Pedro I

Alterações não impedem erro

Projeto do viaduto Batalha dos Guararapes sofreu várias mudanças, mas ninguém conseguiu detectar falha

Dom, 14/09/14 - 00h00
Demolição. Alça norte ganhou tela para evitar que destroços sejam arremessados durante implosão | Foto: Alex de Jesus

O projeto do viaduto Batalha dos Guararapes, na avenida Pedro I, em Venda Nova, na capital, foi entregue à Prefeitura de Belo Horizonte três anos (2010) antes do início da obra. Nesse tempo, o próprio projetista realizou atualizações, revisões e alterações, algumas à pedido da construtora Cowan, que executou a obra. Além dos 87 desenhos iniciais, foram feitos mais 27. Mas nenhuma das sete pessoas que assinam o projeto nem o executor foram capazes de identificar o erro entre aquelas muitas folhas, que provocou, no último dia 3 de julho, a queda da alça sul do elevado. Tanta falta de atenção resultará na primeira grande implosão de uma estrutura na capital, hoje, às 9h.

A Cowan recomendou que ele fosse demolido 20 dias depois da tragédia. Já a Consol, que o projetou, queria manter o elevado de pé para comprovar os erros de execução. E, segundo a projetista, foram pelo menos cinco problemas, detectados mesmo após fazer as alterações solicitadas pela construtora.

“Depois que entregamos o projeto para a prefeitura, fizemos revisões. A última foi entregue em março de 2013. A construtora pediu alterações no sistema de protensão (aplicação de forças), entre outras coisas, e incluimos 27 desenhos”, explicou Maurício de Lana, diretor da Consol. De acordo com ele, ainda assim, a Cowan executou um viaduto diferente do projetado. “Eles (funcionários da construtora) fizeram 42 aberturas no tabuleiro que não estavam previstas e enfraqueceram a estrutura”, completou Lana.

Os problemas ocorridos durante a obra constam no laudo oficial do Instituto de Criminalística da Polícia Civil, entregue no dia 3 deste mês ao delegado Hugo e Silva, responsável por investigar o caso. Apesar de considerar que erros executivos contribuíram para a queda do elevado, a perícia indica como principal causa os erros na memória de cálculo do projeto, que dimensionou muito menos aço que o necessário no bloco.

Engenheiros especialistas em estrutura de concreto da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) afirmam que faltou cerca de 85% de ferragem para que o bloco transferisse igualmente a carga do viaduto para as estacas na fundação.

A altura do bloco também teria sido um fator decisivo nessa quantidade reduzida de ferro. Projetistas que analisaram o caso afirmaram que ele tinha que ter o dobro do tamanho (era 2 m e deveria ser 4 m) para precisar de uma armadura menor. “A impressão que sem tem é que o desenho com essas especificações não voltou para o projetista verificar”, destacou o engenheiro Nelson Lima, que escreveu um livro sobre acidentes estruturais no Rio de Janeiro. Encarregado.

A falha é considerada tão grosseira que muitos afirmaram que o engenheiro da obra veria que o bloco estava muito fraco durante a armação dele. Mas, na prática, engenheiros ouvidos pela reportagem afirmam que quem fica por conta de olhar detalhes no dia a dia da execução de uma obra é o encarregado geral, que geralmente é um profissional sem curso superior, mas de confiança do engenheiro responsável. Havia também o encarregado de armação, que também não identificou a falta de material.

Sem resposta

Silêncio. Procurada diversas vezes para esclarecer questões como a verificação do projeto e a fiscalização, a prefeitura não respondeu a nenhuma pergunta.

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