Entrevista

A outra versão do caso Aline

Qua, 27/05/09 - 20h32

Depois de quase oito anos, dois dos quatro suspeitos do assassinato da estudante Aline Silveira Soares resolveram quebrar o silêncio. Cassiano Inácio Garcia e Edson Poloni Lobo de Aguiar, ambos com 27 anos, concederam entrevista ontem a O TEMPO, na capital. Eles contaram à reportagem como tem sido conviver com o estigma de acusado e o que aconteceu naquele outubro de 2001, momentos antes de encontrarem a vítima morta, com 17 perfurações, no cemitério de uma igreja na cidade de Ouro Preto.

Confira a entrevista de dois dos quatro suspeitos da morte de Aline

Entrevista de Edson Lobo:

O que você estava fazendo em Ouro Preto em outubro de 2001?

Eu estava na faculdade, ia fazer uma peça de teatro no domingo (14 ou 15) e tinha que voltar para Ouro Preto e tinha que tomar conta da república junto com os meninos.

Você estudava o quê na época?

Direção teatral, na UFOP.

Há quanto tempo você estava lá?

Há duas semanas (considerando a data que o corpo foi encontrado, 13/10), porquê a faculdade entrou em greve e depois foi retomada às aulas, tinha menos de um mês que morava em Ouro Preto. Fui para lá depois de muita luta em ter conseguido falar para minha família e conseguir convencer que seria o melhor, depois de ter passado em sexto lugar na faculdade, estava começando a minha caminhada na área de direção teatral. Tinha voltado para a cidade pois iríamos fazer uma peça de teatro e com isso eu voltei para poder estudar, ensaiar. Na época do 12 (Festa do 12), também estava para ir para a festa.

A peça ia ser encenada em Ouro Preto?

Ia ser em um distrito de Ouro Preto, mas não me lembro o nome.

Como vocês conheceram a Camila Dollabela e a Aline Silveira?

Foi na quinta-feira a noite quando cheguei na república. Elas já estavam lá.

Você lembra o dia?

Dia 11, na quinta-feira. Elas já estavam na república quando eu cheguei.

Você tinha convidado as meninas?

Não, nesse dia eu estava chegando com a Janaína Leite na república para mostrar as obras de arte dela, que eram em máscaras de couro e que estavam guardadas desde uma outra festa. Fui com ela lá, tínhamos trabalhado o dia todo, ensaiado, mas elas já estavam lá.

Você conhecia a Camila de algum lugar?

Não

Como foi o contato com a Aline nesses poucos dias até encontraram o corpo dela?

Oi, tchau, bom dia, boa tarde e boa noite. Elas só estavam hospedadas em nossa república, elas não ficavam lá. Elas frequentavam as festas da república Necrotério, só estavam hospedadas na nossa, dormindo.

Vocês jogaram RPG com elas?

Não, só joguei RPG em Vitória. Lá em Ouro Preto os meninos não conheciam nada de RPG. Eu tinha os livros e eu ia começar a querer formar um grupo com eles, mas só que o RPG não é num estalar de dedos que você monta um grupo. Tem que estudar e saber as regras e com isso, leva no mínimo uma semana para montar um grupo.

Nesse tempo você já conhecia o Cassiano Inácio e o Maicon Fernandes (outros dois suspeitos)?

Sim, estava morando com eles. Mas tinha menos de uma semana que eu estava lá. Tinha sim levado os livros de RPG, só que estava muito atarefado pois tinha a peça de teatro para ensaiar e os meninos tinham que estudar música, eles faziam música na época. O Cassiano estava montando uma trilha sonora para um monólogo que ia acontecer de uma amiga nossa, a Cláudia, para o MoMu (Festival de monólogos e música original). Então a gente não tinha tempo para a gente poder brincar. A gente estava o tempo todo trabalhando.

Como recebeu a notícia de terem achado o corpo da Aline?

