Denúncia

Atingidos dizem que Vale quer minerar em Barão de Cocais

Moradores da região estão reunindo documentos para comprovar interesse

Qui, 30/05/19 - 03h00
Queda. Talude norte da mina de Gongo Soco está se movimentando até 26,5 cm por dia e pode cair | Foto: Leonardo Benassatto/Reuters

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Moradores retirados de casa devido à ameaça de ruptura da barragem Sul Superior do complexo minerário de Gongo Soco, em Barão de Cocais, na região Central de Minas Gerais, estão reunindo documentos que, segundo eles, atestam que a Vale tem interesse em minerar no território esvaziado por ela sob a justificativa de que as áreas podem ser atingidas pela lama. A denúncia foi levada à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), que vai pedir providências ao Ministério Público do Estado, conforme afirmou nesta quarta-feira (29) a deputada estadual Leninha (PT), que preside o colegiado.

O temor das famílias é que a empresa tenha agido de má-fé ao retirar 443 pessoas da zona de autossalvamento e que, por trás da medida, haja interesse em facilitar a compra dos terrenos. O comerciante Geraldo Leal, 57, desconfia que a Vale tenha encontrado um reservatório mineral com potencial de exploração na região e que esteja omitindo a informação dos moradores e autoridades, como ocorreu com as áreas atingidas pela lama da barragem I da mina de Córrego do Feijão, que se rompeu em Brumadinho, na região metropolitana.

Leal e ao menos outros dois moradores da comunidade de Gongo Soco guardam documentos de 2011 e 2012 em que a Vale solicitava autorização para realizar “estudos espeleológicos e de identificação de cavidades” nas áreas. Mas o que chamou a atenção dos proprietários foi o fato de os pedidos terem sido assinados por funcionários do setor de planejamento de aquisições de terra da mineradora. “Não tenho dúvidas de que ela (a Vale) achou alguma coisa”, acredita o comerciante.

“Essas denúncias são gravíssimas. Se a Vale está fazendo isso, é mais um crime que ela está cometendo com essas pessoas e com o meio ambiente. Só quem esteve em Barão de Cocais sabe da dor e do sofrimento das famílias”, afirma a deputada Leninha.

Perigo

A barragem Sul Superior está em nível máximo na classificação de risco e é monitorada 24 horas por dia. A movimentação do talude norte da mina de Gongo Soco, que ameaça a estrutura do reservatório de rejeitos, chegou, nesta quarta-feira, a 26,5 cm por dia em alguns pontos.

Diante da ameaça de que a queda do paredão provoque o colapso do reservatório, a Vale mantém suspensa a circulação do trem de passageiros na região. Usuários que partem de BH devem seguir de ônibus até a estação Dois Irmãos, em Barão de Cocais. Somente lá é feito o embarque no trem.

Resposta

Vale. Por meio de nota, a mineradora esclareceu que estudos geológicos fazem parte do escopo da atividade minerária. A empresa ainda afirmou que “não tem interesse em minerar na região”.

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