Chuvas

Produção agrícola impacta a saúde das bacias hidrográficas

A captação de água pela irrigação e o histórico de desmatamento interferem na absorção das águas

Qua, 13/10/21 - 04h06
Conforme a empresa, a intensificação das chuvas fez com que os entupimentos e vazamentos em residências apresentassem crescimento de até 40% | Foto: Alexandre Mota / O Tempo

O acumulado de déficit de chuvas ao longo dos últimos anos foi fundamental para a atual crise hídrica nas regiões do Triângulo Mineiro e do Alto Paranaíba. Mas não somente isso. O professor do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Sylvio Luiz Andreozzi explica que a falta de investimento em recuperação de matas e corpos hídricos, além da falta de tratamento de esgoto em vários municípios, também são determinantes para a redução da saúde de rios e reservatórios. 

O Triângulo Mineiro possui uma importante produção agrícola, que acaba impactando a saúde das bacias hidrográficas – seja pela captação de água pela irrigação ou pelo histórico desmatamento, que interfere na absorção da chuva. A tempestade de poeira que atingiu a região em setembro (além de São Paulo) é uma mostra de que é preciso conciliar a produção agrícola com regiões de matas. 

“A tempestade é um sinal de que estamos fazendo tudo errado. Aqui não é um deserto. Temos um sinal de que há uma coisa errada no manejo, porque temos muito solo exposto, permitindo que essa quantidade imensa de terra fosse deslocada”, explica o especialista, que também integra o Comitê da Bacia Hidrográfica do rio Araguari. 

Com as chuvas de outubro, a situação nos municípios tende a melhorar. Mas existe uma grande possibilidade de o problema de escassez voltar em meados do próximo semestre, pois a previsão é de, mais uma vez, o Estado ter um período úmido com menos chuvas do que a média histórica. Para Andreozzi, é fundamental que a preparação seja feita desde agora, para que os moradores do Triângulo e do Alto Paranaíba não vivam novamente o risco de racionamento. 

“Temos que, desde já, pensar em ter menos retirada de água dos corpos hídricos. Ou seja, não podemos adotar medidas de restrição somente no final da temporada seca, quando o estado é crítico. Temos que começar as ações agora para tentar chegar a uma temporada seca com estado de elevação nos reservatórios”, argumenta o professor, acrescentando que o fato de 2022 ser um ano eleitoral é um complicador para tomada de decisões menos impopulares em nome do planejamento. 

Racionamento. A grande questão é o peso político sobre a palavra “racionamento”. Mas mesmo que o gestor do serviço de abastecimento ou a administração pública opte por termos como “rodízio” ou “intermitência no serviço”, o importante é que o usuário do serviço seja bem informado sobre a situação hídrica de sua região. 

Verificando as redes sociais de alguns municípios onde há moradores que não estão recebendo água de forma constante, é possível perceber que faltam informações sobre os horários de abastecimento e quais bairros são mais atingidos. “É preciso deixar bem claro sobre o que está sendo feito e o porquê. E deixar claro sobre quais são as regiões onde há maior restrição no abastecimento”, alerta o especialista.

Rejeitos nos rios comprometem qualidade da água

Outra questão que interfere no abastecimento é o pequeno percentual de municípios do Triângulo e Alto Paranaíba com tratamento de esgoto. Qualquer rejeito lançado nos rios comprometem a qualidade da água ao longo de seus cursos. 

De acordo com Sylvio Luiz Andreozzi, o Comitê da Bacia Hidrográfica do rio Araguari tem oferecido soluções para resolver isso nas cidades. 
“Estamos fazendo um mapeamento da situação, cadastrando todos os municípios para saber a extensão das redes de esgoto, verificar as necessidades reais dos municípios, o impacto do esgoto nos rios e a instalação de unidades de tratamento”, diz Andreozzi. 

Segundo a Copasa, das 81 localidades atendidas com abastecimento nas duas regiões, 19 possuem tratamento de esgoto. A companhia afirma ainda que, atualmente, está em construção a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Fronteira. A previsão é que seja concluída em 2022. 

Para o ano que vem, também está prevista a construção da ETE de Estrela do Sul. A estimativa é que o tratamento seja iniciado na cidade de Guimarânia, em Quintino, distrito de Carmo do Paranaíba, e nas localidades de Bom Sucesso, Santana de Patos, Major Porto e Areado, pertencentes ao município de Patos de Minas, no Noroeste mineiro. 

Em várias cidades do Triângulo, como Uberlândia, Uberaba e Araguari, empresas municipais são responsáveis tanto pelo abastecimento de água quanto pela coleta e tratamento do esgoto.

Preservação de mananciais

As ações que devem ser feitas para melhorar as condições de rios e reservatórios não são “mirabolantes”. Isso passa pela conscientização da população para fazer uso consciente, não sujar rios, não desmatar, entre outros, e também pela conservação de áreas verdes para melhor infiltração – permitindo que a água chegue aos lençóis freáticos e, consequentemente, aos corpos hídricos. 

Um controle sobre o uso do solo por agricultores e pecuaristas também pode ter impacto no ecossistema de uma região, pois quanto mais árvores há num espaço, melhor é a absorção da água que cai da chuva.

A Copasa afirma que investe em preservação ambiental, por meio do Programa Socioambiental de Proteção e Recuperação de Mananciais (Pró-Mananciais), que “tem o intuito de construir coletivamente o sentimento de pertencimento da população à microbacia da região onde está inserida e proteger e recuperar as microbacias hidrográficas e as áreas de recarga dos aquíferos utilizados na captação de água para tratamento e distribuição ao público”. 

Segundo a empresa, quase R$ 6 milhões foram aplicados no plantio de mudas, no cercamento de áreas de preservação permanentes, adequação de estradas, produção de bolsões e curvas de nível e promoção de oficinas de educação ambiental em instituições de ensino, em 21 municípios do Alto Paranaíba, Triângulo Mineiro e Noroeste do Estado. 

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