Fiquei estatelado. A menina estava do nosso lado (na mesma república) e a minha primeira reação foi ligar para o meu pai, que era policial na época, que já foi da Homicídios lá em Vitória, para perguntar o que se deve fazer. Aí perguntei para ele e a primeira coisa que fizemos foi ligar para a polícia e falar onde estavam as meninas. Nem isso eles (polícia) sabiam. Desde o começo queríamos ajudá-los, mostrar o quarto onde elas dormiam, ajudar.

As três dormiam no mesmo quarto?

As três dormiam no mesmo quarto e a gente queria ajudá-los para desvendar. Afinal, foi um crime trágico e o que queríamos foi ajudar a solucionar tudo. Mas até hoje falamos a verdade da mesma forma e simplesmente querem uma "Caça às Bruxas", querem montar uma história fantasiosa em cima de uma cosia que não aconteceu.

Porque a culpa caiu sobre vocês quatro? Porque relacionaram vocês com esse crime?

Tem várias coisas relacionadas de erro do próprio delegado. Não vou falar nada em relação a vida dele, mas tem várias coisas que eles fizeram para chamar a atenção da mídia e tirar o foco deles.

Colocar a suspeita sobre vocês também era dar uma resposta rápida para o caso?

Sim, era dar uma resposta rápida para a sociedade. Tem vários furos no inquérito que estão mal explicados. O processo é com o nosso advogado, mas tem vários furos dentro. Mas para não darem como incompetência da Justiça, eles quiseram colocar quatro pessoas que não tem nada a ver e destruíram a vida da família de uma menina. A Camila é uma pessoa muito boa, na hora que tiraram foto da gente rindo e colocaram que era de alívio, pois tinham adiado o julgamento para outro dia, na verdade a gente estava conversando sobre a questão das famílias. Ela falou que infelizmente não tem família mais.

Mas falou isso rindo?

Não, aí a gente estava falando que a juíza estava fumando dentro do tribunal. E isso é proibido e rimos por causa disso. Estávamos conversando mais sobre a família. A única família dela é o pai. Acabou o resto e por causa desses problemas que a Justiça trouxe para nós. Infelizmente, não acredito mais na Justiça no Brasil, a gente perde muita coisa na nossa vida. Ela perdeu a família e a gente perde coisas como oportunidades de trabalho e quando estamos quase conseguindo, vem um estouro desse na mídia novamente e acaba com tudo. Estou com medo de perder de repente mais um emprego.

Hoje você trabalha?

Sim, trabalho como produtor cultural e vendedor em um shopping. Não consigo entrar numa produtora porque a imagem que está relacionada a mim é negativa. Quem vai querer deixar nas minhas mãos a imagem e a identidade de uma empresa sendo que a minha imagem está toda, desculpa a palavra, cagada (sic), graças a imprensa marrom que existe por aí.

Logo depois que aconteceu isso aí, quanto tempo ficou em Ouro Preto?

Fiquei dois dias. Sai de Ouro Preto porque fui ameaçado de morte. O delegado, no intuito de esclarecer, pois ele tinha uma pista relacionada ao RPG, pediu para eu fazer um novo depoimento. Sem a presença de advogado e sem a presença de ninguém. Fui lá na maior boa vontade para esclarecer o que ele tinha de dúvida. Quando eu saí da delegacia, vi câmeras a postos na delegacia e a família toda da vítima lá. Quando fui pegar o ônibus, chegaram três pessoas, inclusive o irmão da vítima que chutou o carro do meu tio (na última segunda-feira), me ameaçando de morte. Por isso que saí de Ouro Preto, senão tinha continuado, tinha continuado a minha faculdade e a minha vida. E eles poderiam ter solucionado o caso, pegando a verdadeira pessoa.

Nesse tempo você chegou a ser preso?

Sim, fui preso e fiquei 12 dias no presídio em Ouro Preto, foram dias terríveis.

Foi no início do caso?

Não, foram quatro anos depois (de acharem o corpo).

