Educação

Três cidades de Minas e 1 da Bahia concentram 95% dos erros do Enem

Viçosa, Ituiutaba e Iturama, em Minas, e Alagoinhas, na Bahia, concentram maioria das situações de falha na correção da prova

Por Alex Bessas
Publicado em 20 de janeiro de 2020 | 17:54
 
 

A maioria dos cerca de 6.000 candidatos prejudicados por um erro na correção do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) fez a prova em Minas Gerais, de acordo com levantamento divulgado nesta segunda-feira pelo Ministério da Educação (MEC).

Responsável pela pasta, Abraham Weintraub, garantiu que as notas já estão corrigidas e disse que o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) será aberto hoje, conforme programado previamente. Todavia, agora, o prazo para que os vestibulandos inscrevam suas notas do Enem para pleitear vagas nas universidades do país foi estendido em dois dias e pode ser feito até domingo.

O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Alexandre Lopes, explicou que Viçosa, Ituiutaba e Iturama, em Minas, e Alagoinhas, na Bahia, concentram 95% das situações de falha na correção do exame.

Quarto titular responsável pelo Inep em um ano, Lopes garantiu que a reavaliação das notas já foi realizada. “Pegamos todos os quase 4 milhões de participantes e corrigimos as provas deles com todos os gabaritos deles – e calculamos todas as inconsistências possíveis. Então, já olhamos todos os casos, todas as situações em que pudesse ter modificação de nota”, assegurou. Ainda no vídeo, Weintraub descartou que houvesse algum equívoco em relação à pontuação da redação.

O estudante Vítor Brumano, 19, observou que, por volta das 18h30, suas notas foram modificadas no portal do participante. Aluno do Coluni, considerado o quinto melhor colégio no ranking geral do país e o primeiro do ensino público, de acordo com o MEC, ele havia estranhado que, mesmo gabaritando muitas questões, tivesse pontuação considerada baixa. “Acertando 35 de 45 questões, em matemática, minha nota foi de 378”, relatou. 

Agora, a avaliação foi reajustada para 856,9 pontos, conta ele aliviado e já voltando a sonhar com a vaga para o curso de engenharia elétrica, na UFMG.

Falha mecânica

Segundo Weintraub, o erro ocorreu durante o processo de impressão das provas e seria uma falha mecânica do equipamento usado pela gráfica Valid Soluções S.A., responsável por todo o processo de confecção do exame – desde a diagramação até a entrega dos cadernos aos Correios. O ministro cita, em vídeo distribuído nas redes sociais, que a impressora usada pela empresa teria tido engasgos. Segundo o Inep, foram constatados erros na identificação dos candidatos e da respectiva cor de sua prova. 

Não ficou claro, no pronunciamento de Weintraub, se os erros ocorreram só no segundo dia de provas. No domingo, foram denunciadas falhas também nas notas do primeiro dia.

Responsável pela impressão do Enem desde 2009, a RR Donelley havia vencido o edital e também cuidaria da confecção da prova em 2019. No entanto, a empresa decretou falência em abril do ano passado. Então, em de convocar um novo edital, o MEC optou por contratar a Valid Soluções S.A., que havia ficado em segundo lugar.

Aos participantes do Enem 2019. O @inep_oficial avaliou todas as notas, e cerca de 6000 apresentaram inconsistências. Ninguém será prejudicado! O Sisu abrirá amanhã e terá mais dois dias além do previsto, ou seja, vai até domingo (26). Novamente, pedimos desculpas pelo susto. pic.twitter.com/zU6V4nYO1Y

— Abraham Weintraub (@AbrahamWeint) January 20, 2020

INEP recebeu pelo menos 75 mil queixas

No sábado, ao reconhecer que houve erro na correção das provas, o Inep, que havia rechaçado tal hipótese na sexta-feira, disponibilizou um e-mail para que candidatos pudessem requerer, até 10h desta segunda-feira, uma revisão do exame. Por meio desse mecanismo, mais de 75 mil candidatos questionaram os resultados.

O número muito superior aos cerca de 6.000 afetados, de acordo com levantamento do MEC, pode ser explicado pelo fato de que muitos vestibulandos optaram por enviar email solicitando a reavaliação, mesmo sem indícios de que tivessem sido prejudicados.

"Meus amigos, mesmo os que achavam que estava tudo correto, mandaram para ter certeza, para certificar que estava correto", comentou Vítor Brumano sobre a situação.

O presidente do Inep, por sua vez, comentou que, mesmo quem não pediu reavaliação teve sua nota revisada, devido ao pente fino, que contou com uma força tarefa de 300 pessoas em plantão de 24h por dia. Lopes também lembrou, em coletiva de imprensa realizada na segunda-feira, que erros como este não acontecerão a partir de 2020, quando o Enem deve ser aplicado digitalmente. 

Pais e alunos procuram o MPF

Uma das candidatas prejudicadas pela falha na correção do exame, Virgínia Barbosa Medina, 20, acompanhou um grupo de pais e de estudantes que, para garantir que suas notas fossem corrigidas, buscaram salvaguarda do Ministério Público Federal (MPF).

Em uma reunião realizada na tarde desta segunda-feira, o grupo foi atendido pela procuradora Zani Souza, em Juiz de Fora. "A ideia foi vir até o MPF para saber o que poderia ser feito. Protocolamos uma reclamação porque tememos que, neste curto intervalo, não dê tempo de que a nossa pontuação seja corrigida até a abertura do Sisu", relatou a estudante. Horas depois, Virgínia confirmou que sua nota havia sido corrigida no portal do participante.

Em resposta à reportagem, o MPF informou que ainda não há nada de concreto sobre o caso.