dentro da cadeia

Penitenciárias femininas só liberam sexo entre presas após casamento

Por conta dessas restrições de comportamento, uniões como a de Suzane von Richthofen, na semana passada, são comuns nos presídios

Por DA REDAÇÃO
Publicado em 03 de novembro de 2014 | 13:14
 
 
Suzane von Richthofen, condenada a 38 anos e seis meses de prisão, está casada desde setembro com a também presidiária Sandra Regina Gomes, condenada a 27 anos ARQUIVO ROBSON FERNANDJES/AGÊNCIA ESTADO

Penitenciárias femininas paulistas proíbem namoros e só liberam o contato íntimo entre as presas depois do casamento. Por conta dessas restrições de comportamento, uniões como a de Suzane von Richthofen, revelada pela Folha de S.Paulo na semana passada, são comuns.

Suzane condenada por matar os pais, cumpre pena em uma das duas penitenciárias do município de Tremembé, no Vale do Paraíba. Na mesma região, em São José dos Campos, há um centro de ressocialização de regime semiaberto.

Nas três unidades, a união não costuma ser oficializada em cartório, mas pela direção do presídio. Uma vez casada, a presa dorme em cela especial com sua companheira, ao lado de três a cinco casais.

Nessas celas, como em qualquer outra da unidade, as camas são feitas de colchões finos para uma só pessoa. A diferença é que são isoladas por lençóis pregados com barbantes chamados de "quietos", abreviação de "come quieto".

Bilhetinhos são vetados pela administração penitenciária, mas muitas paqueras começam com "pipas", as cartas entre presas entregues clandestinamente.

A opção sexual de uma mulher em geral é respeitada. Se uma presa se declarar heterossexual, não receberá "pipa", segundo a advogada Viviane de Carvalho, que trabalha para detentas dessas unidades. No entanto, é comum que mulheres casadas com homens quando livres passem a se relacionar com detentas depois de presas, afirma.

Em muitos casos, isso acontece porque as visitas a penitenciárias femininas são escassas. Sentindo-se sozinhas, presas se envolvem com colegas com mais naturalidade, opinam advogados, um padre e dois defensores públicos ouvidos pela Folha. 

Hábitos e costumes

O grande número de casamentos na cadeia provocou a criação de regras de conduta. Na hora do banho, por exemplo, as mulheres devem circular com toalhas que cubram sua visão para evitar o ciúmes de companheiras.

Uma briga mais acalorada pode ser considerada falta grave pela direção da cadeia, levando à regressão de pena. Como o acesso a bens materiais é restrito, dificilmente uma presa pode oferecer um presente à sua parceira. Agrados oferecidos são, por exemplo, serviços advocatícios.

O advogado William Telles relata que uma cliente presa em Tremembé pagou R$ 1.500 para que ele cuidasse de um processo administrativo contra sua companheira.

Os casamentos também fazem bem à autoestima das presas. Nas penitenciárias de Tremembé, onde detentas trabalham, o salário é gasto em parte com a compra de produtos de beleza.

Esmaltes, lixas, lâminas para depilar e tintas de cabelo são objetos presentes nas listas mensais de compras. Como nenhum produto que contenha álcool é permitido, a acetona é substituída por óleo de banana.

Apesar de todas as restrições, casais põem à prova sua lealdade atrás das grades. Segundo o advogado Telles, há alguns meses uma presa em Tremembé pediu para ficar na cela de isolamento com a parceira enquanto ela tivesse que cumprir o castigo por desacato.