado por decisão do Supremo. O caso ficou nas mãos de Alexandre de Moraes, por isso os partidos acionaram o ministro na mesma ação.

Segundo as legendas, instadas sobre as medidas pelo deputado distrital Leandro Grass (Rede-DF), a modificação determinada pelo governo Ibaneis gera “insegurança” sobre a análise do avanço da doença. Os partidos dizem que a mudança “manipula os dados de forma a, teoricamente, suavizar a incidência da doença em âmbito local”.

“É inegável se tratar de uma contabilidade criativa, prejudicial à saúde de toda a população, que terá a falsa sensação de que 'tudo está bem'. Como se cogitar de mudar a metodologia de cálculo já passados mais de cinco meses de enfrentamento da doença? Não há razão para tanto senão o próprio desvio de finalidade, de querer esconder da população a real dimensão do problema enfrentado”, apontam os partidos.

A mudança na divulgação de mortos por covid-19 no Distrito Federal foi anunciada nesta quinta, 20, após serem registrados 51 óbitos pela doença, sendo 8 ocorridos no mesmo dia - número recorde.

Segundo o secretário de Saúde do DF, Francisco Araújo, a população estava 'desassossegada' com os números atuais. “Vamos fugir dessa metodologia que o País inteiro está usando, porque não está funcionando”, disse Araújo.

A Procuradoria-Geral do Distrito Federal aguarda a sua intimação para se manifestar no processo no Superior Tribunal Federal.

 

A medida coloca em prática ação que o governo Jair Bolsonaro tentou emplacar em âmbito nacional em junho. Além de adiar a divulgação diária dos dados - o próprio presidente celebrou os atrasos dizendo que “acabou matéria no Jornal Nacional” - o Planalto e o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, tentaram mudar a forma de divulgação de dados para tirar o foco do número de mortes. A metodologia consiste em somente divulgar os números de óbitos registrados no mesmo dia, ignorando os casos em que a pessoa faleceu, mas só teve a confirmação da causa da morte registrada naquele dia. É um método pouco fiel para avaliar o avanço da doença, pois há vítimas que levam semanas para receber o diagnóstico da causa da morte.

Por exemplo, na última quarta ( 19), o Ministério da Saúde somou 1 212 mortos por covid-19. Deste total, 279 morreram e foram diagnosticadas na mesma quarta-feira e o restante foram óbitos que ocorreram em dias anteriores, mas cuja confirmação foi feita na quarta.

Foi em resposta à tentativa do governo federal de alterar a divulgação dos dados que o consórcio de veículos de imprensa, formado pelo Estadão, Folha de S. Paulo, O Globo, Extra, G1 e UOL passou a divulgar diariamente boletim próprio sobre a covid-19 em trabalho conjunto, com base nas informações colhidas junto a secretarias estaduais de Saúde.

No Supremo, o governo Bolsonaro sofreu uma derrota após o ministro Alexandre de Moraes impôr ao Planalto que divulgasse os dados agregados. O Planalto recuou da medida desde então.

Segundo Moraes, a metodologia de divulgação de apenas os casos e óbitos confirmados no mesmo dia prejudicam as análises e projeções necessárias para auxiliar ao combate da pandemia e impedem a população de ter o pleno conhecimento da situação da doença no País.