Em liberdade, você voltou para Vitória?

Sim, voltei para a Vitória para dar continuidade à minha faculdade. Tive que trancar a faculdade, demorei seis anos para terminar a faculdade, sendo que eu poderia estar fazendo uma segunda faculdade ou uma pós-graduação.

Você falou das dificuldades no mercado de trabalho e em suas relações sociais. Elas são afetadas? Você ficou estigmatizado?

Graças a Deus não. Como eu moro lá (em Vitória) desde pequeno, as pessoas me conhecem. Então, ninguém acredita que isso aconteceu e que eu possa ter feito uma coisa dessas. Tenho muitas pessoas que rezam por mim. Lá em Vitória tem muita gente orando, rezando e pedindo, de todas as formas, coisas positivas. Desde pequeno eu frequento a igreja lá e todos os meus amigos e a minha mãe estão em uma corrente de oração. Eles vêem o nosso sofrimento e estão nos apoiando.

Qual a igreja que você frequenta?

A igreja Cristo Redentor, do bairro República.

Qual a sua expectativa para o dia 1º de julho (nova data para o julgamento)?

Se for pela imprensa, já estamos condenados. Mas minhas expectativas são boas, confio muito em meu advogado. Ele é muito bom e vai mostrar a verdade e com certeza vai dar tudo certo. Tinha uma terceira menina na viagem da Alina Silveira e Camila Dollabela que sumiu do mapa.

Você não tinha contato com ela também?

Não.

Se fala que um de vocês era namorado da Camila. Isso é verdade?

Não, não tive relacionamento com nenhuma delas. Não conhecia a Camila antes do fato.

Entrevista de Cassiano Inácio

Quais são suas observações sobre esse caso?


Talvez a Justiça considerou como estranhas coisas que são cotidianas na cidade, por exemplo, o fato de elas terem ido para a nossa casa. Nós morávamos em uma república.

Você veio exclusivamente para Ouro Preto para estudar?

Sim, cheguei em 2000 em Ouro Preto. Antes, morava no Sul de Minas. A cidade é uma cidade de estudantes jovens, as repúblicas são casas abertas, são casas que não tem família, tem festas e eventos e as pessoas entram e saem normalmente. Aquela coisa de jovem. Você, por exemplo, vê um grupo de jovens e conhece gente de várias cidades, as pessoas vão até sua casa, entram e saem. O entra-e-sai nas repúblicas não é estranho. O que aconteceu é que pessoas que não conheciam ficaram em nossa república, essas pessoas mal tiveram contato com a gente, elas ficaram nas festas e eventos, não estava tendo nada em nossa casa. Aí, aconteceu um crime, que a gente não imagina o quê, como e quem, nem qual é o passado dessas pessoas. Mas a polícia, não tendo nada nas mãos, sei lá se por incompetência ou até por vontade própria, tendeu para o lado mais fraco. Era a única coisa que eles tinham, eram as pessoas que moravam na casa, que estavam num procedimento normal, de universitários e de república.

Você não conhecia nenhuma das três garotas nem teve relacionamento com elas?

Todos nós não tínhamos contato com elas, no pouco tempo que elas ficaram na casa, não posso nem considerar que ficavam hospedadas lá, pois esses eventos giram a noite. As pessoas vão para a festa e ficam direto. e, se param, é questão de algumas horinhas para descansar, tomar um banho e voltam para os eventos. É difícil até falar que elas estavam hospedadas. Não tive relacionamento com elas de ficar o tempo todo na festa. Mas, no caso da Liliane, a gente acabou ficando, rolou uns beijos.

Essa menina era a menor?

Sim, mas nada de relacionamento, de namoro. Ficou claro essa história que não tínhamos contato com elas nem antes nem depois do caso.

Como você ficou sabendo que acharam Aline Silveira morta?

