Mau cheiro e doenças

Atingido por rejeitos em Brumadinho ainda se recuperava

Eleno Damasceno ainda estava se recuperando de uma enchente, no fim de 2018, que devastou sua casa; agora, ele não quer que esposa e filhos retornem para casa

Por Fransciny Alves
Publicado em 29 de janeiro de 2019 | 09:57
 
 
Eleno Rocha Damasceno perdeu tudo em uma enchente no fim do ano passado; agora, ele não quer que a família retorne mais ao lar, com medo dos rejeitos da barragem I da mina Córrego do Feijão Foto: Alex de Jesus

"Faz apenas um ano e 45 dias que a gente teve que recomeçar tudo e agora está desandando de novo”, conta o funcionário público, Eleno Rocha Damasceno, de 34 anos, que no final de 2018 viu todos os pertences serem levados por uma enchente e, agora, mora em uma casa, recém-construída, no Parque da Cachoeira, um dos locais mais atingidos pelo rompimento da barragem I da mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte. 

Quando morava no bairro Pires, também em Brumadinho, a casa dele foi destruída por conta de uma tromba d'água que atingiu a residência. No local moravam ele, a mulher e os três filhos – de 13, de 10, e de 2 anos. “Desceu varrendo tudo, perdi tudo. Só ficou eu, a minha mulher e os meninos. Temos que agarrar com Deus porque só ele dá força pra gente”, disse. 

Com a família de férias, o funcionário público está sozinho na nova casa, de seis cômodos, e que faltava poucos acabamentos para ficar totalmente pronta. Ele é enfático ao dizer que não quer que a família volte para o local, já que está receoso que a lama atinja a sua casa, que fica a menos de 500 metros do final de uma rua invadida pelos rejeitos que acabou arrastando, pelo menos, 15 casas do bairro. 

“Eu não posso deixar eles voltarem aqui com mau cheiro, que já está começando, e com possibilidade de doença. Tem muita gente morta aqui. Eu estou aqui para evitar saques e tenho umas criações também”, contou. 

Amigos

Emocionado, ele afirma que não saber contabilizar quantos amigos, que trabalhavam na mineradora, estão desaparecidos por conta da tragédia: “Se a gente for contar, vamos ficar por um tempo”.