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Aeroporto Carlos Prates: 'Como se tira 120 aviões em 10 dias?', diz associação

Concessionários demonstram indignação após serem notificados sobre a desocupação do aeródromo até o fim do mês

Por Gabriel Rezende
Publicado em 20 de março de 2023 | 19:05
 
 
Helicóptero Pegasus da Polícia Militar de Minas Gerais em manutenção no aeroporto Carlos Prates Foto: Alencar da Silveira Júnior / Divulgação

Mais de 120 aeronaves — algumas desmontadas e em manutenção — devem ser retiradas do aeroporto Carlos Prates, região Noroeste de Belo Horizonte, até 1º de abril, prevê notificação emitida pela Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) e recebida nesta segunda-feira (20) por concessionários do aeródromo. Do contrário, os bens serão considerados “abandonados”. A decisão foi recebida com “completa indignação” pela Associação Voa Prates. 

“Isso é uma palhaçada. Temos aeronaves em manutenção, sem motor. Como se tira 120 aviões em 10 dias? Não é tempo suficiente para fazer uma manutenção. Não se muda uma empresa de lugar nesse tempo", afirmou o presidente da Associação Voa Prates, Estevan Velásquez. Entre as aeronaves, estão helicópteros da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) que precisam de reparos.

Segundo Velásquez, o aeródromo é responsável por mais de 500 empregos diretos, além de 500 alunos em formação — a maioria deles (alunos) faz o curso por meio de financiamento estudantil. "Tem aluno me ligando chorando porque está endividado e não sabe o que vai fazer da vida", prosseguiu.

Ele considera a decisão de desocupação do aeródromo "populista", tomada no "calor da emoção" devido ao acidente do último dia 11, quando um avião caiu em uma casa no bairro Jardim Montanhês, região Noroeste da capital mineira. O piloto morreu e a filha dele precisou ser internada em estado grave. 

"É um aproveitamento populista, no calor de um momento, que se aproveita dessa retórica. Tomam decisões desreguladas, sem ideia da repercussão. São 15 empresas com 10 dias para conseguir ir para algum lugar. A regulamentação demora. Não é tempo suficiente. São aeronaves que 'moram' aqui, e não ficam indo e vindo", comentou. 

Velásquez também afirmou que o aeroporto da Pampulha não possui capacidade para abrigar as escolas de aviação presentes no Carlos Prates, tampouco as aeronaves. Segundo ele, a transferência inviabilizaria pousos e decolagens no aeródromo da Pampulha. "Precisamos de uma solução, de um lugar para ir. Nós não temos respostas. Não há diálogo", afirmou. 

Após a emissão na notificação por parte da Infraero, os concessionários receberam apoio do deputado estadual Alencar da Silveira Júnior (PDT). O parlamentar endossou o coro de que o tempo é insuficiente para retirar as aeronaves. O político também disse que irá levar o tema a debate na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). 

O deputado estadual Alencar da Silveira Júnior (PDT) esteve no aeroporto Carlos Prates nesta segunda (20). Ele mostrou várias aeronaves desmontadas dentro do aeródromo. Conforme determinação da Infraero, todos os equipamentos devem ser retirados do local até o dia 31/03. pic.twitter.com/KXgTE28RHC

— O Tempo (@otempo) March 20, 2023

A reportagem perguntou para a Infraero sobre os questionamentos apresentados pela Associação Voa Prates com relação ao prazo para desocupação do aeródromo e aguarda retorno. O governo de Minas e a PMMG também foram questionados sobre as aeronaves da corporação que estão no local para manutenção. A matéria será atualizada quando houver um retorno. 

Entrega para a Prefeitura de BH

A desocupação do aeroporto visa avançar a entrega do espaço para a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). No último dia 14, o Executivo municipal formalizou o pedido à União de doação do terreno. O próximo passo é a emissão de um documento, por parte da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), chamado Notam — abreviação para "Notice to Airman", "aviso aos aviadores", em tradução para o português. 

A partir dele, a prefeitura pode começar a realizar intervenções, como o cercamento, vigilância com a participação da Guarda Municipal e o início da arborização de parte do terreno. As conversas para resolução da destinação do aeroporto na capital começaram em janeiro. A PBH apresentou um projeto social para o local: construção de cerca de 2 mil casas populares, um parque e um polo industrial.