Estávamos em casa, na república, e as meninas tinham voltado para a república depois das festas e com a intenção de ir embora para a cidade delas. Elas comentaram que não encontraram uma delas. Tinha sumido desde a noite passada. Elas iam procurar, rodar a cidade e ficaram horas procurando mesmo. Acho que foi a tarde quando elas apareceram lá, dizendo que encontraram uma menina morta e que poderia ser ela. Quando ficamos sabendo disso e pensamos na possibilidade de ser ela, a reação que nós tivemos foi que a situação é complicada, as meninas são de fora e a gente poderia tentar ajudar de alguma forma e facilitar a vida delas, o mineiro tem muito isso, de hospitalidade e de ajudar as pessoas que são de fora e que tem problemas. Acho que a gente ficou tão preocupado que a gente tentou ajudar ao máximo. No caso, eu fui com ela para o local onde a menina tinha sido deixada e depois acompanhei elas até a delegacia para avisar o que tinha acontecido. Não vejo nada de anormal nisso, pelo contrário. Era uma questão de ajudar, mesmo não conhecendo.

Quando a situação virou para o lado de vocês?

Por vários motivos. Coisas que não consideramos estranhas, que não estão fora do normal, mas eles, a polícia no caso, acharam estranho e tenderam para esse lado, por questões de comodismo. Devem ter pensado que estávamos ajudando demais, que não existe gente assim. Acho um absurdo, mas o fato de os policiais terem sido acomodados é normal, né! Vários fatos contribuíram para nós sermos acusados.

Quais seriam esses fatos?

Esse é um deles, termos ajudado demais as meninas. Na época, sempre gostei muito de rock. Sempre usei muito jeans, até hoje gosto muito, e de camisas de rock. Tinha cabelo comprido, tocava guitarra e logo associaram essa imagem ao satanismo, coisa negativa.

Mas essa era uma imagem exclusiva sua ou também de seus amigos?

Não, só eu que era mais fã de rock, dos anos 80 e 70. Tinha camisas pretas e muito jeans. Vendo isso, eles (polícia) acharam estranho. Isso com certeza contribuiu. O Maicon (outro suspeito) é um menino muito talentoso, é um grande músico, muito disciplinado, muito dedicado e sempre ficou muito no canto dele estudando. Como um bom músico fica. Sempre estudou muito trancado no quarto, só que eles (policiais) também acharam isso esquisito, o fato de ele ficar muito no quarto trancado. As coisas que foram encontradas no meu quarto, que são consideradas estranhas, pegaram livros de artes marciais, sempre gostei muito de esportes e sempre fiz muito esporte. Sempre gostei da sétima arte e sempre tive muita coisa de filmes, tinha cartaz de um filme "O Corvo" que não tem nada a ver com o RPG.

Você sabia jogar RPG?

Nunca tinha jogado. Não sabia jogar, me relacionaram com o RPG por gostar de cinema e com filme, tinha um cartaz do "O Corvo" em casa e ligaram isso ao RPG. O fato de ter entrado o RPG é estranho. Cria uma história, polêmica e chama a atenção. Percebemos nesses quase oito anos que essas pessoas (policiais) queriam chamar muito a atenção, para aproveitar o fato e cresceram. Isso contribuiu para ficarmos mal na história.

Vocês conseguiram ficar em Ouro Preto depois da história?

Muito tempo, eu e o Maicon (o outro suspeito).

Mas sofreu algum tipo de retaliação?

Sempre, muita. A cidade é pequena. Sempre tivemos muitos problemas, mas mesmo assim ficamos, gostávamos da universidade, gostaríamos de continuar fazendo o curso, gostávamos muito das pessoas que estavam próximas de nós, o círculo artístico, as pessoas que vão lá são maravilhosas, não sou mais da área, mas amo a área e continuo frequentando esses círculos. Amávamos as pessoas e elas gostavam da gente, tiveram momentos que foram feitas manifestações quando estávamos presos.

Você ficou preso quantos dias?

