Operação

Agentes penitenciários de Uberaba denunciam regalias de criminosos

Funcionários da Penitenciária Professor Aluizio Ignácio Oliveira decidiram endurecer as regras de visitação, neste sábado (19), e receberam ameaças

Sáb, 19/08/17 - 19h50

“Paz, justiça e liberdade” é o grito conhecido como oração da facção criminosa PCC que os agentes penitenciários de Uberaba relatam ouvir todos os dias durante o banho de sol, sem poder repreender os detentos. Eles alegam que os criminosos dominam o presídio, conquistaram uma série de regalias e ameaçam qualquer profissional que tenta enquadrá-los dentro das regras. Somente neste ano, três agentes foram alvos de ataques a tiros.

O último foi no início deste mês e a vítima teve morte cerebral confirmada nesta semana. Revoltados com a situação, os agentes da Penitenciária Professor Aluizio Ignácio Oliveira decidiram endurecer as regras de visitação, neste sábado (19), e receberam ameaças até das visitas. O temor deles é que diante da ação, haja uma rebelião. Já a Secretaria de Administração Prisional (Seap) nega qualquer irregularidade no presídio.

Segundo o secretário do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Triângulo e Alto Paranaíba, Volney Josué, a situação na penitenciária de Uberaba se arrasta há anos, mas agora se tornou insustentável. Ele afirma que há falhas na revista, que a unidade não conta com Body Scan (equipamento de raio-x) nem balança para controlar a quantidade de comida. Relata ainda que as visitas são feitas com as celas abertas, com total ausência de controle dos visitantes que podem entrar em qualquer local, o que tem permitido até mesmo prostituição dentro da unidade. “Quem controla o presídio é o PCC. Eu já fui ameaçado por repreender um preso que fez de um local inadequado um varal. Fui ameaçado de morte, fiz boletim de ocorrência. Outros agentes já comunicaram problemas semelhantes, mas nenhum preso é punido pela diretoria. É difícil trabalhar com essa insegurança”, afirmou.

A reportagem teve acesso a um dos comunicados de ameaça a agentes enviados à diretoria da unidade. O documento relata que o preso teria ameaçado de morte o agente e afirmado que a facção domina o presídio. “O Comando não vai aceitar opressão desses agentes da equipe de sol, a cadeia aqui é do PCC e os presos são meus seguidores, se eu mandar quebrar eles quebram, se eu mandar matar eles matam, e se esses agentes da equipe de sol ficar oprimindo o crime aqui dentro, e vou mandar meter bala em vocês lá na rua”, diz o texto. A ameaça teria sido feita no dia 19 de julho deste ano e teria sido feita por um dos líderes do PCC na cadeia, depois que ele se recusou a seguir o procedimento de ficar sentados no fundo do pátio, durante a retirada dos detentos durante o banho de sol.

Segundo Josué, somente neste ano, foram três agentes penitenciários alvo de tentativa de assassinato em Uberaba. Um em abril, outro em julho e o terceiro em agosto. Nos primeiros dois casos, os agentes sobreviveram, mas estão afastados até hoje devido aos ferimentos. No caso mais recente, o agente Márcio Erli do Carmo Ferreira teve morte cerebral confirmada. Diante da confirmação da morte, os agentes decidiram fazer a visitação com as celas fechadas e com rígida revista.

O secretário da Associação Mineira Dos Agentes E Servidores Prisionais, Luiz Gelada, afirma que já houve ameaças contra agentes na fila dos visitantes. “Já chegaram relatos de familiares de detentos dizendo que irão no velório dos agentes que estão trabalhando hoje. Como a facção domina o presídio. É muito provável que haverá uma tentativa de rebelião na unidade.

Os agentes cobram uma postura do secretário de Estado de Administração Prisional, Francisco Kupidlowski, que durante uma solenidade de entrega de viaturas prometeu que se tivesse algum arranhão contra servidores da secretaria suspenderia às visitas nas unidades prisionais por um mês.
A Seap informou que as visitas realizadas ontem na penitenciária ocorreram “dentro da normalidade e sem incidentes”. Quanto aos crimes contra os agentes penitenciários, a pasta informou que “acompanha junto à Polícia Civil o andamento das investigações e confia no trabalho da polícia judiciária na elucidação dos casos”. Por fim, a Seap declarou que apura qualquer denúncia que recebe.

Em janeiro deste ano, O TEMPO mostrou em uma série de reportagens que os presídios do Triângulo eram a porta de entrada de líderes do PCC nos sistema prisional do Estado. Na ocasião, a denúncia mostrava que membros do alto escalão da facção estavam forçando a prisão em cidades do triângulo para batizar membros para o grupo criminoso dentro das unidades prisionais da região. A reportagem mostrou que eles já respondiam por 20% dos detentos de oito penitenciárias da região.

Mais queixas

Outra reclamação dos agentes penitenciários é que a penitenciária Professor Aloisio Inácio Oliveira, em Uberaba, está há quatro anos sem o Grupo de Intervenção Rápida (GIR). Esse é um grupamento especializado que há em todas unidades de grande porte do estado, com a função de agir em princípios de motins e rebeliões, com uso de armamento não letal, para tomar o controle da unidade. “Acreditamos que essa decisão partiu da diretoria para atender uma reivindicação dos líderes do PCC. Recebemos uma informação que está havendo nesse período um treinamento para o Grupo de Intervenção Rápida em todo Estado, e que a diretoria da unidade de Uberaba não solicitou esse treinamento junto à Seap”, afirmou o secretário da Associação Mineira Dos Agentes E Servidores Prisionais, Luiz Gelada.

O secretário do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Triângulo e Alto Paranaíba, Volney Josué, afirma ainda que não há realização de revistas gerais nas celas e nem mesmo a vistoria chamada de bate-cela, que é quando os agentes percorrem as estruturas para certificar que não há nenhuma escavação de buracos ou tentativa de cerrar barras da portão. “Eu nem me lembro a última vez que houve uma revista geral. Eu lhe garanto que se houver, irão encontrar celulares e drogas em praticamente todas as celas da penitenciária”, diz.
 
Ele defende que um intervenção administrativa do Comando de Operações Especiais (COPE), para ficar um tempo a frente do presídio pra regularizar a situação e por fim às regalias. 

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