Seis dias. Na época da investigação tentaram buscar várias coisas e tentaram de tudo para considerar como prova e incriminar a gente, tentaram buscar essa coisa da fita, que é um absurdo. Buscaram livros que foram encontrados.

Tinha alguma coisa de ritual de magia negra?

Éramos cinco moradores na casa, dois estavam viajando e nós estávamos na cidade. A casa é muito grande e precisávamos de mais moradores para arcar com as despesas da casa. Nós sempre fazíamos propaganda dizendo que tínhamos vagas. Então tinham várias pessoas que estavam chegando na cidade, que tinham feito vestibular e iam começar e passaram pela nossa casa e se interessavam em ficar lá. Então várias pessoas passaram e deixaram coisas lá, inclusive um cara de Andradas, um mineiro, esse sim era jogador de RPG, passou pela nossa casa e se interessou em ficar. Mas voltou para a cidade dele pois a universidade estava em greve e deixou várias coisas dele. Entre essas coisas, tinham livros de RPG, não sei quantos e nem quais são, porque a gente só ficou sabendo disso muito tempo depois. Por causa da confusão, ele acabou não voltando para a república. A gente ouviu ter recolhido livros de RPG, mas de onde? Os meus eram livros de artes marciais, o do Maicon eram partituras e tinha um outro livro lá que era relacionado ao RPG, mas não era o jogo, contava história da humanidade. A gente só ficou sabendo depois. Várias coisinhas que foram acontecendo que formaram uma rede que nos prejudicaram no final. Dá a impressão que são armadas, e que de certa forma, deixaram o nosso lado negativo.

Você consegue tocar sua vida normalmente?

Consigo dormir muito bem todas as noites. Uma coisa que eles tiraram da gente, digamos assim, foi um certo sossego em levar a nossa vida normal, mas a nossa consciência limpa eles não tiraram e não vão tirar nunca. Estamos tranquilos, todo mundo trabalha e estuda, está seguindo a vida normal. O que tem atrapalhado é esse fato de termos que comparecer aqui (Ouro Preto), a gente perde dia de trabalho e de estudo. A gente também fica preocupado com a família, os gastos também são imensos pois seguimos nossas vidas em outros Estados. É muito difícil esse tipo de coisa e ficamos abalados. Porque inocentes tem que pagar por um erro da Justiça, incompetência da polícia ou vontade de alguns quererem se beneficiar dessa história? É muito complicado.

Sua saída de Ouro Preto para São Paulo foi por causa disso?

Não, saí da música por não ter mais interesse em ser profissional da área. Trabalhei em muitas outras áreas e busquei meu caminho. É claro que jovem tive que passar por muita coisa, trabalhar com muita coisa, cada um tem seu tempo para achar o seu caminho. Hoje, trabalho em uma área super legal, moro em um lugar legal e interessante. Sigo a minha vida normal, durmo muito bem todas as noites. Mas esse fato de ter que aparecer, dar satisfação por uma coisa que não cometemos...Somos inocentes. Criaram provas em cima de coisas absurdas que não foram comprovadas e não quiseram ouvir e nem dar atenção, só para o que é negativo.

Vocês usaram drogas?

Cassiano:
Nunca fui fã de drogas, inclui bebida e cigarro. O que me faz bem é esporte, adoro musculação e natação e isso não combina. Houve um comentário que eu chegava a noite sem camisa? Eu adorava ficar sem camisa, praticava esportes demais, tinha um corpo que queria mostrar, era super mulherengo, o que tem de estranho ficar sem camisa? Nessa festa não lembro de ter bebido nada

Edson: Beber eu bebi, mas nada que me tirava fora da cabeça. Foi só bebida mesmo.

E a história da fita relacionada pelo Ministério Público nos autos?

Essa fita, com um áudio em voz feminina, falava em sangue, em mãos sujas de sangue. Essa fita como muitas das outras coisas foram justificadas, todas as coisas ficaram claras do porquê estavam ali e quem era proprietários. Trabalhávamos com música e adorava fazer trilha sonora e queria trabalhar com isso. A fita foi um texto de um evento que teve na cidade, feito por uma menina de São Paulo e a irmã dela era estudante de artes cênicas na Ufop e era atriz. Ela pegou esse texto para fazer um monólogo do evento e fui chamado para fazer a trilha sonora. Era para o MoMu (festival). A intenção era unir o pessoal da música e das artes cênicas.

Qual sua expectativa para o dia 1º de julho (novo julgamento)?

Tenho certeza que vamos terminar essa história nesse ano e vamos trazer a verdade à tona e o caso será finalizado com a verdade e com a Justiça sendo feita, que os inocentes, que no caso somos nós, seremos realmente demonstrados em público. Não há nada de errado, éramos estudantes. Usávamos jeans, camisa preta e cabelo comprido e isso não é crime. Tenho certeza que vamos finalizar essa história. Não há nada que comprove que nós fizemos isso e somos inocentes mesmo, não tem nada que comprove isso.

E como vocês descrevem suas posturas no julgamento da última segunda?

Quando está numa situação dessas, não importa a postura que você tem ali, é sempre considerada negativa. Então, se nós entrássemos de cabeça baixa e chorando, o que seria comentado? Os condenados estão sentindo o martelo (da Justiça). Se entrássemos com cabeça erguida encarando a situação e fazendo o possível para nos mantermos fortes, o comentário seria esse mesmo, que eles são irônicos, cínicos. Estão rindo da Justiça. Achamos melhor entrar de cabeça erguida, firmes, não devemos nada e vamos entrar de cabeça firme. Qualquer reação, as pessoas vão comentar. E vamos nos manter firmes sempre até o fim, não devemos nada à Justiça.

Porque esperar quase 8 anos para falar?

Cassiano:
Essa questão é simples. Não queríamos na época expor nossa imagem, nomes, expor endereço. Queríamos o máximo de discrição pelo fato de isso prejudicar o nosso trabalho. Quanto mais você se expõe, mas você é prejudicado no trabalho, meio profissional e relacionamento. Fomos discretos para continuar seguindo nossas vidas. Se tivéssemos entrado de frente, esses oito anos teriam sido mais difíceis. O pouco que conseguimos profissionalmente graças à essa história toda, se tivéssemos colocado mais à tona, a gente teria conseguido muito menos e teria feito a família sofrer muito mais. Só que agora que estamos vendo que está no fim da história e que a Justiça virá à tona, queremos mostrar que estamos de consciência tranquila e com expectativa boa para finalizar isso.

Edson: Tenho que lembrar que fui ameaçado de morte. Eu poderia tomar um tiro em qualquer lugar se aparecesse demais.

Hoje vocês quatro se falam?

Edson:
Normalmente não. A gente está muito longe e a parte de comunicação seria mais via Internet, mas a gente não tinha o e-mail um do outro. Mas toda a vez que a gente se vê é como se fosse da mesma forma.

Cassiano: Na medida do possível a gente se comunica. As famílias se conheceram e ficaram muito amigas. Elas compartilharam um sofrimento grande. Na medida do possível a gente se comunica. Cada um mora em um Estado.

Há quanto tempo você mora no Estado de são Paulo?

Cassiano: Em São Paulo, moro lá há alguns meses, tem pouco tempo. Só fui para lá por ter recebido uma proposta de emprego.

A reportagem tentou entrar em contato com os outros dois acusados, mas não obteve sucesso.

Perfil
Nome
Edson Poloni Lobo de Aguiar
Idade
27
Residência
Vitória (ES)
Formação
Graduado em comunicação social.
Trabalha como produtor cultural e vendedor em um shopping.

Nome
Cassiano Inácio Garcia
Idade
27
Residência
Estado de SP
Formação
Estuda para fazer vestibular no final deste ano. Pretende cursar ciências biológicas, área na qual trabalha.

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.